Olhei para meus pés para ter a certeza de que não estavam sujos.
Antes que pudesse tocar a campainha ouvi gritos vindos de dentro da casa de Sam.
-Mariana! - uma voz grossa e estressada grita - Me explique o que é isso!
Soluços e prantos podiam ser escutados ao fundo.
-Não! - a voz de Sam grita - pai! Pare!
A única coisa que queria era saber o que estava havendo lá dentro.
Um grito rouco e agudo soa. Alguns sons baixos e abafados ecoam.
-Pare! - outra voz grita, provavelmente Rafael, o irmão mais velho de Sam.
-Não se metam! - um homem grita, talvez o pai deles.
Dou um passo para trás. Algo muito errado estava acontecendo, e aquilo me assustava.
O pai de Sam nunca foi uma pessoa muito sã consciente.
Tudo estava silencioso até um alto estrondo agudo, vidro caindo no chão.
-Se afastem garotos! - a mãe de Sam grita.
Me afasto um pouco mais e posso sentir o contato entre meus pés e a grama.
-Samuel! Não ouse sair desta casa!
Começo a andar mais rápido ainda de costas para a rua.
-me impeça! - sua voz soa abrindo a porta.
Ele fecha a porta fortemente atrás de si.
Tinha olhos arregalados e uma marca vermelha em sua bochecha esquerda.
-Liza! - diz aliviado correndo em minha direção.
-o que está acontecendo?
Ele enxuga a mistura molhada entre suor e lágrimas que cobria seu rosto.
-podemos ir para outro lugar?
Levo um pouco de tempo para responder.
-sim... Claro - digo me virando - vamos... Àquele café perto daqui?
-qualquer lugar, menos aqui.
Passamos o caminho inteiro sem trocar uma única palavra, ele parecia extremamente estressado.
Quando chegamos, sentamos em uma mesa sem nem ao menos pedir nada.
-e então...?
-meu pai surtou novamente - diz com raiva - ele encontrou as lâminas da minha irmã.
-sinto mui...
-ele a espancou, eu e Rafa tentamos intervir, mas ele se estressou ainda mais.
Eu não tinha nada em mente para dizer. Estava completamente paralisada e assustada.
Nunca tinha visto Sam daquela forma, seus olhos pareciam expressar um ódio inexplicável, porém sua voz exibia uma quantidade extrema de medo.
-não vai dizer nada? - sua voz me volta para aquele plano.
-o que espera que eu diga?
-não sei, diga que tudo ficará bem, diga que você está aqui - ele responde quase que em desespero - qualquer coisa, só... Diga algo... - sua voz está embargada e seus olhos estão expremidos em lágrimas.
Tento pensar em algo para consola-lo. Mas nunca esperei que aconteceria algo assim.
-diga alguma coisa! - ele grita.
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Sutilmente
Kurzgeschichten# 947 EM CONTO Uma vez, um belo garoto de olhos cor de avelã me disse que os maiores tesouros que temos não são percebidos até os perdermos. E ele tinha razão. Perde-lo nunca esteve nos meus planos... Porém te-lo também nunca foi uma opção. "É err...