↳Harry
- Não, Harry, você não entende! - estávamos gritando outra vez.
- Mas, Louis... - tentei engolir o nó que se formava em minha garganta.
- Não, Harry. - ele me olhou daquele jeito. Daquele jeito que sempre me olhava quando falávamos desse assunto, como se ao mesmo tempo desejasse me esmurrar e me beijar.
Eu já estava acostumado. Me olhava assim, meio louco, meio sóbrio, desde aquele dia, pouco mais de dois anos atrás, em que tivémos uma reunião com nossos administradores de relações públicas (da banda, pra ser mais exato).
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"O que está havendo entre vocês?", "Bom, há rumores por todos os lados", "Sabemos que não é o caso", "não estamos desconfiando de vocês", "Estão dizendo que...bem, que vocês estão em alguma espécie de relacionamento", e então silêncio e cautela. Lembro de termos nos entreolhado por alguns instantes. Eu não compreendi muito bem de início, mas pude ver que ele, sempre muito esperto, começava a juntar os pedaços e somar as palavras - coisa que pra mim, na época, era um tanto mais lento e trabalhoso. Não consegui formular uma resposta decente. O que eu poderia dizer? "Bom, e daí?", senti vontade de dizer. Mas apenas respirei fundo e esperei. "E então...?" Louis quebrou o silêncio. Eu sabia o quanto ele odiava nossos "diretores" e não fez muitos esforços pra esconder isso em sua voz. "Todos falsos e interesseiros, com aquelas vozes infantis, fingindo que se importam. Querem mesmo é o dinheiro. Só interessa que andemos na linha", lembro que me disse uma vez. "Hum, bom...", a moça se mexeu desconfortável em sua cadeira, "Sim?", Louis pressionou impaciente. "Gostaríamos de pedir que, se possível, vocês pudessem, hum...", ela hesitou novamente e Louis repreendeu um suspiro. Amanda, uma das diretoras chefes, levantou-se da cadeira onde estava sentada, atravessou a sala e apoiou-se na mesa a nossa frente, inclinando-se ligeiramente para nós. "Desculpem, crianças, ela começou com um sorriso amarelo, não gostaríamos de interfirir em relações pessoais entre os membros da banda, mas esses pequenos rumores tolos estão causando alguns problemas, alguns comentários indesejáveis e muito barulho por nada lá fora. Vocês sabem como é.", outro sorriso amarelo e um instante de silêncio. Eu sabia que se ela não dissesse logo o que queria Louis pularia em seu pescoço sem pensar duas vezes. "Precisamos que esses rumores...hum...desapareçam.", Amanda terminou. Eu pisquei algumas vezes, tentando processar aquilo, mas preferi esperar que alguém falasse. "Não estamos pedindo que parem de se falar, nem nada assim, vejam bem. Apenas que evitem mostrar muito afeto físico ou preferência pessoal quando estiverem em público, se possível. Somente até os boatos irem embora.". Depois da reunião, Louis disse que estava tudo bem. Era apenas coisa da mídia e isso não mudaria nada entre nós. E então sorriu. E seus olhos brilharam. E suas mãos afagaram meu ombro. E eu apenas assenti. Nada mudou.
Uma semana depois convocaram outra reunião. Individual. Louis saiu da sala pensativo e um tanto desconcertado. Mas firme e sorridente como sempre. Quando eu entrei, disseram-me que aquilo não podia continuar. As pessoas nos chamavam de coisas e as fãs estavam confusas. "Isso pode atrapalhar a prosperidade da banda.", lembro de ter ouvido, entre os zumbidos em minha mente. Assenti e esperei. Disseram-me então que em algumas das próximas entrevistas abordariam o assunto e nos chamariam de "Larry Stylinson" e eu não pude deixar de sorrir diante do quão boba e adorável era a combinação entre os nossos nomes. Explicaram o que eu teria de dizer e deixaram-me ir. Louis então disse que tínhamos de fazer aquilo, pela banda. Era importante para todos nós e eu entendi, mas queria dizer que havia algo mais aqui dentro e que não queria mentir. Mas ele fez uma piada boba sobre portas e administradores de relações públicas e nossas risadas soaram melódias juntas e ele lançou seus braços ao redor do meu ombro. E eu apenas assenti.
Mas conforme as semanas e as entrevistas foram passando, Louis pareceu tornar-se um pouco amargurado e irritado e acho que convocaram mais uma reunião individual, mas só ele foi chamado. Em público, parecia constantemente incomodado e reprimia quase todo movimento em minha direção. Numa noite, apareceu chateado pra jantar e eu fui falar com ele. "Não é nada, Hazza. Pode ficar tranquilo", mas aquele sorriso não me convenceria nem em um milhão de anos. No dia seguinte eu insisti, estava preocupado. Ele estava completamente desconcertado e posso jurar que seus olhos se afogaram de tristeza antes de refletirem a frieza das palavras "Já disse que não é nada, Harry. Me deixe em paz, sim?" e depois que eu toquei-lhe o ombro, "Eu tenho uma namorada agora, Harry. Você entendeu? Deixe-me." e me olhou daquele jeito instável. E eu apenas assenti. Tudo mudou - gradativa mas ininterrupta e dolorosamente.
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- Nós já falamos sobre isso, Harry! Qual é o seu problema? - sua raiva me trouxe de volta pro presente.
- Louis, eu estou farto! Estou cansado de esconder, de fingir, tudo isso é idiotice! Eu não aguento mais!
- Você sempre volta nesse assunto, não é?! Maldição, Harry! Não sei do que você está falando!
- Mas, Louis, você disse...
- Isso foi há quase três anos, Harry! - ele sibilou - Supere isso! Éramos crianças!
Eu entendia o motivo de ele estar nervoso. Sabia que ficaria. Eu havia mexido com ele em uma entrevista e falado em seu ouvido em um show. E agora abordava o tal assunto outra vez - o assunto que o deixava irritado e ácido e a mim, cansado e deprimido. Mas eu realmente não queria mais viver assim. Não fazia sentido. Só queria que tudo ficasse bem outra vez - mesmo sem acreditar mais que isso ainda fosse possível - e a vodca que nos serviram na festa embaraçava meus pensamentos e solidificava minha raiva.
- Louis - eu o agarrei pelos ombros e o encarei - como é que você vive assim? Fingindo...
- Harry, escute - ele recuou o rosto, também ligeiramente bêbado - o tempo passou, nós dois mudamos. - ele com esse papo de novo. Larguei seus ombros com força e ele tropeçou pra trás. Andei pela sala, agarrando os cabelos. - Você tem quase 20 anos, não tem mais idade pra isso! Acorde! Essa é a realidade! - cuspiu.
Encarei-o de perto novamente, a raiva e o álcool borbulhando dentro de mim.
- Você também quebra as promessas que faz pra ela? Ou prefere nem fazer mais?
Seus olhos azuis encheram-se de ódio e dor.
- Vai se foder, Harry! Saia daqui! Foda-se! - ele me empurrou com força.
- Me diz, então, Louis! Diz que era tudo mentira, que você nunca se sentiu da mesma forma que eu! Diz que você nunca desejou que pudesse ser só eu e você, diz que nunca me amou - eu disse a última parte mais baixo - Diz e eu vou embora! Vou embora e você nunca mais vai ter que falar sobre isso comigo!
Ele me olhou daquele jeito outra vez e disse.
- Ótimo! Ótimo, Harry! Você nunca foi nada pra mim, ouviu bem? Eu nunca quis ter nada com você, você que se iludiu! Eu tenho namorada, você ainda não entendeu? Eu não te amo e nunca te amei e você está louco! - ele rodou nos calcanhares e virou-se de costas para mim e eu posso jurar que vi uma lágrima escapar. - Agora, saia! Me deixe em paz!
Senti meu corpo se congelando, membro por membro, enquanto absorvia suas palavras. Louis nunca me dissera nada assim, nunca. Meus pés se tornaram chumbo, meus pulmões custavam a puxar o ar de volta e minha visão foi invadida pelas lágrimas.
- Sabe, Louis, você tem razão. - minha voz soou áspera e amarga - O tempo passou, nós mudamos. Mas pelo menos eu ainda consigo me reconhecer. Você consegue?
Vire-me e saí, batendo a porta atrás de mim. Vi Liam e Zayn ao lado no corredor, provavelmente tinham escutado tudo, mas não me incomodei. Só o que me importava era ir para um lugar vazio antes que as lágrimas molhassem minha camisa.
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His Love Will Conquer All
FanfictionHá sempre muito mais por trás de portas fechadas e longe das câmeras. Ninguém vê, ninguém sabe. Mas seu amor vai conquistar tudo. "- Sabe, Lou, somos como Romeu e Julieta, você não acha? - Harry disse e riu-se, despreocupado. - Só se eu puder se...