três

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Lembra de quando você me viu tentar nadar, aquele dia? Minhas braçadas eram curtas de mais, você disse, por isso eu estava sempre afundando e afogando-me.

Sua roupa estava ensopada, seus braços me enlaçavam.

O mundo sempre se resumiu a você, à seus olhos ciano, ao azul de suas roupas, àquele tom de rosa que seus lábios possuem.

Meu homem azul, era assim que eu te chamava. Você odiava esse nome. Odiava e amava ao mesmo tempo.

Lembro de como brigamos na noite do baile, eu não era seu par, você não era o meu... Mas deveríamos ser par um do outro, era assim que deveria ser.

Você usava uma roupa elegante, mas meu vestido estava arruinado e a culpa era inteiramente sua. O ponche formou uma flor que escorria até a barra, o tecido estava mudando de cor.

Idiota, foi o que eu disse.

Me desculpe, você estava tentando ajudar, fazendo rolos com o papel toalha e implorando baixinho para que a mancha sumisse. Seus dedos seguravam o tule — vez ou outra roçando minha perna.

Nunca estive tão perto de te odiar quanto naquele dia. Mas você tem esse sorriso, esse sorriso que arranca sorrisos.

Eu sorri.

Foi belo e louco.

Eu estava suja, você não usava azul... Quantas vezes mais isso poderia acontecer? Aquela foi a única, a única vez em que você não vestia azul, a única vez em que eu estava completamente suja.

A música havia chegado ao banheiro, passando por entre as reentrâncias, as fissuras do teto, os filetes nas portas, dos poros nas paredes... Ou soava apenas em minha mente.

Seus olhos encontraram os meus, que ainda jazem nos teus...

Seus dedos tocaram meu rosto, os meus ainda não sabiam o que fazer.

Que doce lembrança essa, não?

Nosso primeiro beijo.

Foi lento como a música ao fundo, intenso como o momento pedia, doce... Doce como você.

Aquelas Borboletas EntorpecidasOnde histórias criam vida. Descubra agora