Prefácio

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A última noite não havia sido diferente de tantas outras que já se passaram, e se passaram muitas. Aquela não seria a primeira e certamente não seria a última, seria mais uma noite excitante e de prazer. Talvez não para mim, mas para quem assistia e consequentemente quem fazia parte de todo aquele jogo. Eu já havia me acostumado com aquelas luzes piscando e ofuscando o foco, as que piscavam violentamente e as que pairava naquele lugar nunca inerte. Era uma mistura de cores que eu quase me sentia preso dentro de um prisma, sufocado pelo meu próprio egoismo, pelo meu ego que crescia descompensadamente.

Aquela lua no céu, à que raramente eu conseguia admirar, sabia de minha corriqueira vida. Apaixonar era um erro, era proibido, era uma apunhalada pelas costas dada pela nossa própria sombra. Eu estava sentado do lado de fora da boate, num banco de praça, e o frio me atingia. A fumaça que saía por entre meus lábios se esvaía pelo ar, e assim é minha desgastante vida. Ser um garoto de programa não era o que eu exatamente queria ser quando criança. Eu sonhava em ser um medico, salvar vidas, talvez um arquiteto, construir moradias. Mas sou um garoto de programa, e eu não sei o que isso me traz. Entre todos esses anos, eu não fui matemático, cientista, se quer um astronauta que desbrava sua Lua. Mas aprendi com essas parcela que cada um de nos tem para com este mundo, que as vezes soa estrangeiro, mas que ainda sim, se torna meu único lar.

Me chamo Eduardo, e se uma coisa eu fiz nesta vida foi sofrer. Amores antigos me atormentam, ecoam pela minha mente. Os funerais do passado são fantasmas que me impede de crescer. Eu poderia estar transando com um dos caras lá dentro, eu poderia apagar minha vida como o toco de cigarro que joguei no chão e amassei com a sola do meu sapato. Mas eu estou aqui fora, sentado neste banco, com o braço arrepiando de frio, e conversando com meus pensamentos que insiste em querer me afogar. Tentando desfazer o pensamento de ter voltar para dentro daquele lugar.

Eu estava naquela noite confuso. Eu pensava se queria mesmo continuar naquela vida, eu estava cansado daquilo tudo. Eu acabara de sair de uma seção de massagem em um casal, e meu dia parecia ser o pior em tempos. Quando o gerente da boate me chamou dizendo que eu tinha um cliente especial. Fiquei frustrado porque pensei que sairia mais cedo, e que pela primeira vez em dois ou três meses eu poderia dormir com a noite ainda alta no céu. Sem questionar, eu fui ao banheiro dos funcionários e tomei um banho, talvez aquele fosse o vigésimo aquele dia. Me preparei para receber o cliente, que segundo o gerente, queria apenas uma transa.

No banho, eu pude ver o quanto estava cansado. A água que saía do chuveiro era quente e reconfortante, era como um alívio, mesmo que passageiro. Eu precisava de alguém para me ouvir, desabafar. Eu precisava de descanso.

Eu olhei para a água seguindo o mesmo caminho de sempre até o ralo. E era assim minha vida, o meu destino seria o mesmo, e isso foi escolha minha. Eu não podia desistir agora no meio do caminho. Mas eu tinha um sonho, e talvez desistir da vida que levo seja a quebra exata da ponte que atravesso, seja minha passagem as trevas.

Desliguei o registro do chuveiro e me sequei devagar, com o pensamento ligado a aquela noite estressante. Desembacei o espelho e olhei o meu reflexo morto. Olheiras começavam a brotar no quanto de meus olhos, meu rosto não era mais o mesmo de antes. Uma feição alegre, hoje é apenas um borrão de três elementos: olhos,nariz e boca, nada mais. Ouvir o barulho da porta sendo aberta e disfarcei o semblante de funeral. Élton, um dos meus amigos, talvez o que me levou aquela vida eu não sei dizer o certo que mais teve culpa.

- Morreu ai dentro Edu? - Ele perguntou se aproximando de mim e se sentando no banco embutido na parede.

- Quase. - Dei um sorriso forçado enquanto me vestia.

EDUARDO (Romance Gay) - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora