Capítulo 1

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Era uma noite fria, a tempestade ameaçava cair no alto da colina. Raios cortavam o céu negro e trovões causavam o espanto da terra. Galhos dançavam ao ritmo frenético da ventania densa, enquanto os lobos cantavam. A negridão da floresta parecia assustadora, nenhum humano atrevia-se a desbravar aquele pequeno pedaço isolado da Transilvânia. Lá habitava o filho do demônio, um guerreiro imortal que por muitos anos defendeu um povo que o apunhalara pelas costas.

O Conde Drácula era o monstro mais temido de toda Roménia. Permanência preso na escuridão do Castelo de Bran, desde o assassinato de sua esposa, nenhum indivíduo jamais atrevera-se a enfrentar uma fúria que fizera triplicar a força capaz de derrubar um exército com mais de mil homens.

Cavalgando pelas sombras como quem acaba de encontrar a liberdade, Drácula permite sentir-se vivo como um mortal. Quando o sol desaparece ele recupera o sentimento de imponência e monta no veloz, pondo-se a correr em uma velocidade esmagadora. Mata coiotes com certa facilidade e bebe do sangue, que não o satisfaz como o humano, mas recupera suas forças e mata a sua sede.

Quando passou pela área mais baixa, próxima a linha da fronteira, escutou o som de passos delicados a cortar galhos pelo chão. O cheiro era inconfundível e demasiado excitante. Havia humanos por perto, estavam a atiçar o vampiro que limitou-se a voltar para onde saiu.

Entretanto, quando estava a virar o cavalo para o lado oposto, ouviu gritos. Sentiu uma eletricidade tomar conta do seu interior, queria encurralar a presa e deliciar-se no calor do líquido quente. Havia anos que a fome de humanos não era saciada, mas prometeu ao amor de sua vida que não faria tamanha maldade.
— Socorro! Ajude-me, por favor! — avistou a dona da tentação, uma moça vestida de branco, com um véu cobrindo a face. Caminhava lentamente, curvada para baixo como uma idosa de ossos fracos, parecia demoronar a qualquer momento.

O Conde correu contragosto, precisava salvar a donzela. Não aceitaria que um ser daquele tamanho morresse na floresta, seria covardia e um monstro não poderia ser covarde. Desceu do cavalo e a passos lentos permitiu aproximar-se, ao ver alguém caminhando em sua direção, ela ergueu a cabeça e o fitou com lágrimas no olhar.

— Por... favor, ajud... — sussurou pouco antes de cair nos braços de Drácula, que não conseguiu reagir de imediato, pois uma onda de excitação o consumiu de um jeito nunca antes sentido. Era forte e difícil de dominar, por pouco não explorava o pescoço moreno com as presas que cresceram involuntariamente.

Não sabia o que estava a se passar consigo, mas precisava ignorar. Montou no cavalo carregando a moça em seu colo, galopou com rapidez e maestria até o alto da colina, onde encontrava-se erguido o grande castelo de pedras.

— Jonas! — chamou o criado, que surgiu imediatamente com vestimentas de dormir.

— O que se passa, milorde? — Estava a espantar o sono, quando vislumbrou nos braços do Conde uma moça adormecida — O que houve? — alarmou-se.

— A encontrei na fronteira a pedir socorro, desmaiou em meus braços — Jonas não deixou de reparar o assombro que tomava a face do patrão, estava rígido como uma rocha e parecia não conseguir mover-se da entrada — Ajude-me.

Levaram-na para a grande biblioteca escura, o criado acendeu algumas velas e correu para a cozinha, receava que o motivo do desmaio fosse falta de nutrientes. Enquanto isso, o conde ajoelhou ao lado da dozenla e entre manchas de lama, camadas de tecido branco, conseguiu reparar na beleza peculiar e delicada. Parecia respirar com dificuldade, talvez devido a quantidade de roupas.

Pensou em desamarrar-lhe o espartilho, entretanto achou melhor adquirir distância. Estava a forçar um controle quase inexistênte em seu interior, algo naquela pequena jovem causava reações estranhas no temido conde Dracula.

Jonas adentrou a porta de madeira, com muito suprimentos em mãos. Não sabia por onde começar, então tentou faze-la inalar um pouco de álcool. Não funcionou. Dracula estava a observar as tentativas do criado sentado em uma poltrona, próximo a lareira. Queria saber quem era a moça adormecida no sofá de seu castelo, desejava que recuperasse as forças e fosse embora. Não gostava de como ela mexia com seus instintos, sentia-se como se estivesse regredindo em toda a luta diária para não agir com um vampiro do mal.

— Receio não ter mais soluções para acorda-la, milorde.

— Tentaste tudo? — Dracula agarrava os braços da cadeira com muita força, o que teria aquela donzela que não despertava?

— Tudo que estava ao meu alcance.

Um silêncio se fez, estavam a pensar.

— O senhor conhece a donzela? — Jonas perguntou cauteloso.

— Evidente que não.

— Parece está vestida com trajes de noiva, qual será o motivo?

— Não sei, mas está imunda.

— Estou ciente disso, etretanto não acho que devo banha-la. É uma donzela e isso parece errado.

O Conde olhou para o criado que estava a observar a moça, pensativo. Das coisas que sentiu, o cheiro fora a última. Ela estava fedendo a cachorro molhado e coberta de lama, manteve-se tanto tempo desejando devora-la que esqueceu de seu estado calamitoso.

O ROMANCE DO DRÁCULAOnde histórias criam vida. Descubra agora