Um Segundo

Cinco andares Um segundo

"Estou a caminho vadia. Vi-te abraçada ao outro. Desta vez não te escapas."

Esta foi a mensagem que me pôs a pensar que talvez devesse ter morrido à pouco... Mas isso resolve-se... Estou sentada no telhado, à espera que ele chegue. Estou a tentar ganhar coragem. Coragem para saltar. Para acabar com a minha própria vida, antes que ele o faça por mim. Porque se tenho de morrer, prefiro ser eu a fazê-lo...

Ia a caminho de minha casa, com o David, quando recebi a mensagem. Percebi o que tinha de fazer e mandei o David para sua casa. Não fui para minha casa porque só tem um andar. "Cair do telhado" só me daria uma perna ou um braço partido. Então decidi que a escola tinha uma altura suficiente. Cinco andares. Voltei para trás. Subi até ao telhado e aqui estou eu. Ouço uma porta abrir e sei que é ele...

- Achavas que me ias escapar, sua cabra?

Ouço-o a aproximar-se a passos rápidos. É agora. Tem de ser agora... Dei um passo em frente. Só que já não havia nada onde eu pudesse pôr o pé. E foi nesse momento que me arrependi. Foi nesse momento que eu percebi que não queria morrer. Numa tentativa de não cair, agarrei-me a algo. Mas esse algo era um braço. O braço do Scott. E a força e velocidade do meu corpo em queda livre puxou-o para baixo comigo. Cinco andares. Um segundo. Um segundo no qual o mundo finalmente fez algo de bom por mim. O peso do Scott fez-se sentir e as leis da gravidade fizeram o seu trabalho. E quando atingimos o chão, eu ainda conseguia sentir. Senti a dor. Senti o cansaço. Mas principalmente, senti a alegria e o alívio de ainda poder sentir...

Rapidamente chegaram pessoas que me ajudaram a levantar. Tiraram-me de cima do corpo do Scott. O corpo morto do meu namorado. Não. O meu ex namorado. Porque acabou, não é verdade? Acabou-se o medo. Acabaram-se os murros, as chapadas, os estrangulamentos. Acabou-se o Scott. E finalmente, em muito tempo, apesar de estar triste por ter acontecido de tal forma trágica, permiti-me sorrir genuinamente. Porque eu estava livre.