A proposta

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     Eu olhava para o celular abismado. Estava em meu escritório esperando o Bryan chegar quando resolvi ligar para ela.
       E aquela tampinha de garrafa, desligou na minha cara! Ninguém nunca desligou o telefone na minha cara.
     Eu tentei novamente querendo acreditar que a ligação tivesse caído, mas então ela desligou de novo.
     Eu olhava furioso para o celular tentando entender como um mulher podia desligar duas vezes na minha cara, quando o Bryan entrou.
- E aí namorador! Vamos almoçar?
Me levantei guardando o celular e pegando o paletó.
- Vamos.
- Ei? ? Você tá bem?
- Por que?
- Sei lá! parece que quer esganar alguém. Falou ele rindo.
Tentei disfarçar minha raiva, seguindo para o elevador.
- Coisas do trabalho.
-Olha eu convidei a Ceci para almoçar, ela está nos esperando naquele restaurante italiano perto do shopping do centro.
- Tudo bem.
     Eu sinceramente não tinha nada contra a Ceci, e talvez fosse uma boa sondar alguma coisa sobre a Val.
      Já na rua, caia uma garoa fria, então entramos no carro do Bryan.
- Sebastian você realmente não vai explicar o tal namoro com a Val?
Fiquei em alerta, será que ele tinha falado pra Ceci?
- Você contou alguma coisa para Ceci?
- Claro que não. Como vou contar uma coisa que nem sei? Mas quero entender. Você tá mesmo afim dela?
Perguntou ele completamente incrédulo.
     Tentei escolher as palavras com calma, ainda não tinha bolado essa parte de como explicar o namoro com ela.
- Bem nós nos beijamos no sábado e foi muito bom. Nós também conversamos e eu gostei de algumas coisas que ela disse. Pensei em talvez tentar algo sério com ela.
- SÉRIO?
- Não parece mas lá no fundo ela é uma pessoa legal. "Bem lá no fundo".pensei.
- Tudo bem amigo, se é o que você quer? Pode contar comigo. E ela também gostou de você?
- Ainda não sei, quero muito encontrar ela.
- Quem sabe a Ceci não pode ajudar?
- É talvez seja uma boa idéia.
     Entramos no restaurante e vimos a Ceci ao telefone, ela tentava falar com alguém.
- Droga! Por que ele não atende?
Bryan chegou por trás dando um selinho nela.
- Eu cheguei linda!Não precisa mais me ligar. Disse ele abrindo um sorriso besta na cara.
      "Tava apaixonado mesmo".pensei
Nos sentamos e a Ceci começou a falar como uma matraca, ela estava muito nervosa.
- A Val perdeu o emprego hoje e o pai dela está internado. Ela precisa de vinte e oito mil dólares. Mas não consigo falar com meus pais, eles estão em Chicago.  Ela precisa do valor pra hoje mas eu não tenho tudo. Acho que vou pro hospital ou será que eu devo ir pro banco? O gerente é amigo do meu pai. ....
      Enquanto ela falava percebi a oportunidade ali na minha frente.
-Eu resolvo, eu empresto o dinheiro. Em que hospital que ela tá? Bryan me empresta as chaves do carro? Liga para ela e pede pra me esperar na entrada do hospital.
      Ceci ligou para Val e confirmou o nome do hospital e a entrada em que ela estaria me esperando.
      Ainda na rua liguei para Andrea, para ela imprimir duas cópias do contrato que eu tinha preparado com o Thomas e que enviasse um talão de cheques para mim o mais rápido possível.
       Então entrei no carro e segui para o hospital, lembranças surgiram na minha mente.O hospital tinha sido onde minha mãe ficou internada algumas vezes. E a última vez que estive aqui foi com a minha avó em uma das crises de pânico.
        E aquilo tudo só reforçou minha decisão de que eu iria conseguir o que queria. Nem que para isso eu tivesse que obriga-la.
       Entrando na rua comecei a procurar um lugar para estacionar. Então vi ela, estava com os cabelos molhados presos num coque mal feito. o casaco estava aberto e o vestido molhado colava em seu corpo.
         Respirei fundo quando aquele par de olhos azuis me avistaram e neles vi o desagrado que minha presença causava nela. Era incrível como uma mulher que mal me conhecia tivesse tanta raiva de mim.
Mas eu ia dobrar ela, aquilo agora era uma questão de honra.
- Entra!
- Não enche Sebastian! Tô esperando alguém.
- Eu sei. Sou eu. Falei vendo ela se aproximar mais da janela do passageiro.
      Ela ficava linda molhada daquela jeito. Quando ela se debruçou sobre a janela aberta para falar comigo, tive que fazer um esforço descomunal para desviar os olhos do decote.
- Como assim ? Você vai me emprestar o dinheiro? Perguntou ela surpresa e desconfiada.
- Entra Valery! Vamos para um lugar reservado.
- Eu não vou transar com você por dinheiro Sebastian! Some daqui.
      Ela ficou possessa de raiva imaginando que queria só uma transa.
- Deixa de ser idiota, tenho uma proposta de trabalho. Entra.
- Ah bom, mas porque não podemos conversar aqui? Perguntou ela entrando no carro.
-Você tá com fome? Perguntei, manobrando o carro. Ela me olhou desconfiada, e eu sorrir da sua surpresa. Ela devia estar achando estranho eu ser gentil.
- Eu sempre tô com fome, mas não posso ir muito longe. Meu pai tem que fazer a cirurgia antes das das quatro da tarde.
- Por que? É grave?
-Na verdade é sim, ele tá correndo o risco de perder os movimentos do braço. E ai que proposta você tem pra mim? Na verdade eu preciso mesmo é do empréstimo.
        Continuei seguindo e achei um pequeno bistrô francês numa rua bem próxima ao hospital.
- Você gosta de comida francesa?
- Não sei, nunca comi. Mas se for comida eu como.
      Sorrir do jeito franco dela . Até agora essa tinha sido nossa conversa mais longa sem trocarmos insultos.
      Descemos do carro, e entramos no restaurante, estava quase vazio, então escolhi um mesa próximo a janela, assim poderia ver Andrea se aproximar. Mandei uma mensagem para ela enquanto um garçom vinha pegar nosso pedido.
- E aí o que vamos pedir?Eu não conheço nada aqui. Disse ela lendo o cardápio em francês.
      Ela tinha tirado o casaco e o garçom não tirava os olhos do decote dela.
-Eu gosto de gratin dauphinois com Parmentier de canard, o vinho um Petit Chablis. Pode ser?
       Perguntei a ela que me olhava de um jeito estranho, pareceu admiração.
- Tanto faz, não sei o que é.
-São batatas gratinadas e um pato ao molho. ..Ah esquece! ! Você vai gostar.
       O garçom voltou com a garrafa de vinho e nos serviu, se demorando mais que o necessário no copo dela.
- E então que emprego você tem para mim?
     Respirei fundo olhei nos olhos dela e fiz a pergunta.
- Quer ser minha namorada?
     Ela engasgou com o vinho, e me olhou como se não tivesse escutado direito.
- Como é que é?
- Você quer ser minha namorada de mentira?
- Sebastian eu não estou aqui pra você tirar sarro da minha cara . Meu pai está internado em estado grave e você vem fazer piada com meu desespero? Você é um cretino mesmo e quer saber bem feito que a Barbara não quis um idiota como você que não tem um pingo de sensibilidade.
Ela descarregou tudo e eu fiquei olhando como a boca dela era bonita .
      Ela se levantou com os olhos marejados de lágrimas. Segurei ela pelo braço e um arrepio passou pelo meu corpo se alojando na minha virilha, ela estava de lado para mim e eu tinha uma visão incrível da sua bunda. Engoli em seco tentei desviar os olhos.
- Valery...
    Fui salvo pela Andrea que acabava de entrar no restaurante e vinha em nossa direção.
- Aqui senhor Smith. Mais alguma coisa?
    Fui obrigado a soltar a Val e receber a pasta da mão da Andrea.
- Não . Obrigado . Pode ir.
     Andrea se virou e saiu do restaurante, olhei novamente para ela, eu tinha que conduzir aquela conversa como um negócio, não podia perder o foco.
-Valery por favor sente-se. O que eu estou falando é sério. Vamos conversar. Por favor deixa eu explicar. Você ainda nem me ouviu.
     Ela me olhou assustada e sua linda boca faz um pequeno O de surpresa, imagino por eu ter falado com educação com ela.
- Você não tá brincando? Falou voltando a se sentar.
Então nossa comida chegou.
- Por favor só escuta o que eu tenho a propor. Enquanto eu falo você come. ok?
     Ela já tinha começado a comer e só concordou com a cabeça.
-Val você lembra o que você me falou no sábado da festa?
     Ela levantou os olhos do prato e me olhou em desafio. Esperando que eu falasse alguma besteira sobre o beijo que roubei.
- Não! Não lembro de nada.
     Ela disse como se já estivesse repetido aquilo um monte de vezes. Sorrir para ela, e ela fechou mais a cara para mim.
      Era realmente impressionante o quanto ela me odiava. Abri mais o sorriso.
-Minha vó quer muito conhecer minha namorada, mas como não tenho nenhuma, me lembrei que você disse que se prestaria a esse papel caso eu pagasse bem. E eu vou te pagar muito bem. E então?
      Ela continuou a comer e sem olhar pra mim respondeu.
- Não!
     Como eu imaginei ela ia ser difícil de convencer.
- Eu ainda não falei o valor que vou te pagar.
       Ela tomou um gole de vinho enquanto fechava os olhos, meu pau cresceu ainda mais dentro da calça, ela ficava linda daquele jeito. Como se percebesse que eu estava observando ela abaixou a taça e voltou a comer.
- Eu não tô interessada em posar de namorada apaixonada de ninguém, muito menos sua. Coitada da sua vó, não devia enganar ela assim.
-Ela está doente e não pode passar por aborrecimentos. E então você vai aceitar?
      Ela continuou a comer, tinha um ótimo apetite e até agora estava indo tudo muito bem, ela ainda não tinha jogado nada em mim e nem entrado em uma discussão.
- Não! Você pode contratar uma profissional para isso ou mesmo pegar uma dessas meninas cabeça de vento com quem você sai e apresentar para sua vó, não precisa que seja eu . Além disso nós nos detestamos e eu não ia conseguir esconder isso por muito tempo. Quem teve essa idéia ridícula hen?
    Falou ela olhando para mim e rindo.
-Você!
- Eu não falei sério, além disso falei que você devia fazer ciúmes para Barbara e não mentir pra sua vó.       Disse ela se defendendo e terminando a taça de vinho.
- Sebastian eu preciso mesmo do dinheiro você vai me emprestar ou não? Ela disse isso olhando bem nos meus olhos, tentando colocar um fim na conversa.
- Não! Não sou banco pra fazer empréstimo. Quero te contratar para trabalhar pra mim.
- Então deixa eu ver se entendi, você me dá o dinheiro se eu falar pra sua vó que estamos juntos e tenho só que convencer a ela que você é um namorado legal. É isso?
-É justamente isso.
     Ela recostou na cadeira e olhou pra mim. O garçom apareceu retirando os pratos e oferecendo uma sobremesa, que recusamos. Pedi um café ao qual ela também aceitou, assim que o garçom nos serviu ela respondeu.
- Tudo bem. Quando você vai encontrar sua vó?
- No próximo domingo. Vamos almoçar com ela . Então você aceita?
- Hum. É só ir lá e fingir de namorada apaixonada. Depois você me deixa em paz, acho que posso fazer isso. Está errado enganar ela, mas a vó é sua. Falou ela dando de ombros.
- Mas não vai ser só um domingo, estou de contratando por três meses.
-Como assim? Você quer render essa mentira?
- Claro. Ela realmente tem que acreditar que é tudo verdade. Depois desse tempo você termina comigo e eu viajo com meus avós para curar meu coração partido. Falei dando um sorriso triunfante. Meu plano era perfeito.
Ela parecia estarrecida. E começou a rir.
- Não vejo onde tá a graça. Falei olhando sério, ela não se importou com meu olhar e continuou rindo.
-Isso não vai dar certo Sebastian! Mesmo que eu aceitasse ser sua namorada de mentira alguém poderia acabar contando pra ela. Ou pior as revistas de fofoca sempre postam fotos suas com outras mulheres como você ia controlar isso? Você não consegue segurar esse seu patinho dentro das calças.
       E então ela riu com mais vontade como se aquilo fosse uma piada.
- Mas quem disse que vou ter outras mulheres? Nosso namoro vai ser de verdade para todo mundo incluindo as revistas e jornais de fofocas, todo mundo vai acreditar que estamos juntos e apaixonados . É por isso que vou te pagar tão bem. Você vai cuidar da nossa imagem. Falei sério mostrando a ela que aquilo não era brincadeira.
- Quer dizer que você vai ficar três meses sem transar. E voltou a rir.
- Eu e você! Ela segurou o riso na hora.
-O que? Eu sem transar três meses? Sem chance.
- É mesmo? Não sabia desse seu fogo todo, mas fica tranquila que se você pedir com jeito posso te mostrar como meu "Patinho" funciona.
- Desse mal você não morre Sebastian eu nunca vou pedir pra transar com você.
       Ela falou com desprezo. Aquela conversa não estava indo para um lado bom. Eu estava ficando excitado só de pensar nas muitas maneiras de fazer ela implorar para gozar.
- Olha, olha nunca diga nunca. E então? Qual a sua resposta?
     Quando ela ia me responder o telefone tocou. Ela olhou e me pediu para esperar.
- Oi mãe! Tá tudo bem? ...Sei.....Entendo mãe. ...
      Ela continuou ouvindo e olhou para mim.
- Sim mãe eu consegui o dinheiro já estou indo, beijo.
     Então ela desligou e respirou fundo, olhou pela janela a garoa tinha aumentado para uma chuva mais persistente. Então ela se virou para mim, e não consegui ler o que estava em seus olhos, talvez decepção ou uma determinação foi muito rápido.
- Eu aceito Sebastian! Me dá o cheque. Disse ela com uma voz clara e firme. Ela era uma mulher forte.
         Peguei os documentos dentro da pasta e o talão de cheques.
-Com prazer, assina aqui e aqui.
-O que é isso?
-É um contrato de trabalho, isso é um negócio Valery e eu não brinco com dinheiro.
      Ela me olhou e pegou os papéis começando a assinar.
- Você não vai ler?
- Você vai mudar alguma coisa? Vai desistir?
- Não!
-Então não tem porque perder tempo. Aqui. Falou me entregando os documentos e a caneta.
- Aqui o cheque de trinta mil e um copia do contrato.
    Ela olhou para o cheque e respirou fundo, achei que ela ia chorar.
- Val é só um trabalho. Falei tentando amenizar a hostilidade que vinha dela.
- Por favor não conta pra ninguém . Ela pediu com tristeza na voz.
- Ninguém vai saber de nada. Eu te ligo.
- Não! Eu te ligo amanhã. Ela falou se levantando.
- Eu te levo. Ofereci, eu não conseguia controlar o sorriso de vitória em meu rosto. Ela começou a sair da mesa pegando a bolsa e o casaco.
- Não precisa!
     E saiu como um tiro pela porta entrando na chuva fria da rua.



Namorada De Mentira(Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora