Prólogo

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- Hanna, Hanna... - Do lado de fora Liliane bate na porta e grita.

Mas a filha não ouve. Está no chuveiro e ainda por cima, o celular está tocando no volume máximo sua música preferida Nobody's Home da Avril Lavigne. Leva um susto. Escuta alguma coisa. Uma batida furiosa que não combina com o som da música. Desliga imediatamente o chuveiro e, pingando estica o braço e para a música.

- O que foi mãe? Quer me matar de susto? - Pergunta irritada por ser interrompida.

- Filha, aconteceu algo horrível.

Pega a toalha e sai correndo, querendo saber o que aconteceu.

Sem saber como começar a contar, Liliane fica muda, apenas encarando-a, com o semblante de quem tinha acabado de ver fantasma.

- Fala de uma vez mãe. Até parece que alguém morreu.
- Hanna diz em tom de piada, mas pela cara que sua mãe faz, realmente alguém poderia ter morrido.

- Filha você precisa ser
forte... - Começou. Parecendo que a qualquer momento iria soltar uma bomba. Com essa frase seu coração já começa acelerar, mesmo sem saber absolutamente nada do que teria à mãe para contá-la.

Logo continuou:

- Ligaram... Ocorreu um acidente, infelizmente a Nina não resistiu.

Nina é sua melhor amiga, que a pouco mais de duas horas foi levada para o pet shop para o banho e tosa, sim, ela é uma cachorra, quer dizer, ela não é uma cachorra, ou é, mas para Hanna não. Sua mãe às vezes faz umas brincadeiras de mau gosto, e para ela essa com certeza era mais uma daquelas.

Percebendo que a filha não levou a sério o que disse, ela a envolve em um abraço, e só aí Hanna começa a sentir que sua mãe nunca falou tão sério antes.

Não era fácil digerir, e ela não estava desposta a digerir.

- Não pode ser! O que aconteceu? Cadê ela?
- Pergunta apavorada.

- Ela está no pet da avenida, cinco minutos daqui... Não deram muita informação, parece que se descuidaram, ocorreu um acidente... Estão nos esperando para informar detalhadamente, ressarce os nossos danos...

Nem escuta à mãe até o fim, ainda de toalha, coloca um vestido, sem nem pentear os longos cabelos ainda pingando, sai desesperadamente...

Chega esbarrando e empurrando tudo.

- O que vocês fizeram com ela? Cadê ela? - Aos berros Hanna pergunta.

O local está praticamente vazio. À recepcionista avista, e já sabendo a resposta, pergunta se ela é à dona da cachorra. Hanna aos prantos rapidamente afirmar, e percebendo que ela não está pra conversa, nem dá os pêsames e conduz em direção ao doutor.

Wil está sentado com os braços apoiado entre as pernas, e as mãos tocando a face, ao lado do corpo de Nina. Ainda não conformado consigo mesmo, pelo que tinha acabado de fazer.

Entre seus pensamentos de culpa, é interrompido por uma leve batida, logo em seguida a porta se abre, ele se levanta, à recepcionista inicia anunciar a presença de Hanna, mas ela não permite, já vai entrando, nem dirige o olhar para Wil.

Se debruça sobre o corpo de Nina, soluçando de tanto chorar, começa à balança-la, na tentativa de acorda-la, de traze-la de volta...
Sem nenhum sucesso, se ajoelha no chão, fica em silencio sem conseguir raciocinar por alguns instantes.

- Nina não morreu, matarão ela. - Sussurra em silencio, e então levanta.

Com sangue nos olhos, tendo a dor transformada toda em raiva. Olha para Wil, que está paralisado observando todo sofrimento que ele causou por uma inútil distração, e pergunta:

- Quem matou ela?

Sem deixa-lo pronunciar uma única palavra, completamente descontrolada vai pra cima dele, começa a estapear seu peito, gritando.

- Assassino!!! Seu assassino... Você á matou... Eu vou te matar!!!

- Por favor, se acalme, vamos conversar... - Wil diz tentando para-la.

Sem resultado, ele á segura firme, contendo-a.

- Seja forte, você tem que ser forte. Eu sinto muito... - Diz Wil olhando fixamente para seus olhos e pressionando seus braços, paralisando qualquer movimento.

- Me solta, me solta, me solta!!! Seu assassino, vai me matar também? - Grita Hanna se contorcendo toda, debatendo-se, em uma tentativa inútil de se soltar.

- Te soltarei quando você garantir que vai parar de agir como criança. Me deixe te explicar, foi um acidente, uma negligencia minha... Chama a polícia, denúncia, abre processo, mas pare de me chamar de assassino, entenda que estou tão mal quanto você, me bater, vai trazer ela de volta? Se sim, já teria feito isso... - Pela primeira vez ela o escuta quieta.

- Você nem conhecia ela. - Retruca Hanna.

- Claro que eu conhecia, cuido dela semanalmente a mais de 3 anos. Não conhecia você, que se diz ser a dona dela, mas nunca compareceu aqui.

- Você está querendo dizer que acha que eu não sou a dona? Ou era né?! Você a matou!

Ele permanece segurando ela, que já se encontra imóvel. Wil aproveita este momento, e espontaneamente a induz em um abraço, talvez por culpa, vontade de arrancar toda dor que causou a ela, ou talvez ele se enxergue nos olhos daquela frágil garota, que se esperneia de dor, que coloca pra fora, enquanto a dor dele está entalada por dentro, o remoendo todos os dias. Hanna fica sem reação, cansada e atormentada por toda dor que está sentindo, fecha os olhos, aconchega a cabeça nele, e por um milésimo de segundo esquece tudo...

- Não, não, me solta.
- Conseguindo se soltar, ela se desvencilha de seus braços. E dá um último recado. - Escuta aqui, eu vou embora, mas isso não acaba aqui. Não importa o que aconteceu, não quero saber, mas você vai responder por isso, na justiça. Vou fazer eles tirarem sua licença de veterinário, ou eu não me chamo Hanna!

Nesse momento seus pais aparecem na sala. Vem em direção a ela. Depois a Nina. Wil se dirige a eles.

- São os pais dela? - Pergunta.
- Precisamos conversar...

Hanna o interrompi.

- Não! Vamos embora, não escutem uma palavra desse senhor, a gente vai fazer ele pagar pelo que fez. - Diz Hanna para os pais. - Tira a gente daqui. - Eles vendo o quanto a filha está nervosa obedecem. Pegam Nina, que está sobre a maca e seguem para saída.

Hanna dá um último olhar de ódio para Wil. E diz:

- Nos encontramos no tribunal!!!

SubtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora