Raiva... Ódio... Mágoa...

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"Só que observá-la pra mim já não era o suficiente... América Terá que ser minha... Ela será minha! "






— América faça isso... América fique com Haanna... América não faça aquilo... Vai para o inferno! — imito com voz irritada.Ontem saturei durante almoço na casa dos Carsson.Tudo começou com uma pequena implicância de Richard com qualquer coisa relacionada a minha pessoa, me senti tão sufocada que estava incapaz de respirar perto dele, não quero ver ele nem pintado de ouro, ai que ódio! Ontem era uma chance para eu tentar saber mais sobre os Carsson, a família da Duda que estava toda lá, mas a todo momento o senhor rei da chatice ficava me chamando a atenção, teve alguns momentos que me deu nos nervos, o pior de tudo era me sentir travada, sufocada, Richard é de deixar qualquer uma louca de raiva.Hoje acordei com um humor péssimo, fiz minha mudança há uma semana e ontem deveria ter sido meu único dia de lazer com o que começo a tentar chamar de família, daí vem um estranho e estraga tudo com seu jeito ranzinza.Será que ele não se toca? Ele fica agindo como se fosse o meu pai.Nem papai age assim em relação a mim.Richard ficava falando em nome dele, dando ordens, me dizendo o que fazer, que deveria cuidar da Haanna, que deveria ficar com ela, eu mal conseguia acompanhar a conversa das meninas, não me enturmei e pela segunda vez desde que conheci Richard Carsson eu fiquei com a pior de todas as piores impressões possíveis a respeito dele. Estava estressada quando cheguei em casa, emburrada, só queria estar longe daquele homem arrogante e mandão, ainda quero, há mil metros de distância se possível.Richard Carsson é um velho enrustido em pele de um homem de trinta e poucos anos que adora infernizar a cabeça de qualquer pessoa com quem implica, não queria ter trazido para o lado pessoal, porém acho que ele fez isso justamente pelo fato de eu tê-lo tratado mal há duas semanas quando veio me trazer Haanna a pedido de papai.Quero que ele exploda também.Hoje é segunda, tive um dia de cão e para melhorar, levei uns berros do Jack por causa de uns papéis errados que coloquei na mesa dele, me sinto humilhada, magoada e irritada. Ele me mandou umas coisas no chat e nem visualizei, chorei horrores depois do horário de almoço, acontece que o meu primo muitas vezes é mais chefe do que parente e eu nem sempre sei lidar com isso. Culpei também o estresse de ontem, por isso eu estava tão sensível.Posso dizer que o meu único consolo é Haanna e ainda assim nem mesmo ela quis saber de mim hoje, ela está com papai e Sandy lá embaixo, estou deitada na cama depois de um banho — que deveria ser relaxante — que tomei há alguns instantes, queria poder deletar da minha mente o dia de ontem, o dia de hoje, tudo.Exausta!Fecho os olhos, depois que os abro olho em volta, esse quarto é enorme e espaçoso, a casa de papai é toda grande, a mobília bem ao estilo dele, coisas antigas, livros em prateleiras, papai tem até um toca disco na sala, ele sempre foi vidrado nessas coisas. Também tem um pouco da Sandy nessa casa, tem sofás de cores diferentes, flores e vasos com plantas, um ambiente alegre e muito colorido, a sala de visita tem cheiro de incenso e os banheiros da casa têm cheiro de aromatizador cítrico. A noiva do meu pai é uma mulher formidável. Até fotos deles tem na sala, me senti um pouco mal em não ter visto nenhuma foto minha quando me mudei no sábado, contudo, mesmo assim sei que preciso entender que há bastante tempo não faço parte da vida de papai, Sandy é sua nova realidade e preciso me adequar a ela.Algumas vezes sinto um pouco de ciúmes quando muitas vezes eu o vejo dando atenção para ela visto que papai nunca foi extremamente carinhoso comigo mesmo que não possa me queixar nesse sentido também já que estar com a Sandy mudou o meu pai de diversas formas, ela o tirou daquele casco que o revestia e com certeza se ele me perdoou foi por influência dela. Me sentir grata por ele ter me chamado para vir morar com ele me traz a sensação de mediocridade, por isso prefiro pensar que essa é uma segunda chance que estamos dando para nosso relacionamento.Meu celular toca, distraída atendo.— Oi!— Você viu as minhas mensagens?— Não senhor, algo importante? — já fico toda dura.— América não queria ter gritado.— Eu entendo senhor Carsson.— Por favor me desculpe, eu apenas estava com a cabeça cheia.— Tudo bem senhor Carsson, já passou.— Vou te dar um aumento esse mês.— Sim senhor, é muita gentileza da sua parte.Ele acha que dar aumento resolve, ele sempre faz isso quando faz falta de educação comigo, acha que o dinheiro compra paciência e amor com o trabalho... Com ele. Algumas lágrimas caem e nem sei o motivo, já estou cansada de saber que Jack é assim, ele sempre é impaciente e um grosso com basicamente todo mundo que trabalha perto demais dele inclusive até com a Duda, antes bem menos pois ficava mais nas outras filiais, agora nosso contato é diário e presente, mas fazia um tempinho que ele me não dava uns berros.— América por favor... Não foi minha intenção.— Eu sei senhor Carsson, tudo bem — falo a força. — Algo mais?— Não.— Ok, boa noite senhor Carsson, até amanhã, obrigada pelo aumento.E desligo.Seco as faces me sentindo uma grande idiota, fico deitada olhando para o teto, novamente meu celular volta a tocar, tenho certeza de que é o Jack, atendo novamente.— Sim senhor Carsson.— Olá América!Ai, que delícia, Richard Carsson me ligando! — berra meu subconsciente morrendo de raiva.Respiro fundo.— O que quer Richard?— Eu estou ligando para saber se você está bem, ontem parecia irritada.Porque eu estava, bem, ainda estou.— Estou bem — fungo. — Em que posso ajudar?— Você está chorando?— Não, não estou — digo tentando parecer concreta. — O que o senhor quer?— Estou no meu plantão.Não sei o que falar, não tenho o que falar, fico em silêncio escutando a respiração de Richard Carsson do outro lado da linha, ele é o homem mais esquisito que eu já conheci em toda a minha vida, fora as palavras de ordem de ontem, Richard sequer trocou mais que duas palavras comigo, ele apenas aparecia do nada e falava, se afastava e trocava poucas palavras com os outros primos, além de eu me sentir deslocada ele conseguiu me fazer sentir um pouco de vergonha por que eu parecia uma menina desobediente, quando não falava em nome de papai ele dizia em seu nome como se aquilo fosse o melhor pra mim.— Você está chorando?— Não — respondo. — Preciso desligar.— Por quê?— Haanna.— O que tem ela? Ela está bem?Estranho seu tom de preocupação imediata.— Sim, está na sala com papai, vou ficar com ela pois preciso dar um pouco de atenção para ela.— Poderia ficar comigo na linha por alguns minutos? Há pouco perdi um paciente.Nossa.Pisco um tanto atônita, me endireito entre os meus travesseiros, me sinto de repente travada, Richard perdeu um paciente, alguém que deveria salvar e morreu em suas mãos, isso deve ser dureza, mesmo para um médico no qual já deve estar acostumado com essas coisas.— Deve se sentir mal.— Era um bebê que nasceu morto.Meu corpo todo endurece.— O que houve para que isso acontecesse?— A mãe teve um AVC, faltou oxigenação para o bebê, ela já chegou já com morte cerebral, tivemos que tirá-lo às pressas, mas ele não resistiu, tentei várias manobras, porém já não havia solução.É péssimo ouvir isso logo de cara.— Sinto muito.— Nunca perdi um paciente em toda a minha vida.Estou bem mais que chocada.— Nenhum?— Nenhum!— Sério?— Precisa conhecer melhor os homens dessa família América e se tem algo sobre eles é que não mentem.— Jeremias mentiu.— Jeremias é um merda.Me sento entre os meus travesseiros, coloco os fonezinhos sem fio e emparelho no celular.— Na verdade ele não mentiu, ele apenas não assumiu o seu pai, ele nunca negou para mulher dele que tinha o Joseph.Não sei os motivos de estarmos falando sobre isso, mas se for algo que fará bem para ele ok.— Ele nunca quis papai.— Tem momentos na vida de um homem, América, que ele deve escolher entre o que é correto e o dever.— Foi um dever dele abandonar o meu pai?— Ele tinha um dever com a família.Família? Desde quando filho não é família? Pelo que vejo ele tem uma visão deturpada de como funcionam as coisas na prática.— Assim como você, suponho.— Não precisa gritar comigo.Estou gritando? Estou Gritando! Estou um poço de estresse é verdade, mas é inadmissível que fale coisas do tipo.— Estou estressada.— Por quê?— Por sua culpa.— Minha culpa?— Foi o que eu acabei de falar.Richard suspira e sei que o chateei mesmo que essa não tenha sido minha intenção.— América apenas estava cuidando de você e de Haanna.— Cuidando?— É, você não precisava ficar perto do tio da Maria, ele não é homem para você.Achei o Will gentil e legal com todos, claro que eu não fui com intenção alguma de querer algo com ele, fui porque a Duda me convidou, sei também que se não fosse, meu pai iria achar ruim por achar que veriam minha ausência como desfeita. O Will é bonito, carismático e um bom homem, todavia para mim ele ainda continua sendo um grande estranho, que ideia de o Richard achar que um homem que nunca vi na vida e eu teríamos alguma coisa. Ideia absurda.— Eu não sou uma criança, Richard, eu tenho vinte e quatro anos.— Eu sou mais velho, sei o que é melhor para as minhas primas.— Não sou sua prima.— Tem razão, você não é, pronto, é isso o que quer que eu diga? Estou tendo uma noite péssima, liguei para a única pessoa no mundo com quem quero conversar e sou tratado como um merda, como um ninguém, depois eu que sou o robô sem sentimentos, o frio, o sistemático, não é?Tenho que falar algo... Tenho que falar algo... — Se não fosse tão arrogante eu não estaria tão brava, você é chato, Richard.— Você se irrita com facilidade, América.— Não tenho sangue de barata.— É verdade, você é uma Carsson.— Eu sou uma Verona.— Que seja.Silêncio na linha.Olho para meu quarto, a bagunça que está aqui depois da Haanna deixar alguns brinquedos espalhados no chão do quarto, preciso organizar algumas coisas antes de descansar, mas não consigo dar um ponto final na conversa.— Acalmou?— Sinto muito pela sua perda, sei que deve ser difícil.— Muito obrigado, América. — responde automático.Robô!Acho esquisito quando ele me chama por meu nome de batismo, todo mundo que me conhece basicamente me chama de Mandy, é o meu apelido de infância, minha melhor amiga Dianna de infância colocou quando eu tinha uns sete anos é uma pena que com o passar dos anos Dianna se afastou de mim e que hoje nós mal trocamos cartões de Natal. A verdade é que eu cresci e segui com minhas decisões e isso mudou até a forma como me tratam nos dias de hoje. — Semana que vem eu estarei aí, podemos nos ver?Richard quer me ver?— Por quê?— Por que eu... Quero?— Grosso!— Ok, então não, boa noite América, até.E desliga na minha cara.Olho para o celular mais que incrédula, jogo o aparelho na cama e esperneio, definitivamente esse homem não é normal.— É um louco, só pode!E a minha semana só está começando.






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Apenas Sua - Parte 1 - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora