Capítulo 17

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"Uma hora você tem que tomar uma decisão. As fronteiras não mantêm as pessoas para fora; elas te prendem dentro de si. A vida é confusa mesmo, é assim que fomos feitos. Então você pode desperdiçar sua vida desenhando linhas ou então você pode viver cruzando-as. Mas há algumas que são perigosas demais para serem cruzadas. E aí vai o que eu sei: se você estiver disposto a jogar a precaução pela janela e se arriscar, a vista do outro lado é espetacular."

Ashton's POV

Meus braços ainda estavam à sua volta desajeitadamente, mas não a soltei por um segundo até a mesma se afastar, me encarando profundamente, com a ponta do nariz avermelhada, e limpando as lágrimas rapidamente dos olhos em seguida. Estávamos a duas quadras de sua casa e imaginar o quanto Luna já havia sofrido naquele lugar ainda me deixava sem reação. Mas eu precisava fazer algo, precisava ajudá-la, precisava ouvi-la, ou fazer qualquer coisa que a fizesse se sentir melhor. Mas como?

- Me desculpa por isso, ta bem? Apenas me deixe em casa e vamos fingir que isso aqui nunca aconteceu. - deu uma risada fraca, totalmente sem humor, e com a voz ainda embargada.

- Eu te levo para qualquer lugar, menos sua casa. - respondi com raiva, mas não dela, e sim de sua revelação. Dirigi até o primeiro lugar que me veio à cabeça: o lago.

Luna permaneceu calada durante todo o trajeto, e a única coisa que eu pensava era no que falar, o que fazer, como ajudar e como lidar com sua revelação. Quem diria que fossemos tão parecidos, não é? Por mais que eu goste de surpresas, essa foi de longe, uma das piores. Luna é apenas uma garota de 16 anos, que supostamente tinha muitos problemas, mas não os contava, e justamente hoje, ela revelou uma das coisas que eu menos esperava.

- Estamos no lago às 3 da manhã, uau. - falou séria, saindo do carro em seguida.

Aquele lago foi aonde nos conhecemos, na primeira festa. A festa em que eu jurava que ela só seria mais um rosto que eu tinha visto na vida, mas no momento, a minha única certeza é de que seu rosto seria algo que eu jamais esqueceria.

- Eu não sei o que fazer exatamente, mas acho melhor sentarmos. - falei cuidadosamente enquanto me aproximava de Lu, que estava parada, olhando o céu de uma maneira única, como se houvesse uma conexão entre todo aquele azul gigante e seus olhos.

Luna deu pequenos passos até a ponte, observando ainda mais a água que passava por ali, refletindo a luz da lua que estava lindamente cheia. Ela finalmente se sentou na beirada da ponte, dando um longo suspiro.

- Eu não sei exatamente porque te falei isso. Acho que foi pelo desespero de tentar fazer você enxergar que eu estou aqui, entende? - disse séria, com a voz quase firme.

- Eu sei que você está aqui, sempre soube. Só não esperava por isso. - fui honesto, pois o momento era digno de honestidade.

- Você pensou que só você tivesse problemas e segredos? - gargalhou fraco, abraçando os próprios joelhos em seguida.

- Eu nunca me preocupei com outra pessoa, mas isso aqui é diferente. Você apanha do próprio pai, Luna! Ninguém nunca percebeu, e eu me sinto incomodado por isso, porque você... Ninguém merece isso! - quase tropecei em minhas próprias palavras. Mostrar nosso ponto de vista na história é sempre complicado.

- Você não poderia ter feito nada do mesmo jeito, Ash.

Talvez ela tivesse razão, ou talvez não. Como reagir sabendo de uma coisa como essa? Não posso negar que isso desencadeou velhos sentimentos. Aqueles que eu sentia quando Richard me batia, ainda pequeno. É horrível de verdade, é como se nada no mundo fosse tirar aquela dor terrível do seu peito. A sensação de se sentir totalmente incompetente e mal amado é uma das piores da vida.

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