Eu estava correndo tanto que já não sentia minha própria respiração. Na verdade, não sabia por que estava correndo, já que eu poderia finalmente ter o que tanto queria; a morte. Então por que diabos estava correndo dela? Era como se correr não fosse adiantar, eu sentia minhas pernas enfraquecendo e as lágrimas descendo pelo meu rosto. Eu queria morrer, então por que ainda insistia em correr? Uma hora, iria cair. E caí. Ver tudo ficando preto foi desesperador e ao mesmo tempo aliviador. Estava prestes a desistir até lembrar que estava tudo tão inacabado. Minha vida estava inacabada, eu ainda não tinha vivido tudo o que diziam que teria para viver, e então gritei. Apenas gritei. Mas sabia que estava morrendo. Morrendo por dentro.
Abri meus olhos e olhei para o teto. Sentei na cama e coloquei a mão no coração. Estava acelerado. Incrível como ter pesadelos era algo tão normal para mim e mesmo assim me surpreendia com tal acontecimento. Olhei no celular e marcavam 4:37 da manhã. Pior que perder o sono, era perder o sono por causa de algum pesadelo. Levantei devagar e fui até o banheiro lavar o rosto. Me olhei no espelho e me encarei por vários segundos.
Perdi a conta de quantas vezes já me perguntei o por que eu era eu, o por que eu estava nesse corpo, vivendo essa vida. Apenas uma vida e eu já havia tentado acabar com ela duas vezes, e na maior parte do tempo gostaria de nunca ter nascido. Não queria ter nascido para isso, para viver essa vida, viver nesse drama. Nunca pensei que merecia algo além do que sofrimento. Nunca consegui pensar em algo que pudesse mudar minha vida. Apenas pensava que merecia sofrer.
Voltei para a cama com o mesmo pensamento e continuei pensando no quanto a vida em geral era estranha. Algumas pessoas eram extremamente felizes e apaixonadas pela vida mesmo com problemas. Por que caralhos eu não podia ser assim também? E com esse pensamento, caí no sono novamente.
Eu estava em um daqueles dias que eu não queria falar com ninguém. E assim foi, até a hora do intervalo. Assim que me sentei à mesa, encostei-me ao ombro deMichael e fechei os olhos, respirando fundo.
- Ta tudo bem?
- Uhum - respondi ainda com os olhos fechado, e assim que os abri, percebi os olhares em cima de mim - É sério! - falei mais alto, olhando para cada um.
Decidi ir dar uma volta pelo pátio, para evitar que minha antipatia virasse grosseria. Vi Ashton sentado em uma mesa longe do pessoal e fui até ele.
- Olá. - me sentei ao seu lado mesmo sem autorização.
- Oi. - respondeu seco.
- Por que você está aqui e não com o pessoal?
- Porque eu quero. E você, por que está aqui? Não está com uma cara muito boa. - olhava para mim profundamente, o que me deixou bem sem graça. Aliás, bom saber que estava óbvio que eu não estava bem.
- Tive um pesadelo, só isso. - desviei o olhar, tentando fugir de seus olhos, até o silêncio tomar conta dali por um tempo.
- Tem certeza que está assim apenas por causa do pesadelo?
- Tenho. - respondi rapidamente. Não havia gostado da pergunta, mas ao mesmo tempo, gostado. Parecia até que ele sabia que não era apenas por aquele motivo.
- Não parece.
- Você é estranho. Uma hora está super grosso e agora está assim. - fui mais grossa do que deveria, logo me arrependendo do que havia falado.
- Você não tem muita moral pra reclamar da minha grosseria, né boneca? - riu baixo.
- Você é um saco! Na verdade eu só queria ficar sozinha. - dei um sorriso frouxo, me permitindo contar a verdade.
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Blink
RomanceLuna Sawyer é um tanto quanto simpática, agradável, e aberta a novas experiências. Só que não é bem assim. Sempre escondeu sua vida atrás de uma falsa felicidade, fugindo de seus próprios demônios, mesmo sempre os deixando vencer. E então tem Ashton...