"Sophia existem monstros lá fora, monstros que só saem quando vamos dormir. Se acordar no meio da noite, não olhe pela janela. Você poderá vê-los, ou pior eles podem ver você."
Foi isso que Mariana, a irmã mais velha de Sophia lhe disse após dar o beijo de boa noite, e aquelas palavras ficaram repetidamente sendo repassadas pela mente da garotinha. Quando se tem cinco anos, o que a irmã mais velha diz tem um enorme. Mari não estava mentindo para ela, ou será que estava? Ela nem podia ir para o quarto dos pais, já tinha feito isso pelo menos dez vezes, desde que a mãe decidiu que ela já era grande o suficiente para dormir sozinha em seu quarto. Ela até gostou muito da ideia no começo, mas aí vieram os medos. Primeiro do escuro, depois das sombras refletidas pelo abajur. E agora Mariana tinha lhe dado mais um motivo para temer.
Pensando, e quase já pronta para correr para o quarto dos pais, ela notou que a irmã adolescente estava pronta para sair para uma festa com as amigas. Se os monstros saíam depois que ela ia dormir, porque a irmã estava saindo para a rua exatamente no mesmo horário? Só podia estar mentindo para ela. Puxando pela memória recordou que Mari já tinha feito isso antes, há quase um ano ela disse que quando tinha a idade de Sophia, sua boneca favorita conversava com ela e com a mãe. A pequena garotinha passou uma semana tentando ouvir sua boneca também. E quando foi dizer para a irmã que a dela não falava. Recebeu a informação que ela teria que primeiro comer dois ovos crus, e passar clara de ovo no rosto da boneca, assim a mente das duas iriam se abrir, e elas poderiam conversar. Mais uma semana, e nada, Sophia resolveu testar com a mãe, que achou muito estranha a história. E só entendeu o que estava acontecendo quando a garotinha disse que a irmã tinha contado que conversava com a boneca na infância, e que a mãe também conseguia. Sophia ficou com muita raiva da irmã quando descobriu que ela estava fazendo uma brincadeira. Com certeza era isso outra vez. Imagina se realmente existissem esses monstros a irmã sairia de casa, logo ela que tinha medo até de insetos minúsculos.
Da última vez a Mari a chamou de bebezinha, por ter contado para a mãe, que fez a mais velha pedir desculpas para ela. Desta vez ela ia ser mais esperta que a irmã, e não ia acreditar. Ela não era nenhum bebê chorão. Estava pronta para dormir, sem medo dos tais monstros, quando ouviu um barulho fora da casa, e uma sombra enorme foi refletida na parede do quarto. Sem pensar duas vezes a garotinha saiu correndo, gritando a mãe. Chegou no quarto dos pais ofegante e dizendo:
- Monstros lá fora... A Mari falou... Eu vi a sombra dele.
A mãe não precisou de mais informações para saber o que estava acontecendo. Uma nova brincadeira da filha mais velha. Mari diria que era apenas mais uma pequena peça que estava pregando na irmãzinha. Mas teria que aprender que toda ação, tinha uma reação e igual força. A mãe teria mais uma companhia na cama naquela noite. E a adolescente uma festa a menos no currículo.
E os monstros do lado de fora da janela teriam uma menininha a menos para temer.
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Em-Contos e Prosa
Short StoryPequenos contos sobre o cotidiano, e pessoas comuns... Você vai se encontrar em algum deles...