05| Clima

3.3K 492 294
                                    


Nós não tivemos mais aulas juntos, então assim que saímos da escola, resolvemos partir para o Heaven Park e curtir o que nos restava da tarde. A chuva havia dado uma pequena trégua, mas ainda ventava forte e a trilha estava coberta de lama. Sentamos nos banquinhos de sempre, eu peguei um gibi na mochila e comecei a ler em vez de encarar a rodovia.

Ao olhar de esguelha para Max percebi que ele me observava meticulosamente.

— O que foi Max? — Perguntei antes que fosse ele a me questionar.

— É que você está todo esquisito desde que saímos do colégio. Eu passei um tempão falando e você só respondendo "hum, sim, é mesmo".

— Eu só estou... com dor de cabeça.

Max puxou o gibi de minha mão, era algo que eu detestava e ele sabia disso.

— Eu sei quando você está mentindo.

Eu queria dizer que estava chateado – principalmente – por ele ter me comparado com o Robin, eu era muito mais que um mero assistente. Não era?

— Não é nada, só acho que ir à essa festa não é uma boa ideia. Talvez seja só paranoia, mas e se acontecer algo ruim Max? — Falei, dessa vez, fui um pouco mais sincero.

Mas Max riu e jogou um braço sobre o meu ombro.

— Cara! O pior que pode acontecer é você brochar quando for transar com a Amanda — disse e começou a rir. Eu não consegui ficar sério, embora o pensamento de transar com Amanda me causasse arrepios.

— É sério! — Empurrei ele para o lado.

— Deu para ser sensitivo agora? Se não quer ir, é só dizer — Max resmungou, recolheu seu braço e foi mais para o lado.

Havia um grande espaço entre nós no banco naquele instante e eu não gostava nada disso.

— Não se preocupe, eu disse que vou, não disse? E eu sempre acabo cumprindo o que prometo. Você sabe. — Mal falei e um sorriso maroto começou a brotar em seus lábios — Pode parar com esse sorrisinho aí! — Repreendi.

Max puxou meu cabelo, sorriu empolgado e de repente eu não sentia tanto medo. Aquele sorriso me iluminava como um sol particular. Resolvido o pequeno conflito, voltamos a observar a rodovia ao longe. Carro vai, carro vem, nenhum acidente.

Comecei a admirar o ambiente ao redor, o outono estava chegando e algumas árvores já denunciavam esse fato, porém naquela imensidão cinzenta nenhuma árvore brilhava tanto quanto aquele Ipê-Amarelo, ele era esplendoroso como Max.

A terça-feira se passou normalmente, o assunto do momento era "o 1.8 da filha do prefeito", a festa mais esperada do ano e todos estavam dando suas almas por uma senha, enquanto eu ia receber uma e nem queria ir. Nós não fomos ao parque, Max tinha outros planos com o pai, que milagrosamente estava em casa.

No dia seguinte, eu esperei Max sair do treino e fomos para minha casa. Precisávamos terminar uma pesquisa, mas enquanto eu lia deitado na cama, Max apenas ouvia músicas em seu iPod, sentado na escrivaninha e nem conseguia se concentrar. Só se remexia no ritmo da música quando deveria estar fazendo sua parte.

— Deixa aí que eu termino depois — eu disse ao perceber que, como sempre, ele não dava a mínima para as atividades do colégio.

Max levantou e foi na minha direção, dando um empurrão para ganhar espaço ao meu lado na cama.

Um Amor Singular | AMOSTRA GRÁTISOnde histórias criam vida. Descubra agora