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Quando acordei, Meus pés estavam cobertos com meias e tinha mais cobertores do que quando fui dormir. Virei para o outro lado e vi Daniel dormindo com seus lábios vermelhos contorcidos, e seus olhos levemente fechados. Ele parecia um daqueles garotos de propaganda de colchões. Ele era lindo, mas um lindo estranho.
Peguei seu braço e o sacudi.

- Acorde Daniel - Eu disse sussurando - Vamos Daniel acorde. Ela deve estar esperando por nós.

Levantei da cama e olhei pela janela do quarto, a floresta continuava colorida e bonita. Voltei meu olhar para o rosto de Daniel.
Cheguei mais perto e fiquei olhando seu rosto.
Eu precisava tocar aquele rosto, era tão lindo, ele era tão lindo mas seu rosto era diferente dos outros, era como um anjo.
Olhei o canto de seus olhos até notar uma fraca cicatriz que ia descendo da lateral de seu olho esquerdo. Era bem pequena e quase invisível.
A vontade de tocar aquele rosto estava me incomodando, eu estava com saudades do meu pai, não sabia se ia ficar nesse mundo pra sempre, queria meus amigos, queria ir na festa da Julie, queria construir uma família, uma casa, eu ia me formar em direito, eu queria sair daquele lugar, eu não sabia porque estava aqui nem por qual motivo eu devia lutar mas parecia que eu não queria mais nada, apenas poder tocar naquele rosto liso e perfeito. Eu precisava tocar.

Tomei coragem e apoiei a mão na lateral de sua bochecha, sua pele era tão macia quanto seda. Fui deslizando a mão até seu queixo e sentindo sua pele suave e macia...

- O que está fazendo ? - Ele disse ainda com os olhos fechados.

Rapidamente tirei as mãos de seu rosto meio constrangida disse :

- Nada, eu só, estava vendo se você acorda. Astrid deve estar nos esperando.

Ele se levantou e olhou para mim com aqueles olhos sem vida e que mais pareciam de uma criança carente que perdeu seus pais e estara sozinha.

- Sentiu frio ? - Ele perguntou.

- Não. Na verdade acordei coberta com mais cobertores e meias nos pés.

- Fez frio a noite toda. Achei que estivesse com frio também, então pedi a um ser de Astrid que me desse meias e mais cobertores. Incomodei você ?- Ele perguntou torcendo um pouco a cabeça e olhando pra mim.

- Não. Quer dizer, se não fosse você eu sentiria frio... acho melhor irmos.

- Tem razão - Ele disse tirando a camisa azul que estava e colocando a dele.

Percebi outra cicatriz no seu peito esquerdo, era maior e fraca também.

- Porque tem cicatrizes ? - Perguntei a primeira coisa que me veio a cabeça.

Ele riu e olhou para mim.

- Então você notou. Qual delas quer saber primeiro ?

- A do rosto - Respondi rapidamente.

- Eu tinha 8 anos. Eu estava brincando com minha amiga Kate, até que um cara estranho chegou e começou a puxar seu braço, levando-a com ele. Ela estava gritando em desespero e eu não sabia o que fazer. Meus pais não estavam por perto e nem os dela. Então eu corri atrás do homem implorando pra parar. Ele então se virou e a faca que estava em sua mão arrastou na lateral de meu olho. Eu não fiquei cego por pouco. Ele levou ela sim. Depois de um tempo acharam seu corpo atrás de um valão aberto. retiraram seus órgãos. - Ele disse com uma voz de tristeza e com o olhar agora mais triste do que estava.

- Eu sinto muito... - Era o que eu podia falar.

- Não sinta - Ele falou.

Eu queria saber da sua outra cicatriz mas achei que seria muito incômodo para ele. Então entrei no banheiro e vesti minha roupa. uma calça jeans e uma regata verde com um desenho animado.

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