VINTE E TRÊS

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11 de maio de 2014.

Benjamim Stark

Os segundos domingos de maio se tornaram dias tristes e cinzentos. O primeiro depois que minha mãe morreu foi com certeza o pior. Minhas avós decidiram se unir na minha casa na tentativa de deixarem as coisas um pouquinho melhor, o que teve uma bela intenção mas foi realmente desastroso. Elas não gostavam muito uma da outra e ter que se suportarem num dia terrivelmente doloroso não foi fácil, elas tentaram sorrir e não brigar uma com a outra por pelo menos metade do dia. Na outra parte, quando estávamos todos sentados na mesa e minha avó Teresa percebeu que a única pessoa que daria a ela e a mim uma razão para comemorar aquele dia não estava mais conosco, ela desabou. Começou a chorar por uns minutos. Controlou-se apenas para vir até mim, beijar o topo de minha cabeça e dizer que me amava. Então foi embora.

 
A minha avó Melissa, mãe de meu pai, ficou com a gente até o fim do almoço e tentou me animar durante a tarde, mas a crise da minha avó fez o mesmo comigo, me deixou em choque, em estado de apatia. Eu me lembro de não conseguir respirar durante a noite e me sentir tão triste que não consegui chorar. 

Desde então o dia das mães é a mesma coisa. Meu pai manda um presente para minha avó Melissa e nós apenas pedimos comida pelo aplicativo, já que Joana não está em casa e assistimos alguns filmes. 

Exceto nesse ano. Já que parece que a mãe do meu pai cansou de receber presentes e não ter a presença do meu pai, palavras dela, e decidiu passar o dia com a gente.
Então, agora ela está na nossa cozinha preparando o almoço que insistiu fazer sozinha enquanto meu pai e eu permanecemos em um silêncio sepulcral na sala de TV. 

Ele está segurando uma taça com vinho, parece distraído, alheio ao cômodo que está. É como ele costuma ficar na verdade, na maioria das datas comemorativas. Estamos distantes. Não só pelo espaço entre as poltronas de frente para a outra. Meu pai parece nunca ter se recuperado do luto pela minha mãe, nós não conversamos nada além do dia-a-dia. Não porque eu não queira, eu só não sei como fazer isso. E tenho até um pouco de vergonha ao dizer que já tentei chamar sua atenção, tentei entrar para o time da escola, já fui para diretoria por brigas e por notas baixas, eu até reprovei de ano - quer dizer, isso não foi uma tentativa, eu realmente estava mal na escola - e nada disso fez com que ele perguntasse como eu estava, só fez ele gritar comigo e ficar irritado. Eu sinto falta da minha mãe ainda mais, porque as vezes acho que ele se foi junto com ela.  

-Como foi o almoço de ontem?_ele me pega de surpresa ao perguntar e eu desperto dos meus pensamentos. 

-Foi muito legal._eu sorrio ao me lembrar_a familia Fernandes é divertida e calorosa, e eles também tem um genética impressionante.

-Fernandes?_ele pergunta curioso_achei que tivesse dito que o sobrenome da garota era Bellini.

-É, Fernandes é o sobrenome da família da Alice, a mãe dela._os olhos dos meu pai se tornam curiosos e se franzem.

-E como você disse que é a genética deles?_a taça de vinho se vira sutilmente em uma dose lenta.

-A Sam não tem os cabelos claros da maioria das mulheres da família ou os olhos verdes da mãe. E ainda assim ela é muito linda, as mulheres Fernandes tem uma beleza do tipo...

-Encantadoras de homens._meu pai completa a frase 

-Como você sabia o que eu ia falar?

Sam days (NOVA VERSÃO DE O Primeiro Amor)Onde histórias criam vida. Descubra agora