CAPÍTULO 6 - A APARIÇÃO

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Não aguentando devido tamanha exaustão, adormeceu depois de um tempo enquanto seu estômago gritava de fome. Acordou com uma onda de calor. Gotas de suor lhe escorriam por todo o corpo. Olhou pela janela que agora lançava escuridão, e depois desviou o olhar para o topo da escada. Ela deu um salto e ficou de pé. No topo da escada, existia um embrulho de lençóis encardidos que se mexia. Ela engoliu em seco, e subiu vagarosamente até ele. Mas ao chegar próximo o suficiente para poder tocá-lo, o lençol se encolheu até sumir, e um barulho à suas costas lhe chamou atenção fazendo com que ela tornasse à olhar ao fundo do porão. Não podia ser real. Sophie estava paralisada à sua frente com uma faca no meio da testa, uma expressão de infortúnio.

— Sophie... — gaguejou Katherine enquanto se pressionava contra a porta, com os olhos ainda fixos naquela imagem.

Sophie ficou imóvel, e de repente começou a chorar; lágrimas negras escorreram por todo seu rosto. Ela ouviu uma batida oca e quase caiu da escada. Alguém estava batendo à porta.

Katherine... — rumorejou uma voz do lado de fora.

E quando Katherine se virou para novamente encarar Sophie, ela já não estava mais lá.

Katherine... — insistiu a voz. — sou eu, Madeleine. Vou tentar pegar a chave de Laurine...

E ouviu-se passos apressados subindo pela escada. Já devia passar da meia noite, e Madame Laurine deveria está dormindo. Alguns instantes depois, a fechadura da porta emitiu um ruído metálico, indicando que tinha uma chave ali. Katherine desceu quatro degrais para se afastar da porta, e a porta se abriu. Madeleine colocou o rosto para dentro.

— Venha — murmurou.

Katherine saiu lançando um último olhar para o fundo do porão, e Madeleine trancou a porta novamente. Subiram o mais silenciosamente possível em direção ao quarto de Madame Laurine. Madeleine abriu a porta cuidadosamente, e pendurou a chave em um gancho preso na parede ao lado da porta. Laurine se movimentou na cama, e elas se apressaram para sair.

Chegaram ao dormitório e sentaram na beirada da cama de Madeleine, e enquanto eram banhadas por uma penumbra cinzenta, Katherine contou tudo sobre o que vira e ouvira.

— Você vai ter que se esconder durante o dia — disse Madeleine depois de um tempo —, até dar-mos um jeito de sair daqui.

Katherine olhava para além da parede de vidro ao fundo, pensativa.

— Não sei se consigo. A minha vontade é de, de... ela não pode achar aquela faca, senão, eu não sei do que ela é capaz de fazer...

— Eu joguei no poço — disse Madeleine —, assim que pude escapulir do olhar fuzilador da velha que nos lançou ódio durante todo o restante do dia. Prefiria que ela tivesse sido dilacerada no lugar dele. Gilbert não é nada comparado as atrocidades que Laurine faz.

Katherine olhou para as meninas que estavam deitadas, e questionou:

— O que fizeram com os pedaços de Gilbert?

— Ah, não sei... Luane disse que observou da varanda, Laurine cavar um buraco em um terreno distante daqui.

— Em todo caso... — disse Katherine olhando exclusivamente para Abel, que tinha uma expressão apavorada enquanto dormia — agora temos muito mais chances de sair daqui.

— É — respondeu Madeleine pensativa.

Enquanto elas pensavam no que fazer, ouviu-se um choro. Mas não o choro de Laurine ou de qualquer outra das meninas. Era um choro de bebê, do tipo que dão quando estão com muita fome. E enquanto olhavam para a porta do quarto à procura de verem o dono, viram um vulto negro de relance que passou extremamente rápido pelo corredor.

— Você não acha que...? — sussurrou Madeleine.

— É, acho — respondeu Katherine prontamente.

A noite se arrastou enquanto o estômago de Katherine tinha se conformado de que não devoraria nada aquela noite. Seria muito arriscado descer até a cozinha. Katherine foi para sua sua cama. Os olhos fitaram o teto cheio de escuridão, enquanto pensava em onde iria se esconder muito cedo no dia seguinte, e depois de muito tempo adormeceu. Aquelas aparições, vultos e vozes sem corpo, não significavam outra coisa: algo terrível estava para acontecer.

— Rápido... vamos Katherine, rápido! — murmurou Madeleine esganiçada ao pé da cama de Katherine enquanto o sol se espreguiçava ao fundo. — Madame Laurine pode entrar no quarto à qualquer momento...

Katherine saltou da cama, e correu atrás de Madeleine que foi para o fundo do quarto, e puxou sua cama para longe da parede.

— Você vai ter que ficar aí dentro por enquanto... eu só espero que ela não olhe no porão tão cedo... assim que eu conseguir, venho trazer algo pra você comer.

Katherine deu um sorriso sofrido, e a imagem de seu rosto ao fundo do buraco escuro foi substituída pela cabeceira da cama.

O MISTERIOSO ORFANATO DE MADAME LAURINE (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora