Capitulo 11. " Território"

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Tudo se torna questões de linhas quando se está apaixonada, eu percebi. Se alguém uma vez disse que "Deus escreve certo por linhas tortas" eu seria a única que um dia diria: "O amor escreve errado por linhas retas.". O amor não era uma questão de certo ou errado, e talvez ninguém realmente soubesse qual o certo e o errado. Afinal, eu sabia que mesmo que eu estivesse amando Camila ainda assim, eu conseguia me sentir atraída por outra pessoa. Claro, atração é um sentimento abaixo de amor. Mas não é menos importante. As pessoas pensam que sim, mas estão erradas. Ou talvez, eu esteja. O que de fato importa, é que eu consegui me divertir com outra pessoa. Uma pessoa que eu mal conhecia, aliás. Uma pessoa que eu não amava. Talvez isso fosse normal, ou talvez fosse só a minha natureza. Fosse o que fosse não importava mais. E eu estava feliz pelo que havia acontecido. Mais até do que eu havia ficado com Camila, não havia culpa depois, eu não precisava me esconder, ou chorar. Foi melhor assim. Olhei para o rapaz adormecido em minha cama, seu sono era calmo e leve. Ele ressonava baixinho, era quase como uma criança. Quase como ela. Eu achei que ele saíria de manhã mesmo antes de eu acordar, como de costume de todos os caras, mas não. Lá estava ele, o relógio no meu criado-mudo já marcava mais de onze horas.

– Ei, Harry. - Chamei-o gentilmente, tocando seu ombro e o empurrando fracamente. Ele despertou vagarosamente, dando-me um sorriso. Sentou-se sobre a cama e puxou o lençol até um pouco acima de sua cintura. Ele deslizou os dedos por seus cabelos que estavam uma desordem.

– Dormiu bem? - Eu perguntei com um sorriso. Ele riu e se deitou novamente, com seus braços atrás da cabeça, como um travesseiro.

– Como um bebê. - Respondeu ele fechando seus olhos. Fiquei em silêncio, observando-o quietamente. Será que Vero e Camila estariam fazendo o mesmo agora? O que Camila iria pensar disso? Não faz diferença.

– Então, quem é o cara? - Harry perguntou abrindo seus olhos e fitando-me. Não entendi a pergunta, estava presa aos seus olhos.

– Que cara? - Perguntei de volta.

– Qual é Lauren, eu entendi. Noite passada eu fui um instrumento de vingança, e por mim tudo bem, a noite foi divertida. Mas, só por curiosidade, quem é o cara? - Ele voltou a perguntar, sentado-se em minha cama a espera de uma resposta.

– Escuta, você está de folga? - Perguntei de volta tentando mudar o tópico. Harry revirou seus olhos entendendo minha intenção.

– Não, mas eu só tenho que estar no hospital as dez. - Respondeu entediado, embora estivesse sorrindo.

– Sério? Bom, já são onze e vinte e sete. - Ao me ouvir seu sorriso sumiu. Apontei o relógio no criado-mudo e ele checou.

– Merda! - Exasperou-se ele pulando da cama, vestiu-se em tempo recorde, quase perdendo o equilíbrio ao colocar seus tênis, resmungava alguns xingamentos às vezes, mas eu estava achando a cena engraçada.

Encontrei a jaqueta dele jogada na parte mais afastada do quarto e a vesti por cima de meu sutiã, vestindo também meus shorts jeans e o acompanhei até a saída. Meu pai estava desmaiado no sofá, metade do corpo no chão. Harry me olhou como se fosse me oferecer ajuda e eu neguei com a cabeça, saímos de casa. Ele abriu a porta de seu carro, mas antes de entrar se virou pra mim.

– Então, eu posso te ligar? - Perguntou ele. Pensei no assunto, será que eu estava disposta a ser o disque-sexo de alguém apenas para punir a latina? E por falar, ela tinha acabado de sair. Parou por um segundo e encarou a cena. Harry percebeu meu olhar e ia segui-lo.

– Não olhe. - Murmurei e ele parou em sua ação. Eu não queria que Camila achasse que estava chamando minha atenção.

– É o cara? - Suspirei, aproximando-me um passo dele o puxei para um beijo. Ele entrou no clima, entrelaçando seus braços em minha cintura, nossas línguas se encontraram e brincaram uma com a outra por um tempo. Mas eu não estava realmente prestando atenção no beijo, meus olhos semiabertos estavam em Camila. Ela estava checando a caixa de correio, embora seus olhos estivessem também presos à cena a sua frente.

Separei-me dele

– É a garota. Me liga. - Eu disse apenas. Ele estava visivelmente confuso, abriu a boca pra dizer algo, mas eu o impedi.

– Você está atrasado. - Ele assentiu e entrou no seu carro, demorou dois segundos até que ele tivesse manobrado seu carro e acelerou, perdi sua Mercedes de vista em questão de outros cinco segundos. Harry iria correr muito.

Camila ainda estava ao lado de sua caixa de correio, segurava alguns papeis em sua mão direita, embora seus braços estivessem cruzados na frente de seu peito. Ela estava séria, como se estivesse pronta para me atacar, por algum motivo, eu achei aquilo extremamente sexy. Seus cabelos castanhos voavam a mais leve brisa, era como a visão do paraíso. Mas ela se quebrou quando Verônica saiu da casa de Cabello. Que droga. Ela havia passado a noite lá?

– Ei Laur! - Gritou ela da porta de Camila, correndo até chegar mais próximo da garota, entrelaçando seus braços na cintura dela por trás e a expressão corporal da mesma mudou. Ficando calma e natural. Verônica fez um sinal com a mão para que eu me aproximasse. Maldita. Eu ainda estava descalça, mesmo assim atravessei a rua. Estava à frente delas, embora não tivesse atravessado a cerca colorida e desbotada. Por um momento, pensei ter visto Camz checar meu corpo e um brilho que parecia desejo em seus olhos.

– Quem estava aí? - Vero perguntou, apoiando seu queixo no ombro de Camila. Que tipo de intimidade era aquela? Que estúpidas.

– Dr. Harry Stiles. - Respondi observando a latina, que fingia checar suas correspondências, mas seus olhos castanho-mel estavam presos em mim.

– Sua vadia. - Vero disse entre uma risadinha. Fiquei quieta. Ela pareceu notar o desconforto entre as duas partes.

– Então, o que está planejando pra festa?

– Que festa? - Perguntei distraída, observando os dedos ágeis de Camila passarem as correspondências em sua mão, pra frente e pra trás.

– Laur. - Vero me chamou com uma expressão estranha no rosto. Desviei os olhos de Camz  para sua namorada.

– Seu aniversário.

– Meu aniversário? - Perguntei confusa, só então caiu à ficha. Meu aniversário ia cair no domingo. Dezenove anos. Meu Deus, como eu pude esquecer o dia do meu aniversário, isso tudo era culpa da Karla . Eu estava esquecendo-se de mim. Isso não é possível.

– Tudo bem, você está me assustando. Deixa que eu cuido dessa festa pra você. – Vero disse soltando Camila e vindo para perto de mim.

– Eu não quero uma festa. - Respondi, encarando os olhos escuros de Verônica. Com minha visão periférica vi que Camila tinha os presos em nós.

– Você não tem que querer nada, cara, o que houve? - Perguntou Vero segurando minha mão enfaixada, enviei um rápido olhar para a latina, que parecia super interessada no que eu ia dizer. Maldita. Olhei pra Vero com um sorriso lascivo, fiz um gesto obsceno sobre masturbação e ela riu, já Camila, bufou atrás de Verônica.

– Laur! - Uma voz masculina chamou atrás de mim. Meu subconsciente avisou-me que eu conhecia a voz, mas não consegui ligar a nenhum rosto, mesmo assim, a expressão de Vero me deu uma pequena dica.

Olhei para trás. Era Brad. Sempre comprava algumas coisas com a gente. Que droga, Camila estava bem ali. Aproximei-me dele, fazendo um sinal com a cabeça, para que ele me acompanhasse até o outro lado da rua. Brad tinha cabelos castanhos e ondulados, parecia fazer um tempo que não via um corte, havia também uma barba por fazer, seus olhos eram castanho cor de lama. Estava vestindo um casaco de moletom, com bermudas largas e sandálias. Um típico maconheiro.

–  Brad, quantas vezes eu tenho que te dizer que nós não vendemos de dia? - Perguntei em voz baixa, sem esconder minha irritação. Ele concordou com a cabeça, levando as mãos até os bolsos de seu casaco de moletom cinza.

– Eu sei, mas eu acho que devia saber que tem um cara aí que vende. - Ele disse calmamente.

– O que? Ele tá vendendo aqui? - Perguntei, negligenciando o tom de minha voz, Brad concordou com a cabeça novamente, lançando um olhar pra Vero. Olhei também, ela e Camila ainda estavam do lado de fora, como se me esperassem voltar. Eu quase nem me importei com a proximidade das duas, isso era um pouquinho mais importante. Essa era nossa área, ninguém podia vender nada por ali. Iglesias ia ficar puta.

E eu já estava puta, era minha área, meu negócio, ninguém mexe com uma Jauregui.

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