Será que morri?

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Sorri. Sorri o mais que consegui. Mais ainda do que ontem... Tentei ignorar a dor no meu braço. Sentei-me na fila detrás e pus uma pastilha na boca. Tinha todos os olhares em mim, então inclinei a cadeira para trás, até estar encostada à parede e pus os pés em cima da mesa. Tirei as minhas Converse All Star e comecei a pintar as unhas dos pés com um verniz preto. Ignorei o olhar do professor em mim. A aula passou e eu não prestei atenção a nada. Não conseguia mesmo que quisesse... nunca paro de pensar que a seguir vou estar com ele... talvez devesse ir para casa e mandar-lhe uma mensagem a dizer que estou doente. Mas quem é que estou a enganar... ele apenas iria ter comigo e tudo seria pior...

No intervalo sento-me no banco do costume. Agora sento-me sozinha. Esse foi o preço a pagar pela popularidade. Porque eu era aquela rapariga que tinha amigos ótimos. Amigos que se preocupavam comigo e que estavam lá sempre que eu precisava. Mas eu também era aquele rapariga que sempre ambicionava mais. Então eu comecei a falar com o Scott. E ele elogiava-me. Era simpático para mim. Até àquele dia. Aquele dia que primeiro achei que era o dia mais feliz da minha vida... mas tornou-se o dia em que o inferno subiu à terra... e o Diabo ficou na minha vida... o dia em que o Scott me beijou e me pediu em namoro.

Dois anos depois, aqui estou eu. Sem amigos, porque fui obrigada a escolher entre o meu namorado e todos os meus amigos... e eu tinha medo. Então escolhi o Scott...

- Ei, boneca! - o Scott aparece de trás e obriga-me a beijá-lo.

- Oi. - respondo, quando me consigo afastar da sua boca nojenta.

- Que cara é essa? Queres dizer-me alguma coisa? Sabes que podes falar comigo, certo amor?

- Sim... - quando ele fala assim, até chego a pensar que posso mesmo falar com ele... - É que a Marie ligou... ela convidou-me para ir ao aniversário dela. Eu gostava de ir... - disse estas ultimas palavras muito baixinho, em parte porque tinha medo da sua reação se me ouvisse...

Ele olhou para os lados e quando viu que já não havia ninguém... bem, eu já sabia que ia acontecer... devia ter ficado calada.

- Sua vadia! Achas que te vou deixar ir? Eu sei bem quem vai a essa festa! Queres ir para quê? Para te atirares a um gajo qualquer?! - ele aperta o meu braço.

- Não... - digo cheia de medo. Mas foi pior ainda.

- Não me respondas, sua cabra! - sinto uma dor enorme na cara com o estalo que ele me deu. Caí no chão, abrindo a ferida que eu tinha no braço, de quando me tinha cortado esta manhã. A minha blusa de ganga começou a ficar vermelha, mas isso não o arrependeu de me agarrar pelos cabelos, forçando-me a levantar-me do chão. Sinto as lágrimas a escorrerem pela minha cara abaixo. Quando ele levantou a mão, instintivamente pus os braços à minha frente, para tentar evitar o inevitável. Mas como sempre não o consigo afastar e rapidamente sinto as fortes mãos dele à volta do meu pescoço. E foi ficando mais e mais apertado. Até eu sentir que não conseguia respirar mais... e comecei a ver pontos pretos... Até tudo estar preto e eu já não ouvia nada. Iria ser naquele momento? Iria começar a ver a minha vida a andar para trás... ou as memórias das coisas boas... comecei a sentir a vida a fugir de mim... Até que finalmente não senti nada.

Será que morri?

Um SegundoOnde histórias criam vida. Descubra agora