Larissa chegou em casa ainda irritada e com uma sensação estranha depois do jantar. João Marcelo, apesar de desafiador, foi gentil e cortês durante toda a noite.
— A Dulce já ligou quatro vezes atrás de você. — Falou Cid, esparramada no sofá devorando uma barra de chocolate. — Tentou mil vezes no seu celular.
— Estou sem bateria, esqueci de carregar.
— Eu disse pra ela, que isso era algo corriqueiro mas ela parece realmente furiosa. E o novo funcionário, gato?
— Desnecessariamente bonito, desnecessariamente gentil e desnecessariamente competente.
— Uau um desnecessário bem desejável, pelo visto.
— É, pode ser. — falou jogando a bolsa no sofá e retirando os brincos e sapatos.
— Vai ligar pra Dulce hoje?
— Eu ligo amanhã. E como foi a apresentação do seu projeto.
— Não foi, remarcaram pra semana que vem.
— Legal. Vou tomar um banho.
Logo que Larissa entrou no banheiro do seu quarto, Cid a interrogou:
— Qual o motivo da tromba? O novo funcionário tem algo com isso?
— Ele é aquele que te falei, que era gerente na agência do Rio. — falou se despindo e ligando o chuveiro.
— Acha que seu cargo está ameaçado?
— Tomara que não, faltam só três parcelas para quitar o apartamento, e eu realmente precisava viajar.
— É por isso que está assim? Está com medo de perder o emprego?
— Não sei se chego a perder o emprego, mas algumas contas importantes. — prendeu o cabelo em entrou no box. — Ele me disse que era amigo do Felipe Schneider, não sei se é verdade ou se foi por provocação.
— O seu cliente podre de rico?
— Ele mesmo. Apesar do código de ética do banco, vamos ver quais são as aspirações do Sr. João Marcelo.
— Ele te perturbou tanto assim? Bonito, influente e ainda por cima parece instigante. Acho que deveria ir pra cama com ele. — Cid sorria, sentada na tampa do vaso, com as pernas na pia.
— Você certamente já estaria na cama dele. — bufou Larissa e jogou água na tia. — Você não tem o menor juízo Maria Aparecida.
— Ei! Não me chama assim. — reclamou pegando um mousse de cabelo e jogando na sobrinha. — Sou sua tia mais nova, você me deve respeito.
— Não vai sair hoje? Você em casa em plena terça? — questionou Larissa se ensaboando.
— Tô dura — deu de ombros.
— Pega a grana do supermercado da semana.
— Já peguei, tive que colocar gasolina.
Larissa terminou seu banho e se enrolou na toalha. Abriu a bolsa e conferiu sua carteira.
— Tenho pouco dinheiro vivo. Fica com isso. — estendeu a mão entregando o dinheiro para Cid. — Vou fazer um cheque e você deposita.
—Não dá, minha conta está um buraco negro.
— Cid pelo amor de Deus. Você não pode entrar todo mês no cheque especial. — bufou nervosa, preenchendo o cheque.
— Fico sem graça com você me dando dinheiro.
— Tem outra alternativa? Quer que deixe você endividada. Espero que a próxima vez que receber por um trabalho não torre tudo num único dia.
— Eu vou te pagar. — Cid estava envergonhada. — E eu já aprendi a lição.
— Espero que tenha aprendido mesmo.
Larissa vestiu um short e uma regata e se sentou na cama.
— Ele é bonito. — deixou escapar seus pensamentos. — Pareceu sincero quando disse que não queria meu cargo. Falou até que me deixaria escolher qual agência eu assumiria quando a nova inaugurasse. E pagou o jantar.
— Uau, jantou com ele?
— Eu bati no carro dele, achei que merecia um pedido de desculpas. Além do mais ele nem tinha um hotel.
— Muito educado da sua parte. — zombou se jogando na cama da sobrinha. — Ajudou ele a encontrar um hotel?
— Sim, um hotel na Alameda Santos, perto do banco.
— E você entrou com ele?
— Que pergunta Cid. Agora sai fora. Preciso dormir.
— Qual hotel?
Larissa respondeu a pergunta aparentemente inocente de Cid, que gravou a informação. Deixou o quarto da sobrinha com um plano maquiavélico na cabeça. Depois de fechar a porta do quarto, foi para sala e pesquisou o telefone do hotel. Com todo charme conseguiu a informação que precisava. Logo em seguida ligou para seu amigo.
Maria Aparecida, carinhosamente apelidada de Cid era a tia mais nova de Larissa. Irmã de sua mãe, desde que entrara na faculdade fora morar com a sobrinha. Larissa, que já desejava sair da casa onde morava com a mãe e uma tia, aproveitou a companhia da Cid para comprar um apartamento. Acabou se mudando seis meses antes da tia.
Tia e sobrinha, duas pessoas completamente diferentes. Larissa tinha trinta e cinco anos, Cid vinte sete. A tia vivia a vida intensamente, já a sobrinha calculava meticulosamente todos seus passos. Uma amante das artes, outra das ciências exatas. Mas no fundo se completavam, o que faltava em uma, sobrava na outra.
Conhecia o suficiente a sobrinha para saber que não era o tipo de mulher que se abalava tão facilmente por um homem, e ficou curiosa para conhecer João Marcelo. O mau-humor aparente, a irritação e a maneira com que ela divagou sobre ele, deixou Cid com a pulga atrás da orelha.
Cid conferiu se Larissa já havia adormecido e colocou seu plano em ação.
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Procurando Você
ChickLitA busca desenfreada por algo que nos completa, ou pelo menos deveria completar. Será o amor o bálsamo para todas as feridas da alma? Cicatrizes por algo que vivemos ou deixamos de viver. Marcas latentes de uma buscar desenfreada por algo que não sa...