1 - Me preparando para a guerra

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Muitos se reúnem com os amigos ou familiares em um almoço de domingo e contam histórias do seu dia a dia — micos que sua família já te fez passar, comidas nojentas que já teve de provar, momentos constrangedores com a paquera e até brigas internas, as quais muitas vezes são melhores que novela mexicana. E ainda, depois das risadas, assistem a um filme imaginando como deve ser diferente a vida daqueles atores, com deve ser fácil. “Puta merda, que sorte eles tem, nunca passaram por um constrangimento”, vocês devem pensar.

Desculpem estragar seu argumento, mas eu compartilho essas histórias com meus amigos e familiares: a única diferença é que oitenta por cento deles são celebridades. E mesmo assim pagamos micos e temos de lutar pelo o que queremos.

— Sorria — diz Kristin Scorsone, minha mãe, no momento em que um fã a para. Estamos em um café, ela usa óculos de sol; pois diz que é sensível a luz e beberica um latte. Geralmente não encontramos muitos fãs nesse café, e isso o ajuda a se tornar o preferido da minha mãe. Eu não ligo, até que gosto da fama, de ser fotografada e de ir a eventos de alto patamar. Posso conhecer todos os famosos de quem eu sou fã e ainda jantar com eles. Não é maravilhoso?

— Kristin?! — a garota não acreditava que minha mãe era Kristin Scorsone mesmo. — Eu não acredito! — ela pula de euforia, outra coisa da qual eu gosto, já pensou em ter pessoas que ficam felizes em te ver? Só de te ver! Tá, tudo bem que ela ficou feliz em ver minha mãe, mas eu estava lá também no momento de sua felicidade, isso conta.

— Olá! — minha mãe sorri — Quer uma foto ou algum autógrafo? — ela pergunta, após colocar os óculos acima da cabeça e pegar uma caneta permanente na bolsa.

— Que tal os dois, mãe? — posso ver os olhos da menina brilharem de emoção e dou uma gargalhada, ela parecia que iria ter um ataque.
Aí meu Deus, e se ela tivesse um ataque? Já choraram, mas nunca se sabe o que está por vir.

— Só um minuto — a fã diz, enquanto procura algo na bolsa; imagino ser o celular, e minha mãe autografa sua camisa — Esse celular some nas horas mais inoportunas — ela fala, desesperada.

— Aqui, o meu — entrego meu celular a ela —, eu posto no instagram depois — ela pega meu celular, dando pulinhos de alegria, indo para o lado da minha mãe, que está na minha frente.

— Você não vai tirar a foto com a gente? — ela pergunta. Pode parecer bobo, mas é a primeira vez que um fã de um dos meus pais me pede para participar da foto e não tirá-la.

— Claro! — vou até o outro lado, deixando a fã no meio. Ela bate a foto e pego meu celular das suas mãos trêmulas — Tenho certeza que ficou ótima!
— Muito, muito, muito obrigada! — ela diz, se virando para a janela quando um carro começa a buzinar, fazendo um sinal de "espera" com as mãos — Vou te procurar no Instagram. Phoebe Raver, certo?

— Sim. — ela repete meu nome mais uma vez, memorizando, e se despede. Consigo vê-la entrando no carro conversando com um homem mais velho, que lhe entrega um café, e provavelmente é seu pai. Começo a pensar no que meu pai queria que eu falasse para a minha mãe — Falando em papai... — tento ir direto ao assunto.

— Não estávamos falando no seu pai, querida — diz minha mãe, folheando uma revista com os óculos de sol tampando seus olhos verdes, e amasso a toalha de mesa, nervosa —  Mas pode falar o que você quer me falar — ela fecha a revista e tira os óculos, me encarando.

— Então — respiro fundo e ela pisca algumas vezes —, papai foi chamado para fazer um filme — não a encaro, mas continuo a amarrotar a toalha de mesa com os dedos.

— E...? Não é como se ele nunca tivesse feito um filme antes — mamãe ri jogando seu corpo todo na cadeira, de forma que a cadeira vire uma espécie de balanço.

— Ele vai fazer par romântico com você, já que ambos já assinaram o contrato — falo, e ela volta a abrir a revista e a colocar os óculos de sol.

— Tanto faz, não vai ser como seu eu não conhecesse os seus beijos ou você sabe o quê — sim, eu sei, mas não queria saber — Vai querer um croissant? — pergunta, chamando o garçom. Meu pai disse que ela não aceitaria a situação e teria uma reação maluca; acho que ele se enganou, entretanto. Penso em aceitar, mas balanço a cabeça negando quando recebo uma mensagem.

— Obrigada, mãe, mas eu tenho de resolver um negócio — guardo o celular na bolsa enquanto ela me lança um olhar curioso — É a Ágape — mamãe volta a folhear a revista, indiferente. Não gosta nem um pouco de eu ter uma irmã, nem do fato de trabalhar com ela —  Mãe... — reclamo de sua indiferença.

— Você poderia estar dirigindo meus filmes, fazendo os roteiros, que é o que você gosta — ela enfatiza o "você" —, mas está vendendo sei lá o que online.

Não vou discutir, afinal, ela é minha mãe. Apenas lhe dou um beijo na cabeça e murmuro um "te amo", indo encontrar Ágape e o restante dos Raver. Logo aquele barulho da estrada perto do café e o cheiro de croassants saindo do forno foram substituídos por uma família barulhenta sentada na sala com uma espécie de gráfico de apresentação.

— O que é tudo isso? — pergunto, e logo Ágape vem ao meu encontro — Por que nossos tios estão aqui, e com os nossos primos? — ela me encara e faz um movimento com a cabeça apontando para a família; minha irmã nem precisa dar a resposta: O cheiro de comida queimando e nenhum empregado ajudando a minha madrasta a cuidar no meu irmão, Storge, me lembra de quem estava por vir e de que tenho que me preparar para a guerra. Nossa temida, amada e de quem todos queremos a aprovação: Georgia Raver, mais conhecida como vovó.

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⏰ Última atualização: Sep 09, 2016 ⏰

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