Caminhou com passos largos até a ultima parte do manicômio, onde duas portas de aço com senha e identificação biométrica separavam os loucos dos insanos. A segurança máxima contava com o dobro de guardas que a habitual, e lá eles tinham permissão para matar. As armas tinham munição de verdade, diferente das da ala normal que eram carregadas com tranquilizante.
Ela não tinha acesso à senha das portas, pois não atendia ninguém lá dentro até então. Um dos guardas a observou com cautela quando mostrou seu crachá e pediu permissão para entrar.
– Veio pelo novo paciente? – ele perguntou, enquanto pedia permissão no radio para Gordon.
– Sim. – disse secamente. Escutou Gordon a liberando pelo radio, e com um estalo as portas se abriram.
– Terceiro corredor à direita, ultima sala – Informou o guarda. Agradeceu silenciosamente.Era frio lá dentro, e diferente das celas comuns, aquelas eram completamente fechadas por portas de aço. Não havia janelas e nenhum fecho de luz do dia podia penetrar. As luzes eram amarelas e fracas, deixando tudo muito macabro. A doutora arrumou o jaleco com mais força sob o vestido preto que ia até abaixo de seus joelhos. Quando estava quase chegando a ultima sala, já pode ouvir uma risada estranha. Não era uma risada espontânea, parecia mais como um tique nervoso. Na porta da ultima cela estavam quatro guardas fortemente armados, e a olharam com duvida quando se aproximou.
– É a psiquiatra? – Um deles perguntou e Harleen mostrou suas credenciais. Uma policial feminina foi ao seu encontro e começou a revistar.
– Você não pode entrar com isso – Disse ela, tirando uma caneta do bolso do jaleco.
– Mas ele esta na camisa de força – Argumentou.
– Doutora, nunca confie em pedaços de panos quando eles seguram pessoas como ele – Ela disse, e Quinzel percebeu que falava sério. Concordou.
– Se quiser anotações – A policial continuou – Traga um gravador da próxima vez.Depois da revista eles abriram a porta, mas dois policiais entraram com ela.
– Não é necessário – Respondeu passando pela primeira grade.
– Nós dizemos o que é ou não necessário, certo? – Um deles respondeu de forma rude.Passaram pela segunda grade e ela já pode vê-lo. Estava sentado de costas, encarando a parede que tinha um desenho feito com carvão de um morcego despedaçado. Estava com uma camisa de força e com os pés algemados ao chão. Os guardas ficaram na porta, e a doutora caminhou dez metros em direção onde ele se encontrava. Parou na sua frente, se sentou na cadeira de metal que ficava grudada ao chão. Apoiou os braços na mesa de metal que os separavam e ficou esperando ele olha-la.
Mas ele parecia vidrado no desenho na parede. Seu sorriso era sombrio, e os dentes de prata refletia a luz que estava em cima de ambos. Tinha tatuagens pelo rosto. Não tinha sobrancelhas, o que deixava seu rosto sem qualquer tipo de expressão. Os olhos eram esmeralda, a pele extremamente branca e os lábios de um marfim profundo.
– Então... – Harleen falou um pouco alto, porém receosa. Ele olhou instantaneamente para ela, como se tivesse saído do transe.
– Você é um anjo? – Perguntou com o sorriso largo.
– Sou sua nova psiquiatra – Respondeu constrangida.
– Hahahahahaha! – A gargalhada que ele soltou a fez dar um pulinho na cadeira, mas se recompôs logo. Ajeitou os óculos e voltou a encara-lo.
– Por que não me diz seu nome? – Perguntou.
– Por que não me diz o seu? – Ele retrucou, com humor na voz.
– Vamos jogar um jogo. –Falou mostrando um sorriso tímido.
Ele se inclinou para frente, e Harleen pode ver os guardas dando um passo em direção ao coringa.
– Acho que você não vai gostar de brincar comigo... – Sussurrou e ela sentiu um calafrio por trás da nuca.
– Por que um palhaço? – Ignorou seu ultimo comentário, estava sendo mais difícil do que imaginava.
– Alguém questiona o Bats por que dos morcegos? – Ele voltou a encostar-se na cadeira, cruzando as pernas e fazendo as correntes soltarem um ranger. Os guardas voltaram à atenção para os dois segurando as armas com força.
– Não, por que o Batman não é... – Se deteve antes de continuar a frase, mas ele compreendeu.
– Louco? – Sorriu largamente – Acha que sou louco, Doc.?
– Desculpe, eu não quis dizer... – Começou, mas ele balançou a cabeça fazendo estalos coma a língua em reprovação.
– Mas já disse... – O maldito sorriso não saia da face do palhaço.
– Seu horário acaba em cinco minutos – Anunciou a loira, desapontada.
– Sabe Doc... Eu me sinto muito sozinho aqui. – A voz do homem ficou manhosa – Poderia me trazer algo para eu me distrair na próxima?
Intimamente, Harleen estava com o coração partido. Ignorou completamente o fato de ele ter matado mais de cem pessoas em uma explosão há semanas atrás, e conseguiu enxergar nele um menino assustado.
– Claro – Sorriu – Vou ver o que posso fazer.
Ele deu uma piscadela para ela, que começou a suar. Saiu da cela e só então pode respirar. Não sabia o que havia acontecido ali, ao mesmo tempo em que estava com medo, também estava fascinada.
Arrumou suas coisas na sua sala, mas antes de ir embora passou na sala do Gordon.
– Queria te agradecer por me deixar assumir o caso – Falou timidamente sem entrar completamente na sala, ficou no batente da porta. Estava constrangida pela briga de mais cedo.
– Então você pegou mesmo o caso? – O diretor parecia desapontado.
– Não foi tão ruim como falou. – Ajeitou os óculos – Ele não parecia um monstro.
Gordon suspirou e reprimiu uma lágrima ao pensar em sua filha.
– Ninguém quer se parecer com um. – Falou simplesmente, e antes que ela pudesse responder fez sinal pra que saísse.Harleen Quinzel pegou o metro para chegar ao seu apartamento, que era algo parecido com uma caixa de papelão. Ficava no quarto andar, não tinha paredes, exceto o banheiro. Mais parecia um galpão mal construído do que de fato uma casa. A cama ficava encostada na janela de madeira, que não abria mais que alguns centímetros, pois estava emperrada. Tinha um sofá de frente para televisão que ficava na parede, ao lado da pia da cozinha.
Chegou e jogou sua bolsa no chão, sentou-se no sofá e jogou a cabeça para trás. Sentia um pouco de dor, mas não gostava de medicamentos. Foi um dia completamente estranho. Primeiro sua paciente que mais apresentava melhoras se suicidou. Embora tivesse visto esse tipo de comportamento na faculdade, que consiste em pessoas que tem uma melhora súbita pra depois morrer... É chamado de melhora da morte. Mas nunca achou que isso aconteceria de fato com ela.
Depois, conseguiu conversar com um dos mais insanos seres humanos daquela cidade. Sempre ouvia falar sobre ele, eventualmente, nos jornais. Sempre tentou montar teses a respeito daquele comportamento. E agora estava ali, tendo a oportunidade de conseguir ser reconhecida e sair daquela cidade.Ligou a televisão e foi até a geladeira pegar alguma sobra e esquentar no micro-ondas, como supôs, estavam falando que Gotham podia dormir em paz agora que o palhaço do crime estava preso.
– Queremos agradecer a doutora Harleen Quinzel por conseguir trazer a paz definitivamente para Gotham ao conseguir curar o coringa – Harleen começou a dizer em voz alta, e se imaginava ganhando prêmios e convites para conferencias no mundo todo.
– Ora... Eu fiz apenas o meu trabalho. Não há mente que não possa ser salva – Respondeu a si mesmo, imaginando estar em frente a câmeras.Sentou-se no sofá e comeu sobras de panqueca de frango com ervilha enquanto via matérias sobre o coringa no notebook. Depois tomou um banho quente e demorado. Colocou seu pijama habitual – que consistia em uma blusa regata de smiles e shorts de algodão – e saiu pelo vão da janela, por ter sido ginasta no colégio conseguia se espremer no pequeno espaço e sentar-se na escada de emergência. Ascendeu um cigarro e olhou a cidade. Era uma cidade estranha, de fato, e por mais que quisesse ganhar o mundo também gostaria de ficar. Ter uma família, uma casa maior, se casar... Olhou para a rua da sua casa e viu alguns gatos em cima de uma lata de lixo.
E teve uma ideia.Do outro lado da cidade, em uma cela fria e escura, o homem insano de cabelos verdes já sabia como iria sair dali. Estava sem a camisa de força, e desenhava nas paredes com carvão. Desenhava um pássaro morto.
– Oh Robin... Eu não me esqueci de você. – Sorriu ao terminar a asa quebrada.
Desenhava armas, martelos, bombas... Uma mulher paraplégica.
– Realmente uma pena que minha tese não tenha dado certo, morceguinha – Falava consigo mesmo. E escutava as vozes responderem. Às vezes elas o incentivava a continuar, e isso o deixava eufórico. Outras vezes queriam que ele parasse... E quando isso acontecia ele perdia totalmente o controle.
No fim da parede, quase irreconhecível, desenhou uma mulher. Uma mulher de cabelos longos, que em sua imaginação eram loiros, vestida como o palhaço arlequim.
– Ah Doc... Mal posso esperar por você.
E em seguida, deu uma gargalhada capaz de acordar os guardas que vigiava sua cela do lado de fora.
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The mad part of me - Jorley
Fiksi Penggemar"- Ah... querida Harley Quinn. Deixa eu te mostrar que a mesma loucura que existe em mim, também existe na sua alma. Você só precisa de um dia ruim. HAHAHAHAHA"