Capítulo 3 - Apenas respire

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Acordo no dia seguinte com o peso do que tenho de enfrentar. Sinto meu celular vibrar ao lado do meu travesseiro e o apanho. É uma mensagem do meu namorado, Simas, me desejando bom dia e perguntando se vou ao velório de Denise.

Suspiro e respondo que sim. Apesar de eu não ser tão próxima a ela, sinto que devo enfrentar isso e prestar meus respeitos. Ele então me manda uma resposta dizendo que estará ao meu lado todo o tempo. Até agora Simas tem se mostrado compreensivo comigo, com meu estado de saúde. Eu não expliquei pra ele exatamente o que eu tenho. Só disse que estou com alguns problemas psicológicos. Felizmente ele não fica me pressionando e fazendo perguntas que não quero responder.

Sei que tenho sorte por tê-lo ao meu lado. Simas é o que a maioria das garotas gostaria em um namorado, é um ano mais velho que eu, alto, bonito, com seus olhos meio puxados sempre dando a aparência de quem acabou de acordar e o cabelo castanho claro desarrumado de um jeito sexy. Ele está sendo uma das minhas motivações nesses dias ruins.

Levanto e vou em direção ao único banheiro da minha casa. No caminho a porta do quarto de meu irmão mais novo, Daniel, se abre subitamente e ele sai de lá com a cara mais amassada do mundo, mas ainda exibindo uma expressão constante de garoto travesso, com seu cabelo loiro escuro totalmente desalinhado, alguns tons mais escuro que o meu e seus olhos de um verde intenso, que herdou de meu falecido pai.

Ele deve ter percebido que eu tenho a intenção de usar o banheiro primeiro, porque sai em disparada na minha frente. Tento ir atrás, mas quando chego, ele já fechou a porta na minha cara e eu consigo ouvir sua risadinha lá dentro. No fundo acho que ele faz esse tipo de coisa pra me animar, pra tirar essa expressão de tristeza que venho carregando ultimamente.

Reviro os olhos e vou para a cozinha, onde minha mãe está preparando o café da manhã e cantarola baixinho. Ela está mais tranquila hoje e seu rosto em forma de coração parece mais relaxado. Seus cabelos longos e loiros estão soltos, caindo em ondas suaves pelas costas. Porém assim que repara em mim noto uma rápida sombra de tristeza passar por seus olhos castanhos escuros, provavelmente se lembrando do motivo de eu estar de pé mais cedo do que de costume. O enterro.

Estou fazendo minha família ficar muito estressada nesses últimos meses, reparo nisso algumas vezes em seus olhos. Embora nenhum deles realmente se queixe de acordar no meio da noite com meus gritos, depois de eu ter pesadelos horríveis. Murilo, meu irmão mais velho, tem sorte de não morar mais comigo, já que se casou há dois anos e agora mora em um bairro próximo com a mulher grávida.

Todo esse estresse que estou causando a eles é só mais uma motivação para eu querer entrar em uma faculdade e seguir com a minha vida, não desistir de melhorar.

- Está tudo bem querida? – essa é uma das perguntas mais frequentes de minha mãe agora.

- Sim. O que tem para o café? – pergunto querendo mudar logo de assunto.

- O de sempre. – responde ela apontando a mesa, onde há um saco de pão, café e algumas torradas.

Sento - me à mesa e estico a mão para alcançar o saco de pão. Há três xícaras de café dispostas na mesa, assim como talheres. Daniel aparece de repente na cozinha e se senta ao meu lado na mesa.

- Então... – começa ela, meio hesitante – Você pretende ir hoje?

Balanço a cabeça positivamente. Sinto os olhos dos dois em cima de mim, mas continuo cortando o pão e passando manteiga.

- Quer que eu te leve?

- Não precisa. – digo tentando parecer despreocupada. Limpo a garganta. – Vou com a Bianca e com Simas, daqui a pouco eles aparecem por aqui.

Problemática Mente (amostra)Onde histórias criam vida. Descubra agora