11 - Ressaca Alheia

6 1 0
                                    

    Estava em sono pesado, e meus ombros ainda estavam parcialmente doloridos por causa da festa na noite passada, por mais que não pareça eu fiquei a noite toda dançando com meus amigos e criando os passos mais malucos que se poderia imaginar e olha que tendo em consideração as pessoas que eu ando, chamar de maluco não é coisa pouca. Senti algo batendo com força nas minhas costas e fazendo peso sobre elas, na hora eu tomei um susto e meu reflexo me fez se afastar, até que me lembrei de que o Paulo estava deitado do meu lado e que aquilo seria o braço dele, como seu sono ainda estava muito pesado tive então uma ideia no mínimo maldosa, corri para o banheiro do meu quarto e conectei o meu celular no rádio que ficava em meu quarto, abri o YouTube e selecionei um vídeo que tocava um alerta de armas químicas e aumentei o máximo que pude.

    Quando dei um play na música o Paulo tomou um susto daqueles que acabou caindo no chão ao lado da cama, então eu corri para abrir as janelas do quarto e deixar a luz do dia entrar naquele ambiente deixando-o claro e iluminado.

    -BOM DIA! - Gritei.

    -QUAL É O SEU PROBLEMA? - Gritou retrucando a saudação enquanto se cobria com o meu edredom para tapar a luz do sol que já o incomodava.

    -Nossa Paulo, isso foi um bom dia muito animado - Então eu puxei o edredom de cima dele que estava rindo igual uma criança - E você gostou vai - Estendi a mão para que ele se levantasse - E cá entre nós, isso é pra você aprender a parar de beber.

    -Ah sim claro - Ironizou - Muito obrigado por evitar a morte do meus rins causando a morte do meu coração.

   -Você acabou de matar a biologia - O corrigi - Seria a morte do seu fígado!

    -Dá no mesmo! - E voltou a rir - Onde eu deixei a minha calça? Alias eu nem me lembro de vir pra cá, mas isso evitou a minha morte até porque...

    -Sua mãe estaria estudando o céu essa hora - Continuei a história que foi confirmada por ele - Sua calça deve ter caído em baixo da cama - Indiquei com o dedo - Depois escova os dentes, ou pega uma bala na gaveta do rack porque você está com um cheiro até fraco de álcool, vou estar te esperando lá em baixo.

    Ele foi separando as roupas dele enquanto eu desci pra tomar café, por ser domingo hoje meus pais faziam um café da manhã mais reforçado (com frutas da feira, já imaginaram minha felicidade né?), então já fui me sentando e minha mãe voltou com um suco de laranja recentemente terminado enquanto meu pai estava na varanda conversando no celular e rindo.

    -Lucas reparei um carro diferente estacionado aqui em frente de casa, você trouxe alguém? - Minha mãe me perguntou pegando uma maçã  e servindo-se do suco que trouxera pra mesa.

   -Ah sim um amigo meu veio pra cá o Paulo - Então eu pensei muito rápido numa maneira de improvisar uma história - Estava ficando tarde aí ele disse que me trazia de volta pra casa, e como ele estava cansado e mora um pouco longe pra ir sozinho naquele estado eu falei que ele poderia ficar aqui.

    Fiz a melhor cara de paisagem que pude quando ele apareceu na sala de jantar usando um óculos escuro enquanto segurava a própria cabeça, sorria um pouquinho de lado e se sentou na cadeira ao meu lado, então minha mãe começou a rir disfarçadamente e me olhou.

    -Ele bebeu e você trouxe ele pra dormir aqui em casa - Então pegou uma xícara sem esperar minha resposta colocou café nela e a entregou para o Paulo - Bebe, vai te ajudar a neutralizar os efeitos da sua ressaca.

    -Obrigado - Disse sem graça - Sua mãe é bem mente aberta né Lucas?

    -Meu marido sempre trás atores de ressaca pra casa - Nisso os olhos do Paulo devem ter se arregalado atrás dos óculos escuros - Aí de manhã faço um café paulista bem forte.

    -Atores? - Perguntou, então meu pai se sentou ao lado da minha mãe (provável que tenha ouvido a parte da ressaca), então o Paulo ficou realmente mais sem graça ainda - Diego Lima... Faz sentido trazer atores de ressaca então.

      -Sim, esses dias o Alberto que fez a novela das sete ficou bêbado no set de filmagem, descobrimos que ele estava tomando whisky de verdade ao invés de chá matte na cena - Ele riu disso - É bem normal.

    -Muito bom conhecer vocês - Falou enquanto bebia o café que a minha mãe havia feito.

    Mais tarde naquele dia nós ficamos conversando sobre música, o assunto que mais chama a atenção do Paulo, ele era o tipo de garoto que escuta qualquer tipo de música, independente da sua velocidade, origem, estilo, e nessa conversa eu já poderia criar uma playlist gigante no Spotify só de músicas que ele me indicou (algumas eu conhecia, mas o resto era tudo Indie e Folk). Almoçamos em casa e depois fomos caminhar na rua, acabei passando em frente a casa do Gustavo e conheci um pouquinho mais da região nova em que eu estava morando.

    Depois de andar por várias horas paramos em uma barraquinha de cachorro quente e nos sentamos para comer, o dia já estava começando a ficar escuro e as pessoas começavam a querer voltar pra casa.

    -Lucas eu queria te agradecer pela noite - Logo o vendedor de cachorros quentes o olhou torto e ele corrigiu - Digo, por me deixar dormir em sua casa, eu formulei errado.

    -Que isso cara, se precisar de mim você pode sempre pedir - Logo ele sorriu meio acanhado e começou a pensar.

    -Que tal irmos lá pra casa hoje? - Sugeriu - Aí pago a dívida, assistimos um filme e amanhã vamos juntos pra escola, o que acha?

     -Sério? Tipo assim do nada?

    -Você não tem nada a perder - E riu - Mas só se você quiser, claro.

    -Gostei da ideia, vou pegar minhas coisas em casa e avisar meus pais.

    Então pagamos e fomos para a minha casa, meus pais nem hesitaram em dizer que eu não poderia ir para a casa do Paulo, talvez eles já devessem imaginar que eu estava começando a criar amigos novos, afinal não faz realmente tanto tempo que nós nos mudamos, cerca de dois meses talvez? talvez até menos que isso pois nem o carnaval havia chegado ainda. Saí com uma muda de roupas e a mochila com o material para o dia seguinte, no carro o Paulo estava trocando mensagens com alguém e quando eu entrei ele colou o celular de forma errada no bando e eu pude ler claramente "Clara" que era ninguém mais que a melhor amiga dele. Então no caminho todo ele cantava as músicas que tocavam na 98.5 rádio metropolitana e eu me segurava pra não rir quando ele tentava tragicamente um inglês desconhecido. Paramos em frente a um portão elétrico e ele entrou com o carro, na garagem havia um outro carro.

    -Bem Luquinhas - Chamou minha atenção - Bem vindo a minha casa, não repara na bagunça!

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 21, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Folhas do OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora