Capitulo I

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Os corredores eram cinza e sombrios, as batidas do salto contra o piso produziam ecos que perturbava o silêncio aterrorizante da sala de recepção do manicômio. A doutora Harleen Quinzel estava a duas semanas estagiando em Arkham, e estava quase se habituando ao clima tenso e perturbador do lugar.

Passou pela secretária e disse um "bom dia" com um sorriso eufórico, mas a morena sentada atrás dos monitores apenas assentiu com a cabeça, demonstrando certo desconforto. Quinzel deixou passar despercebida essa reação, pensou que talvez o fato de estar diariamente num ambiente com pessoas insanas estivesse afetando a cabeça da jovem. Ela, sendo psiquiatra, por vezes tinha que chegar em sua casa e respirar fundo; como se sentisse sufocada no trabalho.

Foi até sua sala com passos largos, fechou a porta e sentou-se atrás de sua mesa repleta de papeis, um notebook e algumas fotografias da família. Gostava de ser psiquiatra, a mente humana sempre a fascinou, e querer entender o porquê pessoas normais se tornavam psicologicamente insanas era sua paixão.

Apanhou uma pasta amarela nas mãos e começou a folhear, lendo as ultimas anotações sobre um de seus pacientes, que atenderia dentro de alguns minutos. Era uma mulher, de vinte dois anos de idade. Tinha esquizofrenia grave e transtornos de personalidade. Matou os dois filhos afogados e depois os decapitou, colocando as cabeças em jarros de flores para enfeitar a mesa. Quando confrontada sobre a atitude, ela jurava que o marido – falecido – disse que os filhos eram demônios encarnados.

A doutora ouviu uma batida fraca na porta, mas antes de responder, o homem gordo de terno marrom já estava dentro. Era seu chefe, Gordon, segurando uma xicara de café numa das mãos.

– Bom dia doutora Quinzel – Disse ele, de forma automática.
– Bom dia Sr. Gordon, com foi o final de semana? – Ela disse, com o bom humor natural. Ele se encostou à parede ao lado da porta e tomou um gole do café.
– Bem... As mesmas coisas de sempre – Disse um tanto quanto constrangido, não mencionou a tragédia que aconteceu com sua filha.
– Ótimo... Se me der licença, tenho uma sessão agora – Respondeu Harleen já se levantando, mas Gordon fez um gesto com as mãos para que ela voltasse a se sentar.
– Não será necessária, doutora Quinzel. – Começou – A paciente 140 se suicidou na hora do banho, usando a toalha.
Harleen Quinzel abriu a boca num o, completamente chocada com a noticia e também com a naturalidade com que o diretor anunciou. Ela estava convencida que as sessões estavam dando resultados, e na sexta feira durante a sessão sua paciente parecia até mais controlada; não precisou de sedativos e nem mesmo negou o assassinato, assumindo a culpa totalmente.

– Eu não entendo... – Começou a doutora, voltando a se sentar.
– Essas coisas são comuns por aqui, doutora Quinzel. – Se desculpou Gordon de uma maneira sentimental – Te aconselhei a não se apegar aos pacientes, lembra?
Ela balançou a cabeça em afirmação, arrumando os óculos que escorregavam pelo nariz.
– Tudo bem... Eu me acostumo. De qualquer forma, tenho outras sessões por hoje. – Ela se recompôs, e começou a escrever "arquivo morto" na pasta da sua ultima paciente.
Gordon concordou, e ia saindo da sala quando Harleen o interrompeu:
– Não tem ninguém pra preencher esse horário? – Questionou de maneira profissional.
Gordon ponderou para responder, e a doutora percebeu que estava sofrendo de ansiedade; mas não iria analisar o seu chefe. Por fim, respondeu de maneira superficial:
– Não, não há ninguém – Suspirou – Se aparecer algo te aviso – E saiu sem esperar pela resposta.

Ela achou a atitude dele estranha, assim como a atitude da recepcionista. "Existe algo que eu não sei?" pensou consigo mesmo, mas abandonou a ideia e decidiu visitar seu segundo paciente mais cedo.
Joanna era uma garota de apenas quinze anos, e estava a oitos meses em tratamento intensivo por conta de bipolaridade. Também era uma sociopata, matou seus pais e o irmão mais novo a machadada. Quando confrontada sobre a atitude, dizia apenas que eles não a deixavam viver em paz.
A doutora Quinzel entrou na cela na garota, que estava usando algemas, mas não era mais necessária a camisa de força; já que ela deixou de ser agressiva depois das sessões com Harleen.
– Bom dia Jona – Disse Harleen ao entrar. Era um apelido carinhoso dado a paciente. Gordon reprovava essa ideia, dizia que fazia sentir apego. Mas Harleen discordava, ela dizia que isso fazia com que a pessoa se sentisse a vontade.
– Eae doutora – Cumprimentou Joanna, do típico jeito adolescente.
Harleen se sentou na frente da ruiva de olhos azuis, apoiando suas mãos na mesa de metal que estava entre as duas. Tirou seu bloco de anotações.
– Quer começar por onde hoje? – Perguntou gentilmente a adolescente. Ela dava essa autonomia aos seus pacientes, forçava apenas quando necessário.
Joanna olhou para os lados, procurando alguém que estivesse escutando. Tinha apenas dois guardas na porta da cela, mas eles nunca prestavam atenção nas sessões.
– Você viu quem chegou sexta a noite? – Sussurrou para a doutora, de maneira divertida. Parecia até que estava com uma amiga numa festa do pijama, contando a ultima novidade da novela.
– Joanna, estamos aqui para falar de você – Anunciou Harleen, mas estava curiosa.
– Ele é estranho, passou por aqui – Joanna ignorou completamente as palavras da doutora – Senti um arrepio até na alma.
– Quem? – Questionou Harleen de forma automática. Não deveria estar dando trela para esse tipo de conversa.
– O homem de cabelos verdes... – Ainda sussurrava – Foi para a segurança máxima.
– Como você sabe disso tudo? – Questionou a doutora, atônita.
– O Benny me disse – Ela respondeu sorrindo. Sabia que o segurança poderia se dar ferrar por dar informações sobre outros pacientes para os internos. Mas ela disse mesmo assim, não se importava com os outros.
Era por isso que estava ali.

The mad part of me - JorleyWhere stories live. Discover now