ELYCIA- por trás das câmeras e da realidade.

"I want you..."

No percurso do bar até o hotel, achei que não fosse restar uma unha inteira, de tanto que eu roía. O taxista, muito gentil, ao puxar conversa tentava me distrair para que chegasse ao menos com dedos inteiros ao meu destino (observação útil, aliás). Ele me perguntou se a pessoa pela qual eu estava perdendo as unhas era realmente tão importante assim:

- Como você sabe que esta minha inquietação é por alguém?

- Menina, são anos fazendo linguagem corporal dos passageiros. Há muitas histórias, muito romance já contado neste banco traseiro. (Disse o motorista olhando pelo retrovisor)

- Eu acho que perdi a melhor semana da minha vida com alguém que eu estou perdidamente apaixonada. Eu busquei fazer o certo, eu achei que estava fazendo o certo, mas acabei estragando tudo. Eu me enganei. Eu desprezei quem eu mais deveria ter valorizado e....e.. agora ... agora... eu não sei... se ela vai me dar um segunda chance.... Eu acho que parei de respirar e... só vou encontrar fôlego no respirar dela...

- Ok, mocinha. Saber o que você realmente quer já é metade do caminho. Um conselho que sempre funciona. Enxugue as lágrimas, abra seu coração para a pessoa certa e não para qualquer um dirigindo um táxi nas ruas de Vancouver. (risos) Leve estas duas mini garrafas de champanhe que ganhei de um amigo hoje a tarde, eu levaria a minha esposa, mas acho que elas servirão muito mais para você. E espero que as aprecie muito bem acompanhada, se não for possível, tenha uma ótima noite de sono. Amanhã é um novo dia e você pode tentar acertar novamente. Chegamos.

Alycia estava no seu destino. Embora não quisesse as garrafas de presentes, a insistência e o carinho do taxista a fizeram aceitar o presente e, claro, os conselhos. Pagou a corrida, agradeceu novamente e seguiu para o quarto de Eliza.

**

Eliza chegou totalmente perturbada ao hotel, embora sempre tão educada, sequer deu boa noite ao recepcionista, ato que só foi notado quando ela bateu a porta do quarto. Jogou a bolsa em cima da mesa e buscou a garrafa de whisky intacta no bar. Preencheu o copo e tentou organizar seus pensamentos após um longo gole. Para não enlouquecer sozinha com seus próprios pensamentos usou pela primeira vez o som portátil do quarto e sintonizou na primeira rádio local.

"Então depois deste último dia de gravação com a Alycia e toda a tensão destas malditas cenas, ok, algumas benditas, eu estou novamente me questionando sobre o beijo que ela me deu, no hotel em Vancouver, ao final da segunda temporada; as promessas que ela fez no quarto em San Diego; os carinhos trocados nesta terceira temporada. O que você fez comigo Alycia? Droga! Droga! (Eliza acabou chutando a cadeira da mesa do quarto de hotel que estava a sua frente). Isso tudo não pode ter sido uma estratégia sua para que tivéssemos química em cena. Você nunca teve a intensão de terminar com ele... Você nunca quis ultrapassar os limites da amizade... Eu fui uma completa idiota... E eu não consigo odiá-la por isso! Eu preciso tirar você da minha cabeça! Eu preciso tirar você da minha vida!". Eliza repetia em voz alta como forma de convencer-se a si mesma do que devia ser feito.

Ela continuou se questionando de um lado para o outro do quarto. Para evitar qualquer fraqueza em atender uma possível chamada indesejada, desligou o celular. Na verdade, o ideal seria sair do hotel, daquele quarto, para ficar totalmente indisponível para Alycia, se é que viria atrás dela. Porém, caso aparecesse, com a ajuda do uísque ela colocara fim nesta história.

Naquele espaço era apenas ela, sua própria voz se torturando por tudo que se submeteu até então por conta dos sentimentos que há tanto tempo não dominavam sua vida e uma porcaria de rádio revivendo alguns clássicos dos anos 80/90. Em busca de alguma calmaria, optou por um banho em meios a mais pensamentos e, talvez, beber até adormecer. Afinal, de qualquer modo, amanhã com a partida dela, em definitivo, talvez ela pudesse voltar ser E.T. antes de ADC.