Capitúlo II - Sem controle

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    Maya estava chegando tão perto, água se estendia em ambos os lados de seu corpo. Cada metro nadado era um pouco de iluminação que se esvaia. Mas era uma necessidade continuar, era responsável por cuidar de toda a enorme vastidão por onde se estendia seu Elemento.
    A água era gelada, fazendo com que seu corpo lutasse para não entrar em síncope.
Mas era forte, consequência de sua incumbência. Era humana, fruto de Eloah, e isso por si só, também a tornava menos vulnerável aos males externos.
O choro aumentava conforme ela nadava em direção ao fundo da água salgada do oceano, que insistia em bater na parede pedregosa daquele penhasco.
    Se Maya estivesse exercendo sobre si plena consciência, teria percebido, e não teria se deixado levar pelo espírito nume de um Guardião. Uma criança, seja ela humana ou não, não teria chances de esquivar-se da morte caindo daquela altura, passando ilesa de todos os rochedos pontiagudos e afiados, e acima de tudo, não afogar-se na água agitada.
    Maya finalmente enxergou, o cesto deixado no fundo da água, parado como se tudo alí fosse feito da própria paz. Dentro dele, algo se debatia, envolto em mantos que se assemelhavam ao aspecto do gorgurão.
    Ela deu um último impulso e nadou até chegar ao cesto. Maya tirou o manto para pegar a criança e levar a superfície, mas o que segurou não tinha consistência, o tecido se desmanchou e se esvaiu de seus dedos, integrando-se à água.
    O choro continuava, e Maya procurou em volta em busca da origem do som, mas essa parecia estar residindo em sua mente, cada vez mais forte, devastando seu subconsciente.
Maya segurou a cabeça entre as mãos, pressionando os dedos em suas têmporas, buscando amenizar a dor que agora crescia, vinda do fundo de seu crânio.
    Ela tentou subir, mas ficou atônita ao perceber a presença de um homem às suas costas, tanto que não percebeu quando o som encerrou-se.
Maya tentou falar, mas foi impedida por palavras vindas do homem, que se vestia como um guerreiro, como ela, entretanto usava uma máscara, que cobria metade de seu rosto.
- Desistam, ou haverá, novamente, quatro mortes, um exército e uma rainha dizimada. O Trono está destinado a mim.
As palavras eram proferidas diretamente na mente de Maya, a boca do jovem homem não se movia.
    O que houve a seguir foi sangue, derramado do peito de Maya, dissovendo-se na imensidão da água, e a sensação de luz escapando de si e de seus olhos, a última coisa que viu, foi o jovem, retirando sua máscara, e revelando olhos incrivelmente verdes, cabelos loiros se movendo junto a água e um sorriso, extremamente encantador, porém, perigoso.

                          ***

    Maya se levantou tão rapidamente quanto foi golpeada em seu sonho. Ela não se lembrava de nenhuma vez em que sua respiração estivesse tão descontrolada, e ela se obrigou a respirar e inspirar num ritmo constante, até que sua respiração voltasse ao normal.
    Maya se levantou de sua cama revestida com palha e algumas plumas de ganso e caminhou descalça até o quarto de Dereck, quem a criou desde que era uma pequena criança de colo, e era como seu pai.
    O velho ferreiro dormia em uma cadeira, exausto pelo dia cansativo de trabalho, Maya decidiu não o acordar para se deitar na cama, apenas pegou uma coberta de linho e jogou por sob o corpo gordo e forte de seu quase pai.
    Ela precisava espairecer, o dia fora por si só bastante confuso e seu sonho certamente não a tinha ajudado.
    Maya vestiu suas botas de couro, calças e corpete e saiu para o ar frio da noite, pegando sua lança de caça junto a porta.
    A Vila Elaiva - chamada assim por conta da grande quantidade de árvores produtoras de óleo - estava vazia, exceto por um ou outro bêbado andando aos tropeços ou saindo da taberna, ou algum guarda dormindo em seu posto.
    Maya achou que seria engraçado assustar um dos guardas, e tacou-lhe uma pedrinha que encontrou no chão. No mesmo momento ele se levantou, assustado, deixando cair seu elmo e desembainhando sua espada desajeitadamente. A reação do cavalheiro havia sido mais cômica que o esperado, e ela se conteve para não desatar a rir, abafando um pequeno riso com uma das mãos.
    Certamente, com a mania de autoridade do jovem guarda Arthur, ela acabaria presa, somente por aquela noite, já que a atitude seria mais para se passar certa imagem do que para prezar pelo bem da vila, a deixando livre de vadios. Mas mesmo assim, a ideia de passar a noite presa, deitada no chão duro e frio - sem mencionar que não era nem um pouco higiênico - não era nem de longe atraente para Maya.
    Pensando nisso, ela se pôs a andar novamente, tomando o rumo da trilha na floresta, e logo após se embrenhando ainda mais na mata densa e espessa.

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