Aquele poderia ter sido só mais um dia em que Harry passaria o inteiro em seu quarto, desenhando ou simplesmente olhando para o teto. Mas não, esse dia seria totalmente diferente dos outros, e até mais doloroso.
O menino estava acordado fazia alguns poucos minutos, ainda vestia seu pijama composto por calça de moletom preta e uma blusa cinza de manga comprida, seu corpo estava de costas para a porta e ele brincava com a ponta do travesseiro, passando os dedos ali, era uma mania que ele adquiriu desde criança, e que o acalmava quase sempre.
Uma movimentação estranha no andar de baixo e fez franzir o cenho. Geralmente as pessoas não vão à sua casa, nem mesmo os parentes. Todos têm medo do menino, então ele estranhou os barulhos de passos. E não eram só de uma pessoa, eram várias pessoas, mas ele não sabia quantas. Se agarrou ao travesseiro ao ouvir os passos na escada, bem próximo de seu quarto. Os passos vinham se aproximando e Harry cada vez mais agarrado ao seu objeto de conforto, o travesseiro.
Ainda envolvido nos cobertores ele podia ouvir sussurros no corredor, mas nada que desse para identificar. A porta de seu quarto ficava sempre trancada, só quem tinha a chave era sua mãe e no momento a porta estava sendo destrancada com muita pressa. Harry se sentou na cama atordoado, e viu que ali estavam sua mãe, irmã e mais 4 homens que ele não conhecia. Eles tinham uma expressão séria, vestiam um uniforme hospitalar branco, um deles tinham uma maleta nas mãos. Anne se aproximou do filho.
— Querido... Eles... Esses rapazes iram levar você para um lugar muito melhor do que aqui. Eles... Irão cuidar de você, para que você fique bom logo e possa voltar para casa. Eu...
— NÃO! — ele gritou derramando lágrimas. — EU NÃO QUERO!
— Meu amor, é para o seu b-
— Senhora não temos tempo para isso, preciso levar o garoto. — um deles disse e cruzou os braços na altura do peito.
— Sim, mamãe, pare de dar explicações! Apenas o levem!
Gemma que até então estava calada apenas apreciando o momento se manifestou. Ela tinha um sorriso de vitória nos lábios e Harry a olhava com pânico. Gemma nunca gostou de Harry, nem mesmo quando eles eram crianças, assim que o menino nasceu o pai deles foi embora sem dar explicações, fugiu deixando Anne e Gemma sozinhas. Gemma tinha apenas 6 anos e não entendia nada, mas já supria odeio pelo pequeno irmão.
— Mamãe, por favor... N-não f-faça i-isso... E-eu n-não q-quero...
O choro dolorido do menino ecoava pelo quarto. Os homens estavam sem paciência, Anne à beira das lágrimas se sentou na cama e acariciou o rosto do filho.
— Eu prometo ir te visitar. Eu prometo.
— É MENTIRA! VOCÊ ESTÁ FAZENDO COMO TODOS OS OUTROS! ESTA ME MANDANDO EMBORA COMO SE EU FOSSE UM LOUCO! EU NÃO SOU LOUCO! — Harry gritou a plenos pulmões, fazendo então os homens que até então estão estavam parados, a se movimentarem em direção ao menino. — FIQUEM LONGE DE MIM! EU NÃO SOU LOUCO. — O mais alto deles segurou firme nos braços finos de Harry o tirando da cama, ele tropeçou nós próprios pés e foi ao chão.
— Não machuquem o meu menino!
— Senhora, peço que não atrapalhe o nosso trabalho. — um deles disse a lançando um olhar frio.
Harry se encolheu no canto do quarto escuro, levando os joelhos para a frente do rosto, seu corpo tremia pelo choro, seus cabelos estavam uma completa bagunça. Mas não estavam tão bagunçados como seu coração.
Um dos enfermeiros loiros agarrou o menino pelo braço o levantando, o cacheado começou a se debater e a gritar palavras desconexas, fazendo então o enfermeiro que segurava a maleta abrir a mesma e retirar de lá uma seringa com um líquido transparente.
— Não, por favor. Não é preciso disso... Meu filho... Ele... — A mulher estava desesperada, chorando descontroladamente.
— Mamãe, cale-se! Deixem que levem essa aberração. - Gemma diz com desgosto.
A mais velha se cala e chora em silêncio vendo seu filho se debater nos braços fortes do enfermeiro, e então seu corpo ir desfalecendo aos poucos quando a seringa entra em seu braço. Logo os gritos e soluços se cessam, e da lugar a um Harry totalmente apagado nos braços do enfermeiro.
Com o corpo de Harry desfalecido, eles o põem em uma maca já na rua e entram com ele na ambulância. Anne assiste tudo quieta, sem dizer uma palavra. Os vizinhos começam a sair de suas casas, alguns com os olhos arregalados e outros com sorrisos satisfeitos, assim como Gemma.
— Nossa clínica fará o possível para cuidar de seu filho, senhora. — Ela assente ainda atordoada, o enfermeiro entra na ambulância e então segue a caminho da clínica psiquiátrica, sumindo pelas ruas.
-x-
O corpo de Harry dói. Ele sente cada parte doer e cada vez mais a dor em seu braço aumenta. Com os olhos abertos e arregados, ele vira a cabeça para seu braço e vê um cateter preso e deduz que fosse medicamento. O ambiente não é claro, a cama é pequena e tem colchão duro, paredes brancas e vazias.
Onde ele estava?
Será que sua mãe tinha mesmo o posto naquele lugar horrível? Onde a dor e o sofrimento se vê pelos corredores.
Lágrimas grossas caem de seus olhos sem brilho algum. Seus tornozelos estão presos nos pés da pequena cama, e em uma tentativa tola de sair faz com que a corrente em seus pés passe com força no local arrancando parte de sua pele. O grito agudo escapa de seus lábios rachados junto com o sangue manchando os lençóis brancos. Ele se debate ainda mais, a agulha em seu braço quase quebrando e seu tornozelo completamente ensanguentado.
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@sincerelycut

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Philophobia - l.s
Novela JuvenilHarry tem uma doença na qual muitas pessoas desconhecem, e por esse motivo o acham estranho e se afastam. Louis é um psicólogo com problemas, Louis é o psicólogo de Harry e tenta ajudá-lo. Essa história é de minha autoria, inspirada em um dos tts d...