Lua

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      Percorro os olhos por todo seu corpo, tento me lembra que ele vai sair com a minha melhor amiga mais tarde e de como faço para respirar. Meus olhos se fixam nos dele, as pupilas estão dilatadas e parece que ele também tenta se lembrar que precisa sair do lugar:
      - O que você está fazendo aqui ainda? - ele diz isso com a voz embargada e sem se mover do lugar - Você precisa sair.
      Quando consigo me dar conta da situação, balanço minha cabeça rapidamente e saio correndo pelo quarto batendo a porta. Assim que saio e passo para zona segura - o lado de fora - me encosto na parede branca e suja do dormitório da faculdade de direito do Rio de Janeiro. Percebo que o suor escorre pelo meu rosto - mesmo estando frio - e meu coração está a mil por hora. Fico durante uns 10 minutos olhando as árvores que ficam ao redor do quarto, nunca havia reparado como elas eram perfeitamente alinhadas.



       Já no fim da tarde saio caminhando pelo estacionamento, está praticamente vazio a essa hora. Entro no meu carro - um Fox preto -, fico parada lá por um momento, com a cabeça encostada no volante e repassando tudo que aconteceu hoje. Terminei tudo com quem eu não considero mais o amor da minha vida. A quem eu estou tentando enganar? Aquele cabelo meio loiro, olhos grandes e meio verdes, o jeito despreocupado de ser, de falar, de andar, a ruguinha que se forma na sua testa quando está sorrindo, o jeito como seu corpo se encaixa no meu. Ele ainda é o amor da minha vida. No entanto, a figura do Enzo de toalha aparece na minha cabeça de novo e sinto esquentar dentro do carro. Atiro minha blusa de frio preta no banco e abro os vidros:
      - Acho que posso inventar um nome melhor para você - ao escutar aquela voz, um arrepio subiu pelos meus quadris e eu me ajeitei no banco novamente.
     Olho para o lado e lá está ele, Enzo, debruçado no vidro, com seu hálito e seu cheiro extremamente doce vindo em minha direção. Ele ergue as sobrancelhas como se esperasse uma resposta:
       - A Sofia disse que você pode me levar até a casa dela, os pais dela não estão lá, então ela me convidou para passar a noite. - ele bate os dedos por cima do carro enquanto fala.
       Fico tensa e sinceramente não sei o que dizer, como a Sofia faz uma coisa dessas? Porque não esperou ele?
      - Que diabos aconteceu que a sua namoradinha não pode te esperar? - não deveria ter falado com ele dessa maneira, não sei o que acontece comigo quando estou perto dele.
     Ele revira os olhos:
    - Olha, eu não sei por que mas também não queria te pedir isso, mas a Sofia saiu da aula mais cedo - que legal, ela sai justo na aula que nos duas não fazemos juntas e não me diz nada - ela disse que é sua vizinha, que não tinha problema. Não posso deixar minha moto na porta da casa.
    - Entra.

    Ficamos calados durante todo o caminho, foram os piores 20 minutos da minha vida. Quando chegamos na porta da minha casa já está escuro, mostro ao Enzo a casa ao lado e digo que é de Sofia. Ele abre a porta e antes de descer do carro, olha pra mim e diz:
    - Que tal Luana? É bonito e é só você colocar um "na" no final. - ele passa a mão nos cabelos completamente pretos, se aproxima e me dá um beijo na bochecha.
    Assim que ele desce do carro, meu telefone toca. É Sofia dizendo que só consegue chegar daqui à duas horas e pedindo "por favor, por favor pra deixar o gostoso do Enzo ficar na minha casa enquanto ela chega". Vejo que ele está olhando para mim, saio do carro e caminho na sua direção:
    - Vamos, você vai ter que esperar lá em casa, o carro da Sofia estragou no meio do caminho, ela vai demorar. - percebo que a expressão dele fica tensa.
    Ele me acompanha sem dizer nada.

     Assim que entro em casa, ligo as luzes e vejo um bilhete pregado na janela.

" Filha, fui pra casa da sua avó, volto mais tarde.
Amo você
Liliam. "

A, qual é? O destino só pode estar de brincadeira.

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