Home

85 23 60
                                    

Hoje
Canadá
Um novo começo.

Não foi difícil tomar essa decisão de me mudar para o Canadá. Precisava disso, ansiava por algo novo, desejava uma vida nova. Poderia me permitir a isso, depois de tudo que passei, era o mínimo a ser feito.

Sentiria saudade dos meus amigos, é claro, e de duas pessoas em especial, minha mãe e meu irmão.

Uma mulher incrível, forte e independente. Se casará muito cedo, e nessa união tivera dois filhos, meu irmão e eu. Mas dizia não se arrepender disso, ela tinha a convicção de que não deveríamos nos arrepender de nossas escolhas, porque são elas que nos tornam quem somos.

De início foi difícil convencê-la, mas ela sabia que eu havia puxado meu pai em teimosia e que não iria dar o braço a torcer. Por fim, ela acabou aceitando minha decisão e começou a achar que era mesmo o melhor pra mim.

Ficou um pouco abalada por saber que não veria mais sua filha caçula, com tanta frequência. Mas prometi que ligaria sempre, e que nos veríamos pelo skype, embora nós duas soubéssemos que não seria a mesma coisa. Mas havia um laço que nos unia, e que jamais poderia ser desfeito.

Meu irmão Shawn, puxou as feições do nosso pai. Seus olhos não são tão puxados quanto os meus, e a cor é o mesmo castanho intenso. É dois anos mais velho, e obviamente engressou na faculdade primeiro que eu, suas notas não eram tão boas no colégio, mas as atividades no esporte o salvaram.

Meu pai havia falecido, quando eu estava com meus 16 anos, e meu irmão com 18. Todos nós ficamos abalados, mas com o passar dos anos aprendemos a seguir em frente, embora a dor da perda não se mostrar tão maçante, ela se mantém escondida em algum lugar dentro de nós.

Eu sabia disso, porque a sentia presente e por uma vez ter visto minha mãe sair do banheiro com os olhos inchados e vermelhos. Ela usou a desculpa de que estava no banho e que por um descuido deixou o shampoo cair nos olhos.

Não era verdade, minha mãe tinha o costume de usar shampoo de bebês - ela achava que eram menos prejudiciais aos fios - Portanto mesmo se entrasse em contato com os olhos, não ardiam.

Não a questionei, não podia. Também sentia falta do meu pai, e também chorava no banho quando sentia necessidade. A água quente caindo sobre o corpo é reconfortante, e o barulho que faz ao se chocar no chão omitem os soluços incontroláveis, e as lágrimas se esvai com a água pelo ralo.

Minha mãe não se envolveu com ninguém depois do falecimento do meu pai, ela dizia estar bem sozinha, mas confesso que gostaria de vê-la com um novo amor. Afinal, todos merecem um recomeço e eu estou indo atrás do meu.

[...]

Herdei do meu pai uma casa em Vancouver, era onde eu iria morar. Costumávamos ir lá nas férias, pelo que me lembro, a casa era de dois andares, com seus cômodos espaçosos. Não permiti que trocassem nenhum móvel, e que retirassem algum objeto do local, queria manter tudo como estava. Tinha lembranças boas, e queria conserva-las.

No carro, com os olhos fixos na janela, observei os flocos de neve cair lá fora. Era uma das coisas que gostava em Gastown, seus dias frios. Mas o que mais adorava, era o relógio a vapor localizado na esquina entre as ruas Cambie e Water, apelidado por Stean Clock. Apesar da sua aparência antiga, o relógio é extremamente lindo.

Depois de oito horas de vôo, e alguns minutos de carro, finalmente havia chegado. Tudo estava muito bem conservado, minha mãe pagava uma senhora para vir limpar com frequência a casa. Foi justamente essa senhora que recebeu meus pertences. Estava exausta, e ainda havia coisas para arrumar, então decidi por começar logo.

Wish You Were Here ❄Onde histórias criam vida. Descubra agora