O Começo

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A luz do sol não entra pela janela, é a inconfundível chegada do inverno. Deveria ficar feliz porque significa que a escola ficará fechada por algum período, por causa da densa nevasca, e vou ter várias horas para ficar trancada dentro de casa com o meu irmão Hobby, que tem apenas 6 anos.
Consigo sentir o cheiro do café entrando pela porta que está apenas escorada, nunca a tranco pois os pesadelos do Hobby são frequentes e isso significa visitas noturnas ao meu quarto, e uma série de histórias sobre anjos contadas por mim.
A lareira está acesa, seu fogo queima com muita intensidade, e eu posso jurar que se eu ficar olhando para ela com muita atenção eu posso ver imagens através das chamas. Entro na cozinha meu pai está sentado na mesa de madeira rústica lendo um jornal, minha mãe está preparando pratos com ovos e bacon, ela deixa tudo o que está fazendo, e me abraça calorosamente passando a mão sobre meus cabelos longos e pretos, mais meu pai apenas levanta os olhos e diz :
- Bom dia Grace, por favor amanhã tente acordar mais cedo.
David Beckham é o meu pai, ele trabalha na parte administrativa de uma empresa responsável por dar voz a reclamações na cidade vizinha, e minha mãe é desempregada .Moramos no estado de Michigan, atualmente em uma cidade chamada Lansing.
Hoje será um dia importante, é o campeonato estadual de Hóquei de gelo. Meu irmão caiu na graça dos torcedores por ser o melhor do time, e muitos garantem que não vai demorar muito para ele se transformar em um capitão, dizem que ele é uma estrela mirim.
Eu entro no carro, viajamos pela estrada principal, o rádio canta em um volume razoável minha sigle favorita, I dont't Know my name mais é o suficiente para o meu pai reclamar e desligar o som, vejo o rosto dele pelo retrovisor crítico e severo como sempre. Se a algo que aprendi é que certas coisas não mudam e o meu pai é uma delas. Hobby está muito ansioso, posso sentir sua respiração ofegante, é como se ele estivesse acabado de correr em uma maratona, só consigo apertar a mão dele em forma de conforto . Apenas ouço a buzina e olho para frente, consigo ver o caminhão vindo em nossa direção e tudo fica preto, é como se meu corpo estivesse flutuando é como se eu fosse o vento, uma fumaça, uma inexistência, e então um choque, e mais um, então eu abro os meus olhos.. Nada faz sentido, estou deitada no asfalto sem blusa, com paramédicos ao meu redor e ligado ao meu corpo a um desfibrilador elétrico, estou coberta de algo morno,posso dizer que é sangue. Os médicos dizem que vou ficar bem mais eu não consigo pensar em nada além dessa onda de dor insuportavel que me faz desejar a morte arduamente e então eu apago.

Acordo e a minha cabeça está girando, não consigo focar em nada. Não sei quanto tempo se passa enquanto eu tento enxergar algo, mais quando consigo, percebo pelos tubos ligados a mim que estou em um hospital, mais a algo mais aterrorizante algo que não entendo, o por que do meu corpo estar imóvel. Penso que deve ser coisas da minha cabeça ou um sonho maluco, mais eu não posso nem me beliscar para ter certeza disso.
Um homem alto de cabelos pretos entra no quarto, se apresenta como o médico que tem cuidado do meu caso, e diz que eu tenho tido uma ótima melhora, tento perguntar o que aconteceu mais não consigo falar, não consigo raciocinar e as palavras desaparecem do nada da minha mente. Mais então eu me lembro do caminhão, da minha família, das mãos do Hobby que mesmo no frio eram mornas. Eu quero gritar perguntar o que aconteceu minha alma clama por respostas, mais meu corpo não responde.
Acho que o terror está claro no meu rosto, o doutor para a sua explicação e olha fixamente para mim e diz:
- Não se preocupe, você vai saber. Mais nesse momento pelo bem da sua saúde eu não posso dar detalhes do seu acidente.
MEU ACIDENTE? Então realmente algo aconteceu, e minha família? E a minha mobilidade? Como eu vou acabar com esse abismo que eu me encontro?

Sobrevivendo ao AmanhãWhere stories live. Discover now