Namorada De Mentira(Degustação)

Quem?

      Acordei com um cheiro gostoso de misto quente, eu adoro.
- Bom dia dorminhoca! Ceci estava sentada ao lado da cama assistindo tv.
- Hum.Que cheirinho bom! Que horas são?
        Levantei e me recostei na cama dela. Depois que saímos da festa pegamos um táxi pois o Bryan estava muito bêbado para nos trazer . Então nós resolvemos que eu passaria o resto da noite no apartamento da Ceci, pois eu não teria condições de subir sozinha para o meu apartamento.
      Minha cabeça estava doendo muito, mas a fome era maior. Olhei para Ceci e vi que tinha outro misto no prato.
- Quase duas. Fiz um pra você. Disse me entregando o prato e apontando o suco de laranja com dois comprimidos que estavam na mesinha ao lado da cama.
     Peguei o prato colocando no colo e tomei os comprimidos com o suco.
- Já disse que te amo? Obrigada amiga, você é incrível.
- Mas nada é de graça! Falou ela com um sorriso travesso nos lábios.
-Eu não me esqueci que hoje é dia de sorvete. É tudo por minha conta. Vai valer cada centavo.Isso aqui tá uma delícia!
-Também, mas quero mesmo saber o nome do gato de ontem.
     Olhei pra ela dando mais uma mordida no misto.
     Droga!Sebastian! Assim que encontrei ela na saída da festa ela me perguntou e me lembro que não respondi o nome. Ela não ia esquecer aquele sumiço.
- Eu não sei do que você tá falando.
- Deixa disso Val. O cara que você sonhou a noite toda.
- Eu não sonhei com ninguém!
- Ah não! Então porque você pedia ele pra não pára o beijo.
- Eu não falei isso!
-Amiga sinto muito mas você sabe que conversa dormindo, ainda mais bêbada como você estava ontem. Disse ela rindo de mim.
      Infelizmente isso era verdade, vez ou outra eu acabava falando alguma coisa.
-Mas eu não fiquei mesmo com ninguém.
- Ah não? ? Então com quem você estava antes de eu te ligar? Ela me olhou.
Iii ferrou!
- Eu realmente não fiquei com ninguém. Falei enquanto dava mais uma mordida no sanduíche e bebida do suco, desviando assim de propósito dos olhos inquisidores de Ceci.
-Então porque você ficou falando que adorou o cheiro dele?
     Congelei! Era nisso que dava beber tanto, não conseguia me lembrar de nada depois que sair do quarto. Claro que eu me lembrava do Sebastian e do beijo gostoso que ele me deu, mas depois tudo ficava confuso.
-Anda Valery! Fala logo quem era o cara?
-Eu não disse?
-Não só dizia cretino! Quem é o cretino?
-Ah é só um cara que me beijou ontem, mas não rolou nada, você ligou.
     Falei me levantando e guardando o prato e o copo na pia da cozinha e assim fugindo do interrogatório. Mas ela não desistiu!
-Ah não acredito! Você podia ter me dito que estava ocupada. E ai vocês trocaram telefones? Qual o nome dele?
-Ah Ceci, era só um cara, e você sabe que prefiro nem saber o nome, fica mais fácil esquecer no outro dia.
      Peguei minha roupa e segui para o banheiro, queria que ela esquecesse aquilo, porque eu também queria esquecer que o cretino do Sebastian tinha me beijado. Tomei um banho e quando sai Ceci estava amarrando o lindo cabelo loiro lisinho em um rabo de cavalo.
     Ela era uma loira, alta, magra com olhos com de mel e um sorriso simpático. Nós nos conhecemos quando vim para Nova York a cinco anos atrás, conheci ela fazendo cursinho para o vestibular. Ela é daquelas pessoas simpáticas que conversam com todo mundo e como eu era muito tímida ela acabou se aproximando de mim.
      Na época eu era uma garota virgem, tímida, sem emprego, que dependia dos pais, morava em uma pensão, pois não tinha dinheiro para alugar um apartamento. A Ceci era bem de vida, o pai dela era advogado e eles tinham uma boa condição financeira. Então tudo quanto era festa a Ceci me arrastava, me produzia e me emprestava suas roupas.
     Minha família adora ela. Meu pai Philip Lewis sempre morou no haras, em Long Island cerca de uma hora e meia de Nova York. Ele só conheceu minha mãe porque ela veio fazer intercambio aqui e por acaso o carro que ela estava passeando quebrou bem próximo a entrada do haras, que na época era do meu avô.
       Minha mãe Helena Mendes é brasileira, e pareço muito com ela, só os olhos são do meu pai. Tenho um irmão Marcus, ele hoje é casado com a Lily e eles tem duas meninas lindas de quatro anos: Lana e Lara.
     Eles acabaram de investir em um bufê. A Lily é uma doceira de mão cheia, e o Marcus é um cara muito persistente que luta pelos seus sonhos.
-Ei vamos? Ainda tá sonhando com o Cretino?
-Já nem lembro dele! Falei abrindo um sorriso.
- Mentirosa! Ela disse e caímos as duas na risada.
     Encontramos o vizinho gato da Ceci, esperando o elevador.
-oi meninas!
-Oi Edu! Falamos em uníssonos e sorrimos para ele. Pensa num cara legal e bonito, era o Edu, além de ser bonito ele era muito educado. O elevador chegou e entramos os três.
-E ai como tá a Kelly? Perguntou a Ceci. O Edu continuou olhando para porta e respondeu com um tom de magoa.
-Tá ótima! Tá com outro! Ficamos super sem graça, ele namorava a Kelly a muito tempo 

-Sinto muito! Falou Ceci tentando concertar a mancada.

-Não tem problema, sorte a minha né? Falou ele saindo do elevador e nós o seguindo.

-É isso mesmo! Quando precisar de companhia é só convidar! Falei olhando bem nos olhos dele, ele abriu um sorriso, e eu também.
-Ok! Eu chamo, até mais garotas! Ele se afastou e seguimos para o ponto de ônibus.
-Você é louca Val?
-Ora porque? Ele é um gato e tá solteiro, que mal tem?
-Mas e o cara de ontem?
-Tá ai, você falou certo, de ontem. O de hoje ainda não achei. Nós rimos como duas bobas e entramos no ônibus.
     O shopping estava lotado, e depois de andar um monte Ceci acabou comprando blusas, e calcinhas, e me fazendo comprar duas calcinhas tão pequenas que era até melhor não usar nada. Nem sei porque aceitei, eu não estava querendo ninguém. E eu não lembrei do Sebastian tentando tirar uma calcinha daquela com as mãos dele em mim. AH Chega!
-E ai sorvete? Perguntei, seguindo para o caixa eletrônico.

-SIIIIIMMMM! Ceci adora sorvete, de qualquer coisa, não sei como uma pessoa que mora em Nova York, pode gostar tanto de sorvete o ano todo.
Saquei o dinheiro e olhei o saldo da minha conta US$ 634,43! Era isso! Era só isso!
-Nunca vou consegui meu intercambio! Falei totalmente desanimada.
-E não vai mesmo! Tudo que é curso de marketing você faz.
-Eu quero está pronta quando consegui um emprego na área, e esses cursos são importantes. Sentamos em uma mesa enquanto tomávamos o sorvete.
     Eu amava marketing e meu maior sonho era me mudar para Londres, eu queria muito ter condições de fazer um intercâmbio lá.
-E a carteira de motorista? Quando vai ser a prova? Perguntou a Ceci tomando outra colherada do sorvete.
-Semana que vem, mas nem adianta, não vou contar o dia, sempre dá azar. Falei fazendo um biquinho e rindo. Ceci revirou os olhos.
-Você e esses pressentimentos bobos, não entendo dá onde você tira isso.
-É só um sexto sentido, e nem sempre funciona.
-Sei! E aí vamos? Você não vai comprar nada mesmo? Ela perguntou.
-Não! Não posso estourar o cartão.    
       Seguimos para casa, Ceci refez o mesmo itinerário de antes, e eu segui de metrô por mais quatro estações.
      Eu escolhi meu apartamento por um milhão de motivos, e todos os dias eu tentava convencer a mim mesma que tinha sido a minha melhor ideia.
      Primeiro e mais importante: tinha uma banheira (minúscula, antiga, lascada) no meu banheiro, que eu amava. Amava chegar em casa e pegar uma boa taça de vinho ir para banheira e esquecer dos meus problemas.
      Segundo ficava a duas quadras do meu trabalho. Traduzindo: não pagava transporte, nem restaurante, e economizava dinheiro.
     Era todo pequeno, mas era meu cantinho, uma sala com cozinha, uma área de serviço que tinha o luxo de ter uma máquina de lavar e um quarto com cama de casal e guarda roupa.
     Metade do meu salário ia para o aluguel do apertamento (era assim que a Ceci chamava), a outra metade era dividida entre as contas de casa e a faculdade, o que sobrava( quase nada) ficava para os cursos extra curriculares.
      Cheguei em casa exausta tomei um banho rápido e fui para cama com a sensação de que o dia seguinte seria ótimo.
    Pena que era só sensação.