Capitúlo V - O Primeiro Conflito

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    A lua já havia chegado fazia algumas horas, os guardiões e outros seres que viviam em Natus Arbores já repousavam em seus aposentos.
Maya acordou aflita com a dor que tomava conta de sua mão, a ferida lhe tomava agora parte do braço e sua cor variava entre as cores vermelha e roxo.
    Gaspar havia aplicado todos os tipos de fármacos anti-sépticos de que Natus Arbores dispunha, o que no momento lhes pareceu ter funcionado, mas agora a infecção só piorara.
    Maya percebeu que a cama de Hector estava vazia.
Valentina e Aleixo permaneciam adormecidos e provavelmente também não tinham notado a saída do guardião.
    Maya não quis acordar ninguém, apenas pegou o livro e o abriu, buscando por algo que pudesse lhe servir de ajuda, tomando cuidado para que os outros dois não percebessem sua atitude. Folheou as diversas páginas da enciclopédia em busca da palavra goblin. E aproximadamente no meio do livro a encontrou.
    A descrição inicial era vaga, apenas uma introdução da definição do ser e sua etimologia.

Goblins são criaturas geralmente verdes que se assemelham a duendes.
São enganadores e vivem a praticar brincadeiras de mau gosto.
A palavra goblin tem origem do latim, língua originalmente criada pela Grande Rainha.

    Nas páginas seguintes procurou pelo que realmente necessitava, e encontrou algo sobre a saliva das criaturas:

A saliva dos goblins possui tons de verde e é altamente viscosa, não possuem veneno, mas as bactérias presentes podem ocasionar infecções graves, e até a morte.

    Disso Maya já tinha conhecimento, apesar da grande incógnita da definição do termo bactéria, que ela apenas sabia ser maléfica à vida saudável, mas o que lhe pareceu mais útil, porém, pouco viável, foi o que veio a seguir:

Contraditoriamente, os goblins possuem um talento intrínseco na produção de poções, sejam elas para a cura ou para fins pouco honestos.

    Maya estava imersa no livro, buscando uma forma de não ter que depender de ninguém, estava prestes a iniciar sua pesquisa para esclarecer sua ideia da definição do que seria uma bactéria, que para ela era algo novo e curioso, quando foi interrompida por ruídos estrondosos que vinham de fora.
    Era uma mistura de gritos, urros, relinchos e outros dos mais variados sons. Uma claridade tomou conta do lado de fora, e Maya percebeu que fumaça subia de todas as partes.
    Valentina e Aleixo sobressaltaram-se, pulando de suas camas e perguntando a Maya o que estava procedendo-se do lado de fora.
- São duendes! - disse Valentina.
    Maya havia buscava ocultar o livro. Havia tirado proveito da distração dos outros.
- São Goblins, mas não apenas. - dizia Aleixo - Há mais.
    Maya havia colocado o livro no interior de um baú que se encontrava ao pé de sua cama. Maya se encaminhava à janela quando Gaspar precipitou-se por entre a porta.
- O acampamento está sobre ataque, a guarda foi acometida, todos os trolls foram mortos com flechas, o exército do Príncipe encontrou o local, aqui não é mais seguro, precisaremos partir.
- Mas Gaspar, não me parece justo deixarmos os outros aqui.  - disse Maya.
- Não temos escolha, se ficarmos, morrerão, e como consequência, eles morrerão posteriormente. Devemos ir. Onde está Hector?
    Neste momento houve um estrondo logo abaixo dos pés de todos alí, e uma enorme bifurcação começou a surgir nas tábuas de carvalho do casebre.
- Vamos! - berrou Gaspar, abrindo a porta de trás, enquanto o casebre começava a se desintegrar por conta do fogo ateado.
- Gaspar, o livro. - Maya apressou-se para pegá-lo, e neste momento por pouco não foi atingida por uma das vigas já flamejantes que antes sustentava o teto do casebre.
- Gaspar, não consigo passar, estou presa. - Maya buscou as janelas, mas a tora de madeira tapava todas as saídas.
    As tábuas das paredes rangiam e o teto dava sinais de que iria ceder a qualquer momento.
    A garota começava a tossir por conta da neblina negra da fumaça, e esta tapava grande parte de sua visão, o que a fez se abaixar no chão, já em busca de oxigênio, ela começava a se sentir intoxicada e os primeiros sinais de asfixia pareciam querer abraçá-la com braços fortes.
    Estava tentando falar, e esforçava-se a todo custo para enxergar Gaspar ou um dos Guardiões.
    Subitamente, Maya sentiu umidade em suas mãos e percebeu que sua camisola e a pele por baixo desta estavam molhadas, se precipitou a achar que a água fluía de seu próprio corpo, mas percebeu que sua suposição estava errada quando viu que a fonte da substância vinha do chão.
    Entre as vigas desgastadas milhares de gotículas dançavam pelo ar, subiam e movimentavam-se, e gradativamente multiplicavam-se e ficavam mais fortes, cessando momentaneamente o fogo.
    Isso permitiu que a visão de Maya clareasse e revelasse o verdadeiro responsável por tudo.
    Gaspar movimentava suas mãos acima, revelando seu controle sobre a água, que conforme seus movimentos bruscamente se jogava contra o fogo que restava e desatinava a crescer.
Quando considerou possível passar, foi de encontro a garota com o livro na mão e a puxou para levantar-se, a levando para fora exatamente quando o local foi atingido por uma tocha em seu teto revestido de madeira e palha e desabou por completo.

                       ***

    Os outros Guardiões haviam seguido, sob a ordem de Gaspar, que agora corria a frente, passando pela guerra que se iniciara do lado externo da cabana. Era difícil para Maya dizer quais seres eram seus inimigos e quais eram aliados, o rosto de todos se misturavam em meio ao forte vermelho do sangue, e vários corriam em todas as direções sem destino, quando eram atingidos por lâminas ou imobilizados por cordas mais grossas que os cipós que pendiam das árvores alí perto.
    Próximo dalí, houve uma explosão e o fogo subiu metros acima naquele pequeno vale.
    Esses segundos foram os necessários para que Maya se destraisse e se perdesse de Gaspar.
    Maya parou e o chamou, mas a confusão não permitia que ela nem mesmo soubesse onde estava, e se os casebres um dia poderiam lhe servir de ponto de referência, muitos deles agora já não existiam, deixando para trás como prova de que um dia estiveram alí, apenas cinzas e centenas de toras de madeira chamuscadas, negras como o carvão.
    Maya então se pôs a correr na direção em que Gaspar sumira instantes antes. A garota mantinha o livro colado ao peito, mas isso não foi o suficiente para mantê-lo são, em questão de segundos a capa dura e rústica chocou-se contra o chão, consequência de uma batida violenta no ombro de um homem encapuzado.
    O homem usava uma capa semelhante a de Gaspar, entretanto, ele não deixava nenhuma parte de seu corpo a mostra, e mesmo que a capa não cobrisse suas mãos, uma luva grossa fazia desempenhava essa função.
    Maya desequilibrou-se e caiu violentamente ao lado do livro.
    Erguendo o olhar, percebeu que o homem a encarava. Temerosa, também o encarou, engolindo a seco, sabendo que o homem a fitava friamente mesmo sem enxergar seu rosto.
    Maya sobressaltou-se quando viu o homem se abaixar em sua direção, e ao tentar levantar, caiu novamente.
    O homem não a olhava mais, sua concentração se perdia sobre o livro, que pegou.
Maya não conseguiu o impedir, e ao ouvir o tinir de lâminas afiadas logo ao seu lado, deixou que o homem fugisse. Quando olhou, ele já havia desaparecido, deixando apenas a sensação de inutilidade perpétua que afligia a mente de Maya.

                        ***

    Maya quase foi atingida diversas vezes por golpes fortes que vinham de todas as direções possíveis. A luta se mostrava interminávelmente árdua. Maya conseguiu passar ilesa, desviando de todos, mantendo-se apenas por seu instinto mais primitivo, a sobrevivência.

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