Capítulo 2

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↳Zayn

Eu e Liam nos entreolhamos enquanto Harry desaparecia apressadamente pelo corredor. Sua expressão era um pouco confusa e preocupada - não muito diferente da minha, suponho.

- Vá atrás dele - disse-lhe - Eu falo com Louis. - ele assentiu uma vez e saiu ao encalço de Harry.

Abri a porta devagar e me deparei com um Louis muito aborrecido e irritado, sentado no sofá, de costas para mim. Virou ligeiramente a cabeça em minha direção, o suficiente para me ver, e voltou a encarar a parede.

- Você estava escutando?

- Sim.

- Alguém mais ouviu?

- Acredito que não - respondi e ele suspirou, um pouco mais aliviado - Cara, eu...

- Está tudo bem, Zayn. Não se preocupe.

- Louis, talvez se...

- Está tudo bem. Preciso ficar sozinho um pouco, sim? Por favor.

Assenti e caminhei para a porta.

- Sinto muito - disse antes de sair e tive tempo de ouvi-lo murmurar "eu também" em resposta. Foi-se o tempo em que as coisas eram simples e harmônicas entre todos nós.

↳Liam

Segui Harry pelo hotel à uma distância segura, tomando cuidado para não invadir seu espaço - ele se torna muito reservado quando se sente abalado. Ele seguiu para o banheiro, que provavelmente estava cheio, porque saiu menos de um minuto depois. Tomou então as escadas, descendo para a academia, que estava fechada somente para nós cinco, provavelmente à pedido da Modest!, nossa administração. Empurrou a porta com força, vestiu as luvas e começou a golpear o saco de pancada. Assiti-o espancar aquilo por meia hora e depois levantar pesos por mais 15 minutos, sem derramar uma lágrima sequer. Esperei silenciosamente no sofá até que Harry finalmente cansou e sentou-se ao meu lado, as mãos entreleçadas entre os joelhos e o olhar fixo nos próprios pés. 

- Harry, escute...- toquei-lhe o ombro e hesitei, primeiramente porque não fazia ideia do que realmente poderia dizer, e segundo porque pude ver uma gota escorrendo por seu nariz e pingando no couro do sapato. Tive que engolir o nó na minha própria garganta. Outras duas gotas se juntaram à primeira e Harry colocou o rosto entre as mãos, as costas sacudindo conforme sua respiração se tornava pesada e entrecortada.

Passei meu braço por seus ombros e puxei-o para perto. Ele tombou o corpo, lançando os pés pra cima do sofá e repousando a cabeça em meu colo, as mãos ainda cobrindo o rosto. Pude sentir meu coração se despedaçando - em tantas partes que eu possivelmente nunca conseguisse colocar todas de volta no lugar outra vez - enquanto seu choro ficava mais alto e aflito, suas lágrimas escorrendo para minha calça, pesadas de dor e mágoa. Respirei fundo e tentei não pensar no quão difícil era vê-lo ferido desta forma - o garoto dos cachos, o garoto sempre sorridente e carinhoso e gentil que eu havia conhecido três anos atrás. Harry tinha um coração enorme - e talvez esse fosse de fato o problema. Ele nunca se policiou em relação aos sentimentos pelas pessoas, sempre manteve o coração aberto, e acontece que quando alguém que está lá dentro te magoa, você quebra de dentro pra fora. É como quebrar um osso: não dá pra ver o estrago, mas a dor não deixa dúvidas de que ele foi feito.

- Tudo bem - eu disse mexendo cuidadosamente em seus cachos - Vai ficar tudo bem, Harry. Shh, vai ficar tudo bem.

Eu sabia que "vai ficar tudo bem" não era o tipo de coisa que o acalmava quando ele estava magoado, e sim explicações lógicas e convincentes do por quê tudo ficaria bem. Mas acontece que Harry não estava magoado - nem perto. Ele estava completamente demolido, acabado, e eu sabia que não havia nada racional que eu pudesse dizer para fazê-lo sentir melhor. "Vai ficar tudo bem" era tudo, era o que ele precisava ouvir e, pra ser sincero, acho que é a única coisa que pode ser dita para uma pessoa nesse estado. Eu, no entanto, desejei com todas as minhas forças poder dizer algo mais, algo que fizesse alguma e qualquer diferença no modo que seu peito inflava de dor e murchava de aflição.

Levou sabe lá Deus quanto tempo até que o choro se transformasse em soluços e então em pesar, mas eu não me importei nem um pouco. Harry sempre esteve lá pra mim - aliás, pra todo mundo -, independente de qualquer coisa e era o mínimo que eu podia fazer em troca. Ele mexeu-se sonolento em meu colo, os olhos fechados e os lábios ligeiramente abertos.

- Ei, que tal tomar um banho e ir dormir, huh? - afaguei seus obros, tentando acordá-lo - Harry. Vamos. Vem, eu te acompanho.

Acabei tento que erguê-lo do meu colo. Ele piscou duas vezes, os olhos extremamente inchados e vermelhos, e levou alguns segundos para colocar meu rosto em foco.

- Obrigado, Liam.

- Não tem pelo quê agradecer, cara. Não mesmo.

Ele esboçou um sorriso cansado e levantou. Caminhamos em silêncio até a porta do quarto, mas isso nunca foi problema com Harry, acho que nunca fiquei desconfortável com ele.

- Quer que eu passe essa noite com você? - perguntei. Não era grande coisa. Sempre tínhamos um quarto para cada um dos cinco, mas era comum nos esgueirarmos um para a cama do outro no meio da noite quando estávamos com saudades de casa ou bêbados. Nos conhecíamos há tanto tempo que já era algo costumeiro. No entanto, Harry recusou meu convite, balançando a cabeça e dizendo um "não precisa, obrigado, eu ficarei bem por minha conta" pouquíssimo convincente, mas não insiti. Disse boa noite e caminhei para meu próprio quarto, imaginando se ele passaria o resto da noite em prantos. Provavelmente não, concluí, não acho que tenha sobrado uma gota de água sequer no corpo dele. Fui me descobrir enganado, entretanto, quando, no meio da noite, senti alguém juntando-se a mim debaixo do cobertor. Abri os olhos o suficiente para ver seus cachos bagunçados e adormeci perdido em seus soluços.

His Love Will Conquer AllOnde histórias criam vida. Descubra agora