6 - monday

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O final de semana se passou como se os dias de segunda à sexta nunca houvessem existido: Luke e Michael não falaram sobre o divórcio, Luke não tocou no assunto amante ou se queixou pelo marido ter chegado bêbado em casa. Naqueles dois dias eles só queriam um pouco de paz.

Porém, a paz terminou quando a segunda-feira chegou novamente. A maldita e tão odiada segunda-feira: dia de aula e de trabalho, de acordar cedo e começar a correria logo de manhã. E ainda, como um maravilhoso bônus, o primeiro dia de Luke em seu novo emprego de secretário numa editora.

Não era o trabalho que ele queria de início, mas o homem estaria num lugar que se familiarizava e aquele já era um ótimo começo. Além de que, ele estaria ganhando mais dinheiro e com isso poderia dar a Celeste tudo o que ela quisesse — aquele era seu único desejo; dar o conforto que sua filha merecia.

"Papai, por que você está me acordando agora? Eu nem tenho aula hoje." Celeste resmungou ao rolar na cama, seus cabelos castanhos caindo para fora da mesma e quase encostando no chão.

"Você vai para o trabalho do seu pai Michael, meu amor." Luke guardou a toalhinha rosa na mochila de florzinhas, em seguida se virando para a filha. "Vai querer levar alguma boneca?"

"Pode ser a... hm... a Barbie Férias de Verão." Ela apontou para a boneca jogada no tapete felpudo. "Mas por que eu vou pro trabalho do papai?"

"Eu até queria te levar para o meu, querida, mas é o meu primeiro dia lá e eu ainda não posso. Mas eu prometo que assim que eu me estabelecer nesse emprego, vou te levar pra trabalhar comigo." Ele pegou a boneca e a colocou na mochila.

"E a April?"

"Ela também estuda de manhã, esqueceu?"

"Ah, é." Celeste resolveu se sentar, coçando os olhos com suas mãozinhas enquanto bocejava.

Luke sorriu e fechou a mochila da menina para se sentar ao lado da mesma. Ele acariciou os cabelos da filha e depositou um beijo antes de falar:

"Eu coloquei alguns biscoitos na mochila pra você comer antes do almoço, tá? Agora é só você trocar de roupa e escovar os dentes, seu pai está te esperando lá embaixo para tomar o café da manhã."

"Tá bom, papai."

Celeste logo se levantou e saiu depressa do quarto, parecendo estar realmente ansiosa e animada para passar um dia no trabalho do pai. Só então Luke se lembrou de algo, quase dando um tapa em sua própria testa. Ele foi até a porta e disse alto para que a filha escutasse:

"Cel, espera! Eu tenho que arrumar seu cabelo!"

-

"Mas eu não quero me separar, Barbie. Eu te amo, meu amor." Celeste fez uma voz grossa, mexendo o boneco em sua mão.

"Eu te vi beijando a Teresa, Ken!" Ela afinou a voz daquela vez, mexendo a boneca em sua outra mão, e logo em seguida, a engrossou novamente:

"Foi na bochecha!"

Michael franziu as sobrancelhas e tirou os olhos de seu notebook para pousá-los na menina sentada no tapete, do outro lado da sala. Celeste tinha uma boneca em cada uma das mãos e parecia discutir consigo mesma mudando o tom de voz a todo momento. O homem resolveu interferir:

"O que você está fazendo, meu amor?"

Celeste olhou para o pai. "Brincando."

"De quê?"

"De Barbie. Ela está querendo se separar do Ken porque ele beijou a Teresa, mas ele não quer." Ela falou com certa naturalidade, deixando Clifford ainda mais confuso.

"Se separar? Onde você viu isso, Celeste?"

A menina abaixou o olhar para suas bonecas, de repente uma expressão de tristeza tomou seu rosto. Ela não o respondeu, apenas começou a passar a mão pelos cabelos loiros, longos e brilhantes de sua Barbie de plástico.

Michael suspirou, não sabendo o que dizer. Depois de certo tempo ele decidiu que seria melhor não tentar forçá-la a dizer nada, ele sabia o quanto ela era sensível, e tudo o que ele menos queria era fazer sua filha chorar.

Depois de perceber que seu pai não estava mais a observando, Celeste voltou a brincar, mexendo sua boneca e dizendo com a voz fina:

"Eu confio em você, Ken. Eu te amo."

E então ela uniu os bonecos como se eles estivessem trocando beijos. Os braços sem articulação de Ken foram levantados na intenção de abraçar Barbie e Celeste falou com a voz grossa:

"Eu também te amo, meu amor."

-

"Este é Christopher, meu filho, sucessor, e seu mais novo chefe."

Luke olhou para o homem ao lado de Sr. Miller e, com um pouco de hesitação, ergueu sua mão para cumprimentá-lo, dizendo mais baixo do que pretendia:

"Muito prazer, Sr. Christopher, eu sou Luke Hemmings."

"O prazer é meu, Luke."

Talvez Luke tivesse demorado demais para recolher sua mão e talvez o motivo para aquilo fosse seu nervosismo por ser o primeiro dia no emprego, mas a razão mais provável para sua insegurança repentina também podia ser as íris brilhantes e esverdeadas de seu novo chefe, o filho do diretor da editora. Tudo bem, não era certo se encantar pelo homem que mandaria nele pelo resto dos dias e talvez até dos anos, mas fora inevitável. Christopher era realmente bonito.

O mais velho pareceu notar o nervosismo do loiro e deu uma leve risada, dizendo para tentar acalmá-lo:

"Confie em mim, eu posso ser o sucessor do meu pai, mas não sou tão assustador quanto ele."

Sr. Miller deu uma risada sem graça, batendo não tão fraco nas costas do filho. "Christopher, sempre fazendo piadas... Vamos, filho, por que você não mostra ao Luke onde ele vai trabalhar?"

"Com todo prazer."

Christopher deu um sorriso de lado e olhou para Hemmings, dando um aceno com a cabeça como se o chamasse para segui-lo. Os dois saíram da sala principal e começaram a se direcionar à outra sala, que parecia ser tão grande quanto a anterior.

Christopher parou antes de abrir a porta e de repente apontou para o lado, onde uma mesa com computador e mais algumas coisas de escritório se encontravam. Luke presumiu que aquele era o lugar onde trabalharia. Não parecia muito confortável, mas ele não podia reclamar. O homem de cabelos pretos e olhos verdes foi até lá e se apoiou na mesa, dizendo:

"Aqui será seu canto por um tempo, mas eu posso ver pelo seu olhar que você trabalhará muito para conseguir mais que isso."

Luke deu uma risada baixa e tímida, não acreditando em si mesmo ao sentir suas bochechas esquentarem.

Ele estava mesmo corando? Na frente de seu chefe?

"Pelo menos é o que eu espero." Christopher continuou.

"É o que eu farei, Sr. Christopher."

"Ei, não precisa me chamar assim. Só Christopher está de bom tamanho." O homem deu de ombros. "E nem ouse me chamar de Sr. Miller, eu vou acabar me sentindo como o meu pai e isso não é nada legal."

Luke deu outra risada e assentiu com a cabeça.

"Bom, eu vou te deixar aí para você se familiarizar com o seu novo espaço e organizar suas coisas. Daqui a pouco eu volto para te instruir melhor e já trazer trabalho." Christopher deu um sorriso simpático, começando a se direcionar novamente para a porta da sala ao lado.

Assim que o homem adentrou a sala, Luke soltou um suspiro longo, encostando-se a nova mesa. Ele passou a mão pelos cabelos loiros e continuou olhando para a porta fechada, murmurando:

"Eu estou ferrado."

celeste ❅ muke [INTERMINADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora