Capítulo 1

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  Senti algo nos meus pés. As mordidas suaves e molhadas faziam cócegas, o que me fez despertar imediatamente. Em questão de segundos, eu já me encontrava sentada, encarando, com os olhos cansados, a garota loira na ponta da cama.

— Finalmente! Achei que não acordaria nunca. Vamos, chega de dormir.

As mordidas vinham do meu cachorro Duke, e essa voz, que soava como uma melodia para os meus ouvidos, provinha da minha melhor amiga Samantha. Seu cabelo loiro caía sobre o seu ombro, em uma trança mal feita. A presença dela naquela hora da manhã não me surpreendia, afinal, ela estava sempre por aqui. E eu gostava disso. A sua companhia sempre foi como um tranquilizante para mim; me deixando extasiada. Nossa conexão, a maneira como nos conhecemos, é uma das únicas coisas que desejo ter comigo para o resto da vida, uma das únicas coisas que realmente importam para mim.

Samantha sempre teve muita facilidade em me fazer sorrir, assim como todas as outras pessoas. Não, Sam nunca foi a melhor em contar piadas, mas ela é uma garota cativante, doce e gentil. O tipo de pessoa que gostamos de ter por perto.

Minha mãe sempre me contou sobre a sua adolescência, e de como era a sua amizade com a mãe de Samantha. As duas se conheceram durante o ensino médio, e segundo a versão delas, elas eram consideradas garotas populares e aprontaram de tudo um pouco. O que é difícil de acreditar, levando em consideração o quanto minha mãe é contida e politicamente correta hoje em dia. As duas, assim como eu e Sam, eram inseparáveis. Coincidentemente, elas engravidaram no mesmo ano, e nós duas fomos criadas juntas, como irmãs, pode-se dizer assim. Com isso, criamos uma ligação inegável.

Só existe uma coisa que Samantha não sabe sobre mim: que eu sou apaixonada por ela. Já faz um tempo, e, sinceramente, eu não planejo contar o que sinto para ela. A princípio, achava que era uma fase, que estava confundindo as coisas e que esse sentimento passaria. Mas, não passou. Hoje, tenho certeza de que não é uma fase. Quando estou ao lado dela, os meus pensamentos e todo o meu corpo me fazem ter certeza do que sinto, é como se saíssem faíscas sempre que estou junto dela. Mas tenho medo que esse sentimento estrague o que temos hoje, tenho medo de que a nossa amizade enfraqueça.

— Me deixa dormir — resmunguei, me deitando novamente na cama.

— Levanta, peste! — gritou ela, o que me deixou irritada.

— Já vou, caramba!

Joguei meu travesseiro em sua direção.

— Ai! Olha a violência!

Por fim, Samantha puxou o meu cobertor, numa tentativa vencedora que eu me levantasse.

As nossas manhãs eram um tanto caóticas, e por vezes eu sentia que tínhamos dez anos novamente. Momentos como este sempre nos arrancam muitas risadas.

Na cozinha, a família estava reunida. Quase toda ela.

— E acordou a bela adormecida — disse Brian, sem tirar os olhos das suas panquecas. Ele sempre tem uma piadinha diferente.

— Bom dia, mãe.

Deixei um beijo sobre sua bochecha, ignorando completamente o comentário feito pelo meu irmão.

— Bom dia meninas. As panquecas de vocês estão ali — apontou para os dois pratos.

Sentei-me ali mesmo, no balcão da cozinha. Sempre gostei muito das panquecas que a minha mãe faz, para ser sincera, de todas as receitas produzidas por ela. Minha mãe é uma cozinheira de mão cheia, nunca entendi porque em nenhum momento da sua vida ela investiu nesse talento.

Samantha pegou o seu prato e foi para a mesa, e os olhares de Brian sobre ela se tornaram perceptíveis. Em algum momento, Sam retribuiu com um sorriso amarelo. Não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas algo estava diferente e isso me deixava incomodada, de certa forma.

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