Contos Etéreos

O Espectador

   Há muito tempo atrás um monstro vivia na completa escuridão, ele viveu ali na escuridão por muito muito tempo e nesse tempo ele se perguntou "o que sou eu?" "quem me criou?" "pra que eu existo?", então ele se levantou e perguntou em voz alta, mas não havia ninguém ali, ninguém o respondeu, então ele começou a caminhar buscando as respostas para suas perguntas.

   O monstro foi vagando e vagando, sem rumo até sair daquela solidão, vislumbrou o mundo externo, então ele conheceu a vida e a beleza, descobriu que vivia numa caverna, e saindo dela ele começou a caminhar pelo novo mundo, e caminhando, observava tudo ao seu redor, observando as estações, e a vida que surgia ao seu redor, por muito tempo aquele monstro caminhou e caminhou e viu a vida brotando sempre ao seu redor, ele não sabia de onde vinha mas era bela, conheceu todo canto do mundo e se encantou com tudo, mas apesar de aprender bastante sobre o mundo, não sabia nada de novo sobre si, sentia que algo faltava dentro de si, mas ainda assim continuou caminhando.

   Durante sua longa caminhada ele conheceu um novo tipo de criatura, os humanos, cheios de vida, de conhecimento, de esperanças, de ambições, de idéias e de vontade, a principio o monstro os observava de longe, assim ele conheceu o fascínio, estas criaturas eram estranhas, diferentes, mesmo tendo vidas tão breves, conquistavam assim como ele, o conhecimento, conheciam outras criaturas, observavam e entendiam, e aprendiam, sabiam muitas coisas e passavam aos seu descendentes, curioso e cheio de esperanças sobre o conhecimento dos humanos ele se aproximou deles.

   O monstro se apresentou aos humanos, e eles lhe ensinaram coisas que ele jamais imaginou que existissem: A dor, o medo e o desespero, os humanos assim que avistavam o monstro sentiam medo, e assim o atacavam, era a primeira vez que ele era atacado, os humanos foram os primeiros a fazer isso, eles o atacavam com ferocidade, tentavam mata-lo, feriram-o e ele sentia dor, medo e em desespero fugia dos humanos, mas os humanos estavam sempre por perto, sem que ele tivesse percebido os humanos estavam por toda parte, espalhados em suas cidades, que agora estavam por todo o lado, mesmo as outras criaturas temiam os humanos, e o monstro, agora era caçado, os humanos o perseguiam, e agora o monstro conhecia um novo sentimento... ele conhecia o ódio.

   Emergindo de dentro do monstro o ódio, o rancor e a ira fizeram o monstro atacar de volta os humanos, o monstro os atacava, e os matava, o monstro os destruía, a eles e tudo o que eles construíam, e deixando um grande rastro de morte e destruição depois de muito matar e destruir o monstro olhava em volta se se via num deserto de destruição, não havia mais vida, não havia mais nada, então o monstro conheceu a tristeza, e então ele chorou e chorou.

  O monstro chorou até não lhe sobrarem mais lágrimas para chorar, estava sozinho novamente não havia mais vida, ele estava triste e solitário, então ele caminhou e caminhou, ele procurava agora um lugar onde jamais seria encontrado, estava arrependido de ter saído da escuridão, e assim procurou uma caverna e novamente dentro da caverna ele contemplou a escuridão, caminhou e caminhou para dentro da escuridão ainda se sentindo triste por ter destruído tudo, ele foi cada vez mais fundo, mais e mais fundo na escuridão, e quando já não havia mais nada á sua volta além da escuridão ele se deitou e ali sozinho ele viveu por muito muito tempo, tempo o suficiente para que se esquecesse de tudo, para que se esquecesse que existia algo além da escuridão... tempo o suficiente para se perguntar e questionar "o que eu sou?" "Quem me criou?" "pra que eu existo?", então ele se levantou e perguntou em voz alta, mas não havia ninguém ali, ninguém o respondeu, então ele começou a caminhar buscando as respostas para suas perguntas...