ENTRE[LAÇOS]

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Eu estava deitado olhando meu reflexo no espelho acima de nós. O único barulho, agora, era de nossa respiração ofegante. Tudo o que eu sentia era seu corpo encostado no meu, seus lábios nos meus, nossas mãos entrelaçadas, nossas digitais se encontravam tão perfeitamente que eu chegava a pensar que aquilo tudo, não passava de um sonho que poderia acordar a qualquer momento. Deitado sobre seu peito, eu podia ouvir o som que o coração dele fazia, eu podia sentir seu cheiro ainda mais, eu podia me apaixonar mais.

Ficamos ali sozinhos, sem trocar uma só palavra. Apenas vivendo aquele momento que parecia ser o último de nossas vidas. As horas havia se passado e ainda continuávamos entrelaçados, nus, sem nos importar com o que realmente importava. Eduardo se levantou me despertando a curiosidade em saber para onde ele iria. Como se tivesse lido meus pensamentos, ainda sentado na cama, vestindo sua calça ele respondeu minha dúvida:

– Precisamos ir. Meu turno já acabou, e você vai pagar uma muta alta por usar o quarto mais de duas horas. – Ele disse.

– Não importa. O que importa é que estou com você. Quanto ao dinheiro, não se preocupe. – Eu respondi me inclinando em cima dele e lhe beijando a nuca. Com minha mãos em seus braços eu pude sentir que havia se arrepiado.

– Mesmo assim, Felipe...

– Não diga nada. – Sussurrei em seu ouvido. Ele se virou e nos beijamos mais uma vez. O gosto do beijo dele era tão bom que eu sentia falta de tempos em tempos. Um gosto marcante, um jeito de amar que me fazia sentir que estava protegido de tudo mal, longe de toda a maldade que me cercava, ele era meu porto seguro.

– Felipe, é serio, precisamos ir. – Ele disse. E sua voz era doce e suave.

– Está bem, mas vamos para um lugar nosso! – Ele me lançou um olhar questionador. –Surpresa.



O cheiro de café recém coado adentrou o quarto de janelas abertas com cortinas que se balançavam lentamente com o vento. Esse mesmo vento frio fez Eduardo tatear as mãos por cima do lençol branco, mas o que procurava não estava ali. Ele abriu os olhos, assustado, e se lembrou da noite passada, havia sido perfeita. Os flashes da memoria, os sussurros, as besteiras no ouvido, os dedos entrelaçados e os gemidos. Brotou em sua boca um sorriso bobo. Não fora a sua primeira vez, mas foi a única vez em que se sentiu realizado por completo, que sentiu-se vivo, vivo por dentro e por fora.

E achar que tudo havia sido um sonho, não era de se admirar. Poderia ser, mas ele sabia que não era, havia acontecido mesmo tudo que sua mente agora lhe relembrava. Ele observou de leve e sutil a cama amaçada, o travesseiro contia dois fios curtos de cabelo. Ele pegou o travesseiro e o levou ao nariz e sentiu o cheiro delicado, lhe impregnando. Afastou por um segundo o travesseiro e novamente o levou ao nariz sugando para dentro de si, o cheiro suave de erva doce, tão delicado que se pudesse inspirar aquele cheiro o resto de sua vida, assim faria.

Deixando o travesseiro branco cair sobre a cama, olhou o criado mudo, o isqueiro azul, aquele que acendeu seu cigarro no banco daquela praça, onde ele esperava Felipe pagar a conta. Ali, sozinho, ele se lembrou de cada detalhe da noite. A timidez na entrada do quarto, sua vontade de sair correndo dali, os beijos, as caricias as bobeiras ditas sem pensar, o sexo quente e voraz, perigoso, vertiginoso que se submeteu a se entregar. Ele  vestiu sua calça de moletom que havia sido jogada no chão a noite passada devido a voracidade com que as coisas foram acontecendo depois que eles chegaram ate ali. Flashes foram lhe preenchendo a mente e lhe fez se arrepiar. O quarto era meio escuro, por causa das cortinas que tampava a claridade da porta de vidro que o separava da sacada. Ele avançou um passo ao se deparar com a porta entreaberta. Ao arredar a cortina para o lado, descobriu que a vista ali de fora era a mais encantadora da qual já havia visto. Sentiu sua pele se arrepiar com a brisa que lhe atingiu sorrateira. O mar a sua frente, o nascer do sol lhe agraciando umas das manhãs mais lindas. Poder observar a natureza nascer, crescer e florescer era um dos melhores espetáculos que a vida pode oferecer.

EDUARDO (Romance Gay) - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora