Cap.01 .Lua Cheia.

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Bem-vindos a Overland, uma pequena cidade de quatro mil habitantes onde nada acontece. Quer dizer, tirando o fato de todos estarem se divertindo em um baile de escola, com vestidos e danças aprovados pelo comitê de mães defensoras dos bons costumes. Todos, menos eu.

Ter um irmão gêmeo que paga de valentão e tem um pequeno grupo de seguidores que se auto intitulam gangue é sinônimo de status "solteira para sempre" e saídas supervisionadas.

Mal sabia meu pai que Jared, meu irmão, adorava testar a potência de sua nova moto no píer, ponto de encontro dos amantes da velocidade, onde as apostas clandestinas eram feitas abertamente.

— Lizzie, quero que segure firme, precisamos fazer esses intercambistas comerem poeira.

Jared nunca fugia de um desafio, precisava provar que era o vencedor. Homens!

— Será que vamos conseguir chegar ao baile inteiros? Ir com o próprio irmão já é o cúmulo do desespero, mas chegar descabelada e com o vestido amarrotado ninguém merece.

— Não se preocupe, vou bater em qualquer um que rir de você.

Me acomodei desajeitadamente na moto. Algumas vezes, mentira, em todos os momentos, me perguntava se era adotada.

Como esperado, o vento bagunçou meus cabelos recém-arrumados no salão. Jared se negou a ir devagar, e não demorou muito até que o xerife Sanders ligasse as luzes, indicando uma perseguição. Meu irmão riu alto, acelerando cada vez mais, até que entrou no sítio dos irmãos Cain, nossos vizinhos.

— Você ficou maluco? — Gritei, irritada. Ele havia acabado com meu visual, minhas chances de ser rainha e de arrumar um namorado.

— Calma!

— Seu idiota! — Chorei como uma criança. Minhas mãos coçavam de vontade de agarrá-lo pelo pescoço e esganá-lo lentamente.

— Ainda podemos chegar a tempo. Vamos apenas tirar essas folhas do seu cabelo e do vestido...

— Eu quero ir para casa.

— Se é o que você quer! — Bufou, chateado. — Atravesse a cerca e tome cuidado para não acordar o papai ou pode me esperar aqui até que eu despiste o xerife Sanders.

Jared, o infame, me deixou sozinha na escuridão, no meio do nada, em território inimigo. Tudo bem, estou exagerando. Apesar dos avisos de "Proibido Ultrapassar", os vizinhos não eram tecnicamente inimigos.

Quantos minutos deveria esperar? Caminhei lentamente para a cerca, com meu salto agulha ameaçando prender em todos os buracos no caminho. Isso foi antes de descobrir que não conseguiria passar por debaixo dela com meu vestido de festa azul-celeste, que me custou um ano da minha escassa mesada.

Tirei meus delicados sapatos e meu celular da pequena bolsa dourada que encontrei na caixa de roupas da mamãe, aquela que ainda não foi doada para a caridade depois que ela se foi devido ao câncer.

A pouca luz do celular não me ajudou em nada. Por que o sítio do vizinho parecia uma floresta? Comecei a me sentir como Maria, de João e Maria, só que sem a parte dos miolos de pão. Decidi dar mais alguns passos antes de pedir socorro ao meu pai e ficar de castigo até os oitenta anos.

— O que está fazendo aqui? — Perguntou Tyler Cain, nervoso. Por acaso ele estava tirando a roupa na escuridão? O que era muito estranho. Aliás, Tyler e seus dois irmãos eram muito estranhos. Para começar com Trevor, o irmão mais velho, que era praticamente um recluso em seu sítio. O segundo irmão estava no último ano e não conversava com ninguém além de Tyler.

Tyler e eu estudávamos na mesma sala de química e matemática. Não preciso dizer que sou um fracasso nas duas matérias. Por outro lado, Tyler parecia ser bom em tudo. As meninas se derretiam por onde ele passava e, mesmo no escuro, ele conseguia ser mais bonito do que eu achava que fosse. Seus cabelos dourados combinavam com seus olhos incrivelmente azuis, sem esquecer a pele bronzeada, os lábios perfeitos e os ombros largos. Tyler era muito alto, assim como os irmãos.

— Vai me responder ou não? — Insistiu ele, me trazendo de volta à realidade.

— O que você está fazendo apenas de cueca boxer? — Perguntei, refletindo a luz do celular em seu corpo tonificado.

— Estas são as minhas terras, e não tenho que te dar explicações — disse, agarrando meu braço. — Quero que volte para o seu sítio.

— Acha que quero invadir suas terras para te ver pelado? Desculpa, mas você não é meu tipo.

Tyler era tão confiante que parecia não acreditar nas minhas palavras.

— Apenas me mostre a saída.

Soltei seu braço, mas não antes de tirar uma foto de Tyler.

— O que você está fazendo? — Perguntou ele, quando esmagou meu celular com a mão.

Fiquei em estado de choque. Como alguém esmaga um celular com as próprias mãos? E como eu explicaria isso ao meu pai?

— Me desculpe, não queria fazer isso.

— Acho que vou procurar a saída sozinha.

Me virei antes que o idiota dissesse mais alguma palavra. Como meu dia passou de ruim para catástrofe total?

— Prometo te comprar um celular novo.

Bonito e babaca, vai entender! Pensei, enquanto segurava o vestido e começava a correr.

— Está indo para o lado errado.

Eu não me importaria se o chão se abrisse, desde que ele não estivesse me seguindo.

— Eu falei que está indo para o lado errado — insistiu o rapaz, que apareceu na minha frente, com os olhos totalmente vermelhos.

— Seus olhos... — Gaguejei.

Vários uivos me fizeram ficar alerta. Parecia que seríamos atacados a qualquer momento.

— Quer saber? Vamos para a minha casa.

— Eu não vou para sua casa — Neguei com a cabeça.

— Tarde demais, eles já estão aqui.

— Quem? — Perguntei, assustada.

— Por favor, quero que venha para minha casa.

Toda mulher tem um radar de perigo, e o meu estava explodindo. Não sei por que, mas acabei concordando.

— Tyler — disse um homem completamente nu, saindo de trás das árvores, seguido por vários homens.

Tyler virou meu corpo e me abraçou tão rápido. Certamente, ele não queria que eu soubesse que seu sítio era um daqueles pontos de encontro para nudistas.

— Vejo que está acompanhado — disse o homem. — Pode compartilhá-la?

Compartilhar? Esse cara tinha sérios problemas.

— Não.

— Sabe das regras.

— Se a garota é sua, deve marcá-la.

— Não posso.

— Foi o que pensei. Meus meninos estão doidos para desfrutá-la.

— Me perdoe — sussurrou Tyler antes de me morder profundamente no pescoço.

Gritei de dor e tentei afastá-lo, mas ele era forte. A dor era tanta que acabei desmaiando em seus braços.

No outro dia, acordei com os primeiros raios de sol no meu rosto. Tentei me cobrir, e quando passei a mão pelos lençóis, descobri que não estava em casa.

Uma vida inteira passou pela minha cabeça, e quando afaguei meus cabelos, percebi que estava dormindo no colo de alguém. Abri os olhos, assustada, e tudo que consegui dizer foi seu nome.

— Tyler.

O irmão do Alpha.Onde histórias criam vida. Descubra agora