Capítulo 4 - Entrevista

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No dia seguinte me arrumo em dois minutos, tomo um café da manhã rápido e vou pegar um ônibus até o centro novo da cidade. Anotei todo o percurso que o ônibus fará, assim eu posso acompanhar o trajeto enquanto ele é feito. Isso me dá controle e segurança. Ajuda a acalmar meus nervos.

O escritório, segundo o site em que pesquisei o trajeto, é a meia hora de casa, usando o transporte público. Já conheço aquela avenida, por ser uma das mais movimentadas da cidade, mas ainda assim planejei cada detalhe sobre hoje. Nada pode dar errado. Eu só não posso, é claro, planejar meticulosamente minhas reações emocionais e isso é o que mais me preocupa.

É um dia chuvoso de outono, logo minha estação favorita do ano chegará e isso me anima um pouco. Fico com medo poucas vezes durante o trajeto, mas felizmente não há trânsito. Procuro me distrair murmurando as músicas que ouço no celular.

Chego ao prédio do escritório vinte minutos mais cedo. Olho para cima e fico embasbacada com o enorme edifício que se estende até o céu. A construção por fora é completamente coberta por vidros escuros e o céu acinzentado reflete nas janelas.

Passo pelas portas gigantescas do mesmo vidro escuro que compõe o restante do prédio. A recepção do edifício é sóbria e elegante. Há um balcão de aço e ao lado vejo duas catracas que isolam os elevadores. Ando até o balcão onde uma mulher está concentrada em seu computador. Ela combina bem com o estilo do prédio, é tão elegante quanto. Seu rosto é anguloso, o cabelo sedoso é escuro e os olhos são levemente puxados nas laterais.

- Posso ajudá-la? - pergunta ela voltando sua atenção para mim assim que encosto as mãos no vidro do balcão. Ela sorri de modo simpático.

- Meu nome é Sara Fernandes - digo nervosa - tenho uma entrevista às nove horas com o doutor Barros na Barros Advogados.

Sinto meu suor se acumular nas axilas e no rosto. Limpo rapidamente a testa, na esperança de que a recepcionista não note.

- Claro - ela sorri de novo - Só um instante, por favor.

Ela pede meus dados e em seguida me entrega um crachá com a palavra Visitante. Depois se ocupa com um telefone, informando sobre minha presença.

- Você pode subir. - diz ela após encerrar a conversa no telefone - Fica no vigésimo terceiro andar.

Ela indica os elevadores depois das catracas com um gesto.

- Passe o crachá em cima do sensor da catraca para pegar o elevador. - instrui.

- Obrigada.

Passo pela catraca como ela me instruiu e aperto o botão para chamar o elevador. Ele não demora mais que dois minutos para chegar.

Após entrar no elevador, aperto o botão do vigésimo terceiro andar, mas antes que as portas se fechem completamente uma mão surge entre o vão das portas. Elas se abrem novamente e um homem de terno e segurando uma maleta entra.

- Desculpa. - diz ele sorrindo.

Mal o encaro e dou o que espero ser um sorriso. As portas se fecham novamente e o elevador inicia sua subida. Ele é tão rápido que meus ouvidos fecham durante o percurso. Sinto minhas mãos umedecerem e meu coração acelera com a ansiedade. Seco as mãos na calça. Não faço ideia se estou exageradamente bem vestida com essa calça preta e o terninho combinando. Mas a julgar pela roupa do homem ao meu lado, estou bem.

O elevador para com um leve solavanco e as portas se abrem. Minha intenção é sair rapidamente dessa caixa de metal, mas não noto que o homem faz o mesmo e acabo esbarrando em seu braço. O impacto é mais forte do que eu esperava e meu braço esbarra no café que ele está segurando. O líquido respinga em sua camisa e deixa uma pequena mancha marrom.

Problemática Mente (amostra)Onde histórias criam vida. Descubra agora