Prayer

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Lauren levou um susto quando entrou na sala. A bagunça no escritório de sua amiga era uma das piores que já havia visto dentro daquele hospital. Próteses de pernas, mãos e braços se espalhavam por todo o lugar, nas mesas, nas cadeiras, na estante. A papelada que se espalhava por todo o chão e pelas mesas chegava a ser irritante. Lauren não era uma daquelas pessoas com TOC de limpeza, mas ela não conseguia trabalhar sem organização. No meio de toda aquela confusão, enxergou a mulher sentada na mesa do canto, lendo algo no computador.

- Ally, que tanto de tralha é essa? - se aproximou um pouco da mesa da mulher e tentou ler o monitor.

- Minha pesquisa tem me enlouquecido, Lauren. - sua voz soava cansada e Lauren colocou a mão em seus ombros.

- Você está presa nesse escritório há uma semana. Quando não está aqui, está trancada naquele laboratório. Ally, eu apoio totalmente a sua pesquisa e sei que você está prestes a revolucionar a fisioterapia, mas precisa diminuir o ritmo.

A mulher se levantou da poltrona e virou para Lauren. Sua aparência era caótica, seus cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo bagunçado, seus olhos fundos de cansaço e o jaleco totalmente amarrotado.

- Eu pareço um zumbi, não é? - Lauren sorriu e pegou a mão de Ally.

- Você vem almoçar comigo, preciso da sua ajuda. - as duas saíram do escritório e seguiram pelos corredores do hospital que andava mais calmo que o normal. Aquilo era uma benção, aquele tipo de silêncio era uma dádiva naquele lugar.

A lanchonete também não estava tão cheia e caótica. Aquilo acontecia bastante naquele tempo do ano, já que todos os internos viajavam para fazer seus exames de residência. Lauren pegou um pratinho com algumas bolachas e um pouco de geleia de framboesa, sua favorita. A mulher pegou um sanduíche gigante e um copo de 700ml de refrigerante. Não era pra menos, Lauren nem se lembrava da última vez que vira a amiga almoçando no horário correto. Sentaram-se em uma das primeiras mesas e enquanto Ally devorava seu sanduíche, Lauren molhava as bolachas na geleia.

- Do que precisa? - a fisioterapia perguntou, de boca cheia sem ao menos olhar para Lauren, que sorriu.

- Preciso que você trate uma das minhas pacientes.

- Lauren, eu sempre trato seus pacientes porque você insiste em quebrar as pernas deles, ou os braços, ou a coluna, como aquela vez que quebrou a costela da senhora Pittersburg.

- Aquilo foi um acidente. - Ally finalmente olhou para a ortopedista, revirando os olhos - É um caso... especial. E exaustivo. Elas foi pisoteada e embora uma perna esteja boa, a outra foi totalmente esmagada, o fêmur foi arrebentado e rompeu todos os ligamentos.

- Quer que eu dê à ela uma prótese? - continuou falando de boca cheia.

- Quero que faça ela andar novamente.

A mulher parou de mastigar e encarou Lauren por alguns segundos. Nenhuma se pronunciou durante vinte segundos, até que Ally respirou fundo.

- Você não amputou a perna dela, Lauren? - a ortopedista negou com a cabeça, sem se pronunciar - Ela teve o fêmur esmagado, mas você não amputou a perna? Lauren... Qual é o meu nome?

- Ally.

- Ok. Então me diga POR QUE DIABOS VOCÊ ACHA QUE É JESUS? - o grito foi tão alto que todos na lanchonete as olharam. Embora Lauren quisesse gritar de volta, entendia que a mulher estava sob pressão por toda sua pesquisa, e não queria piorar as coisas. Além disso, ela realmente precisava de um milagre.

- Allyson, eu não te pediria se não valesse a pena. Eu salvei todos os nervos da perna dessa mulher, eu restabeleci cada uma das ligações daquele músculo. Eu só preciso que você faça aquele osso funcionar de novo e aguentar o peso dessa garota enquanto ela estiver de pé. Eu realmente não te pediria se não valesse a pena, Alye.

Star's SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora