Diário de uma sobrevivente

Capítulo 6: Meu único trabalho

Eu percebi que aquela placa era de algum hotel. Fui até lá e me enganei, aquilo era uma boate.
Apesar de ser uma boate, eu tinha certeza de que haviam quartos por lá e então pensei: vou tentar conseguir um lugar para dormir.
Entrei, e vi uma mulher na recepção, fui em direção e a esperei terminar de falar no telefone.
_Tudo bem... Certo, só quero que minhas meninas cheguem bem. Olá, no que posso ajudá-las? _ perguntou ela nos analisando.

Olhei ela de cima a baixo e ela parecia uma velha que tentava provar pra si mesma, que ainda era uma jovem garota. Ela usava uma blusa bem decotada e uma calça com estampa de onça, seus olhos eram verdes e estavam bem realçados por causa do lápis de olho e uma maquiagem meio escura.
_Sim, gostaríamos de saber se tem algum quarto que podemos alugar? _perguntei.

_Olha, aqui nós não "alugamos" quartos, esse cômodos são apenas para os clientes do nosso estabelecimento mas, dependendo do preço que estão dispostas a pagar, nós revemos isso.

_Não temos muito, mas acho que dá pra passar uma semana hospedada _retruquei pondo o dinheiro no balcão.

_É... Com essa quantia vocês poderão passar no máximo, um dia _disse a mulher.

_Como assim? Um dia, mas é muito pouco, não tem como você nos ajudar? Acho que eu poderia trabalhar como garçonete...

_As vagas pra garçonete já estão cheias _retrucou ela_ Mas ainda temos vagas para outra área _disse ela olhando para as garotas que dançavam no meio do estabelecimento. Clarisse é cega e não podia ver mas, as mulheres daquele lugar estavam seminuas, algumas andavam com os seios de fora e com calcinha que se perdia no meio de tanta bunda. Era assustador.

_Conversamos sobre isso depois. Queremos ir para o quarto_disse.

_Tudo bem mas, preciso da sua resposta amanhã cedo, não vou poder segurar essa vaga muito tempo, temos várias voluntárias e eu só estou lhe facilitando as coisas por quê acredito que você tem potencial para trabalhar aqui _disse ela olhando para os meus seios, fiquei assustada, ela parecia desejar meu corpo _E toma! O seu quarto é o 240 _disse ela me entregando uma chave que parecia ter um chaveiro semelhante a um órgão masculino, preferi esquecer que aquele objeto estava ali.

Segurei a mão de Clarisse e segui para os quartos, subimos uma escada que deu direto em um corredor com portas, nesse corredor tinha mulheres atracadas em homens e fazendo barulhos constrangedores, tive que tampar os ouvidos de Clarisse ao passar pelo corredor.
O nosso quarto era o terceiro do lado esquerdo do corredor, entramos e logo me joguei na cama que estava coberta por pétalas de rosas e uma mesa com velas, que esperavam para ser acesas, não entendi o cenário porém, continuei ali.

_Só poderemos ficar até amanhã? _perguntou Clarisse.

_Provavelmente não, vou arranjar uma forma de conseguir dinheiro.

_Como? _perguntou novamente.

_Vou aceitar o cargo de caixa que a mulher da recepção me ofereceu! _Estava com medo mas, tinha que ser forte _Olha só, já são 00:30, você tem que ir dormir.

_Tudo bem! Vou só tomar um banho antes _retrucou ela.

Enquanto Clarisse tomava banho, peguei meu diário e fui ter minha conversa diária com ele...

" Oi diário, pois é, não sei o que fazer, que decisão devo tomar... Não, tenho que ser forte, vou aceitar o cargo de dançarina... "

Depois que minha irmã saiu do banheiro, eu entrei e passei quase meia hora debaixo do chuveiro, pensando sobre minha vida e sobre quão grande é minha saudade de casa.
Saí do banheiro, sequei o cabelo, e me vesti novamente. Foi difícil mas, consegui dormir.

♡♡♡

Pela manhã, eu acordei primeiro que Clarisse e fui direto ver se a mossa da recepção já havia chegado. Pra minha tristeza, sim.

_Éééé... Bom dia... _cumprimentei ela com voz de sono.

_Oi! Então, já decidiu?

_Já é... Eu aceito o cargo.

_Haaaaaaaaaa! Não acredito, é um prazer ter você como uma de nossas funcionárias. Você precisa ensaiar com a Rolly, a Sam vai te produzir...

_Calma! _disse a interrompendo_ Quem são Rolly e Sam?

_Ta, eu me empolguei né, tudo bem. Rolly é a nossa stripper profissional e a Sam é a nossa maquiadora e figurinista.

_Como assim... precisa mesmo disso tudo? _perguntei.

_Claro, a atração principal tem que ser bem produzida _respondeu.

Eu fiquei muito assustada, não sabia o que eu teria de fazer.
Ela pegou no meu braço e disse:

_Vem comigo. E afinal, meu nome é Dinah.

Ela me levou até uma sala onde estavam reunidas várias garotas, essa sala era cheia de espelhos como se elas fossem ensaiar balé, só que com um grande pollydance.
As meninas dali, estavam me encarando muito, parecia que eu estava roubando algo. E estava.
Dinah me pôs na frente delas e disse:
_Garotas! Dêem as boas vindas para a nossa nova estreante e protagonista do show da semana que vem, Miranda!

_Michelly! _disse baixo a corrigindo.

_É... Michelly!! Linda não? _ Elas aplaudiram, falsamente, mas aplaudiram.

Depois uma mulher negra de cabelo cacheado e olhos cor de mel, entrou na sala e disse:
_Bom dia meninas!

_Essa é a Rolly _disse Dinah_ Rolly essa é Mi-Michelly, é... Michelly.

_Oi garota! Estou aqui pra te ensinar tudo o que sei e te transformar numa grande estrela.

_Uma estrela pornô? _perguntei chateada.

_Não... É, vamos chamar de estrela das noites _respondeu ela, como se quisesse aliviar o peso daquela denominação.

Ela disse que precisávamos nos alongar primeiro, e conforme as garotas iam fazendo eu ia repetindo os movimentos. Uma garota do meu lado, cabelo no ombro, olhos azuis e um corpo de miss cutucou meu ombro e disse:
_Prazer meu nome é Ashley...

_Ah! Oi Ashley...

_Olha, não liga pra essas garotas daqui, são todas invejosas e metidas, literalmente.

_É... _baixei a cabeça com vergonha, sim eu entendi a referência dela.

_Que bom saber que ao menos uma de vocês é legal. Podemos ser amigas? _perguntei.

_Claro! _disse ela apertando minha mão, selando esse "pacto"_ Olha vou te ajudar em tudo o que precisar. Sabe, eu te entendo, eu sempre fui a mais nova até você chegar.

_Quantos anos você tem? _interroguei.

_Dezessete, mas estou aqui desde os treze anos, foi quando comecei a usar drogas e tive que sair de casa. Sinto falta de lá _disse ela baixando a cabeça.

_E por que você não volta pra casa? _perguntei novamente, começando a sentir que estava incomodando.

_Estou presa aqui, já tentei fugir, mas Dinah já me prometeu que se eu tentar sair daqui novamente... Ela me mata... Sabe quantas vezes já tentei sair daqui?

_Não faço ideia! Cinco talvez _chutei.

_Errado, quinze... Quinze vezes.

Aquilo soou na minha cabeça como um aviso, acho que tem algo errado aqui...

" Agora eu sei, Ashley tinha razão, deveria ter fugido logo ou melhor, não deveria nem ter entrado... "