Bom dia

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– Kai...  – Ouvi uma voz chamando ao longe. – Kai! – Chamando meu nome em uma voz longínqua. – “Kaiee” – Choramingou em maldita insistência! – Amor acorda, é sábado.

Sábado: dia de dormir até às duas da tarde.

Ou melhor, agora que o Miyavi não estuda mais aqui há semanas em que eu nem levanto. E da forma como sentia meu corpo pesado, hoje seria um daqueles sábados que eu não sairia da cama por nada.

– Kai-chan vamos! É o primeiro sábado que podemos sair juntos como um casal e não como amigos! – Foi dito enquanto sentia dedos apertando e sacudindo meu ombro.

Mas não era só isso, afinal quem era o maluco que queria sair daqui comigo como “um casal”? Acordei num pulo pra ver quem era este futuro cadáver. Acabei abrindo meus olhos tão rapidamente que me senti que me senti zonzo pelo excesso de informação visual ante meus olhos.

Ainda assim, eu me lembrava vagamente de um ser com mechas multicoloridas. Ah é, ele tinha voltado. Em plena terça-feira Myv tinha voltado pra deixar de ser apenas o meu melhor amigo.

– Ohayo preguiçoso! Eu quero ir ao shopping com você hoje. – Comentou em uma voz que me soou extremamente feliz por me ver enfim desperto.

E agora que eu estava acordado, ele se aproximou do meu rosto com a clara intenção de me dar um beijo; o beijo de bom dia. Dei-lhe um selinho somente, não quero traumatizar meu namorado enfiando minha língua na boca dele antes de escovar os dentes pela manhã.

– Que hora é afinal? – Tinha de perguntar, porque ou a noite anterior tinha acabado comigo ou ainda era madrugada.

– Nove. - É. A noite anterior tinha acabado comigo

Apesar da noite não ter culpa nenhuma. O Miyavi é quem tem.

– Ah não Myv! A gente só pode sair daqui às duas horas da tarde, tenha dó de mim! – Me virei pro lado aposto ao dele e puxei o edredom até o pescoço.

Sentiu o tom de birra na minha frase digna de um ato dramaturgo? Tudo bem, tudo bem, eu explico: Metade de mim queria ficar dormindo, outra metade queria apenas ficar na cama. Mas cem por cento de mim queria que Ishihara estivesse comigo em qualquer uma das atividades.

E vi minha esperta jogada de mestre ser efetivada quando senti o edredom ser puxado do meu corpo momentaneamente e ele se enfiando por baixo do mesmo. Não pude não sorrir quando senti o mais alto me abraçando por trás pela cintura.

– Ne Kai, não é bom pra você ficar fazendo essas caretas sedutoras assim tão cedo, pode deixar o seu dia extremamente longo, sabia? – Ore ore, ainda bem que ele avisou antes de começar a arrancar o couro do meu pescoço com os dentes.

– O que você pensa que está fazendo? – Me virei para ele ainda entre seus braços.

– Castigando-o por ser sempre tão mau comigo. – Disse vindo na minha direção em busca de um beijo mais uma vez, mas é sério, eu jamais o beijaria logo cedo pela manhã.

– Myv eu não escovei os dentes ainda - Doeu na alma, mas tive que por minha mão entre os meus lábios e os dele pra evitar o encontro desastroso.

– Tá, eu já sabia que você ia ficar se fresquiando como faz todas as manhãs – Disse orgulhoso de sua esperteza, pegando algo que eu, com todo meu sono não tinha percebido em cima da mesinha que ficava entre nossas camas.

Ah eu só posso estar sonhando. Miyavi tinha entre os dedos um pequeno pedaço de chocolate. Imagina onde está o resto da barra, se não já dentro da barriguinha deste meu amigo que é um tesão.

Ele me mostrou o quadradinho que já estava me fazendo salivar; Myv é um gênio. E trouxe aquele pedaço tão precioso da forma materializada e deglutível de prazer para entre nossas faces; Myv é o meu herói. Aos poucos o vi guiar o meu precioso chocolate na direção de sua própria boca até fazê-lo sumir inteiro dentro da mesma; Myv é um meio homem completamente morto.

Fiquei o olhando sem entender e ao mesmo tempo tendo a certeza de que ele não tinha amor à própria vida. Porra eu nunca achei ruim ter de cozinhar qualquer coisa pra ele e ele faz todo esse charme pra me passar a perna com um pedacinho de chocolate!

Mas então vi aquele brilho inteiramente e puramente perverso nos olhos dele. Aí tem coisa.

Miyavi se aproximou com um lindo sorriso nos lábios, eu podia sentir o aroma do chocolate ainda inteiro em sua boca. Ele veio e eu se quer me questionei para receber seu beijo doce, nosso beijo que se aconchegava entre o calor de nossas línguas. O pequeno afrodisíaco que derretia pouco a pouco se misturando as nossas salivas.

Longos minutos se passaram enquanto calmamente prosseguíamos com a arte de derreter e beber o sulco único, transformando o pedaço maciço em uma pequeníssima lasca que fora então abandonada em minha boca quando ele se afastou para me encarar triunfante.

Como eu pude resistir à ele por tantos anos? Não me contento, preciso prová-lo mais para que seu gosto fique impregnado em minha boca, então o puxei de volta pela roupa e voltamos a nos beijar.

Eu sei, eu sei, é difícil de acreditar que o mesmo homem que fazia seus lábios sempre fugir dos meus até em momentos primordiais, poderia agora estar assim, chegando ao ponto de “comprar” meus beijos. A qualquer custo, em todos os momentos.

Bom, a falha está na falta de informação que eu recapitulo em minha mente. Sabe, desde terça que não tenho tempo nem mesmo para pensar nisso, porque agora Miyavi não apenas preenche minha mente, mas também consome meus pensamentos.

Ta achando besteira? Tente passar vinte e quatro horas com esse maluco. Ele faz de tudo para me enlouquecer até mesmo no meio das aulas com mensagens via celular que tiram completamente minha atenção para todo o resto. Sem falar que ao meio-dia ele se senta em minha frente na mesa sempre lotada pelos nossos amigos sem se importar com a presença deles, sabendo que isso tornaria os carinhos secretos que ele me fazia com os pés sob a mesa mais intensos.

E o treino físico? Pela primeira vez me questiono por que temos de jogar sempre somente Rugbi. Meus jogos se resumiram em Miyavi me jogando no chão e prendendo seu corpo sobre o meu, me puxando com força pela cintura toda vez que tinha de me derrubar, enquanto a jogada dava continuidade aquela boca tristemente deliciosa me sussurrando coisas que eu não poderia ouvir sem me alterar.

Melhor parar por aqui né, caso contrário pensar demais pode me deixar num estado um tanto fragilizado. Aonde é que eu estava mesmo? Ah sim, na falta de atualização de pensamentos dessa quase uma semana em que aquele doido estava aqui.

A revolta do UkeOnde histórias criam vida. Descubra agora