Capítulo 01 - A Vida em Luna.

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Tudo que existia era Luna.

Para Oliver Baker, não havia uma motivação clara para se viver. Todos os dias ele se perguntava: "Por que eu ainda estou aqui?"; "Não há sentido continuar, você sabe, não é?", "Pelo que está esperando, dê um fim a tudo isso.". Ele não havia percebido, estava sangrando. Seu lábio inferior, o gosto do sangue, do ferro. Sentia-se com raiva, perdido, desolado, frustrado. Incapaz de fazer nada. Olhava em volta, à procura de algo que pudesse distrai-lo; algo que arrebatasse sua mente dessa realidade fodida; tudo que Oliver Baker mais queria era Eliminar o Rei.

Tratava-se de Xadrez Profissional.

Em seu nível máximo, o centésimo nível. Em Luna, ninguém havia chegado tão longe. Afinal, os seres humanos estavam preocupados demais com a crise de oxigênio iminente; e a coleta de recursos em Órbita. Uma corrida contra o tempo; um fato consumado. Não importava para Oliver Baker, não havia motivo para mudar as coisas. Tudo havia sido perdido. A explosão que habitava seus pesadelos, as chamas ardentes, os gritos. Não queria lembrar-se disso, suas bochechas ruborizaram à medida que a raiva tomava conta de sua mente. Nesse momento, ele quis socar sua cama e ele o fez até sentir toda sua mão doer.

Talvez Luna tivesse um (1), ou quem sabe dois (2) anos de vida. Talvez menos, muito menos...

O IAPC (Interface Auxiliar Para Cadetes) era uma tecnologia recente, desenvolvida e distribuída pela antiga NASA (atualmente, NESSA, Nação Espacial — SSA). Todos os Cadetes e Supervisores recebiam uma unidade; seu registro era anexado em um chip e injetadas entre o polegar e o indicador. Oliver Baker pegou o objeto semi-retângular, que abriu-se em L, reproduzindo uma tela holográfica hexagonal, sensível ao toque, que lhe deu as boas-vindas. Saturno, ou SAT, como era chamada pelos desenvolvedores, era o SO responsável por fazer a IAPC funcionar. Basicamente, era o Windows, mas do futuro. Dúvidas referentes ao Software, os termos de utilização, etc; bastava consultar a Safira, a IA, para auxiliá-lo. Oliver Baker amava tecnologia. Quando tinha quatro anos, seu Pai o presenteou com um velho computador que utilizava do Windows 98 como SO; tela de tubo, bola de comando, todas essas coisas eram boas memorias para ele. Full Tilt Pinball, Spider Pacience, Copas, Damas, Campo Minado.

Aquilo tornou-se parte de sua vida. Os jogos eram um mundo novo, inexplorado, que o fascinava.

Isso nunca mudou.

A qualquer momento aquela bomba relógio podia explodir. Mas nunca, de fato, explodiu. Enquanto movia as peças, sua expressão era calma, contida e reservada. As possibilidades fluíam pela sua mente, B1, B5, B7 ou seria B2? Havia perdido seu Bispo, precisava reagir, mas estava atrasado. O contador era mais rápido, 0:32 ~ 0:31, 0:27 ~ 0:23 ~ 0:16, Cavalo para C3, Xeque. Só havia um desfecho, atacar, cair, atacar, cair, avançar. Avançar!

Você Venceu!

Letras coloridas e garrafais, cornetas e pratos anunciavam sua vitória. Era uma verdadeira algazarra, mas por trás da tela, tudo que havia era um silêncio mórbido. O que havia mudado? Apesar de não ter sido sua melhor partida, era uma sequência perfeita de vitórias. Não havia mais para onde ir, não havia novos níveis, era mais do mesmo. Nada mudou.

O jogo havia acabado.

— O que acontece agora? — ele murmurava. coçando seus cabelos negros, como flocos de neve, caspas caiam sobre sua calça moletom.

Estava de volta àquela realidade. Lágrimas começavam a surgir em seus olhos. Elas percorriam sua bochecha, até encontrar o queixo, despencando rumo ao vazio. Sua mente, sua principal vantagem, era seu pior inimigo. Odiava sentir-se frio. Era incapaz de aquecer seu interior. Ele já não aguentava. Sua mão alcançou um objeto, estava cheio de resquícios de comida, mas não importava. Só havia um objetivo. Sua mão trêmula e suada estava ao lado do pescoço, próximo a artéria, a lâmina afiada, bastava um único movimento. Seu coração parecia bater mais forte; certamente, o sangue jorraria mais forte. Não importava; sentia um corte, pequeno, insignificante, mas era o começo e, ao mesmo tempo, o fim.

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