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O sol estava alto e radiante na primeira semana de setembro, os adolescentes saíam de seus carros lamentando o fato do ar condicionado não poder segui-los por onde fossem. As meninas amaldiçoando a maldita regra de vestimenta da Jones High School, enquanto os meninos exibiam suas bermudas folgadas e fresquinhas.

Na escada do colégio o grupinho dos populares já estava todo reunido, olhando de cima a baixo todos que eles julgavam serem inferiores a eles, como se aquilo fosse algum tipo de hierarquia. Mas, na verdade, tudo não passava de questões sociais e ideais ridículos que eram impostos a eles desde que o mundo é mundo. Afinal, eles apenas o seguiam.

Felizmente, Alice nunca foi o tipo de garota que se importava com os olhares em cima de seus cabelos castanhos avermelhados, quase ruivos, muito menos nas cantadas machistas que recebia as vezes na educação física, mostrando apenas o dedo médio e soltando, vez ou outra, seu discurso feminista, do qual tinha muito orgulho.

A garota subiu as escadas desejando vomitar em todos eles, com suas roupas de marcas, narizes empinados e línguas nas gargantas um dos outros. Ela achava simplesmente desnecessário a vontade que as pessoas tinham de mostrar a todo mundo o quão sexualmente ativo eles supostamente eram, beijando seus parceiros, de um jeito nada discreto, bem na entrada do colégio. Porque as pessoas não simplesmente deixavam a língua dentro da boca?


Matthew sentiu uma batida forte em seu braço e o cigarro, praticamente inteiro, voou de seus dedos e pousou aos seus pés. Logo em seguida duas meninas de cabelos compridos corriam em direção a escadaria do colégio, e nem se preocuparam em pedir desculpas. O garoto bufou e pisou no cigarro, apagando a chama e o pegando logo em seguida, não era o tipo de cara que deixava lixo pelo chão.

Orlando talvez fosse a cidade mais turística de todo o país, e mesmo que fosse a cidade natal de Matt, ele não se sentia nem um pouco em casa, era estranho estar de volta como morador, e não como visitante. Durante anos e anos de sua vida, aquela cidade tinha sido apenas uma colônia de férias, mas agora era o que deveria chamar de lar.

Todo início é difícil, e nem a pessoa mais extrovertida seria um sucesso no quesito se adaptar a um novo colégio, uma nova cidade, uma nova vida. Mas quando se estava em determinadas situações, as coisas talvez piorassem um pouco.

O garoto subiu as escadas do colégio e sorriu levemente a uma das líderes de torcida que sorria a ele. Não que ele estivesse feliz, não que ele realmente quisesse alguma coisa com ela, ele apenas fez pelo hábito. Assim que abriu a porta, foi atingido por uma avalanche de coisas que ele não soube como controlar dentro de seu coração. As pessoas conversavam, riam, se abraçavam, como se não tivessem se visto durante os três meses de férias, e ele odiou aquele sentimento de felicidade que pairava sobre a escola, principalmente porque sabia que era exatamente o que ele e Louise fariam se ele ainda estivesse em Chicago. Ou se ela ainda estivesse viva.

Ele gostava de pensar positivo, enquanto andava pelo corredor a procura de seu armário, tentava repassar os motivos pelos quais estava de volta à Flórida, como uma lista. Ele tinha repetido o terceiro ano do colegial depois de ter faltado um mês seguido nas aulas, tinha acabado de perder a melhor amiga para um câncer, tinha sido expulso de casa em meio aos nervos e a uma promessa de vida nova. Não era como se existissem muitos pontos positivos a serem levantados, mas Matt sentia um pequeno conforto pelo simples fato de não ter que lidar com a morte de Louise em Chicago, seria tudo muito pior.

Matt parou diante do armário 603 e respirou fundo, tirou os óculos escuros e colocou a senha. Guardou seu maço de cigarro, uma garrafa de coca-cola e as chaves do carro e fechou a porta. Pegou o celular e reprimiu a vontade de jogar o aparelho no chão. Fazia exatamente um mês, e aquela sensação de vazio ainda existia, ainda doía.

Matt & AliOnde histórias criam vida. Descubra agora