Lua

Enzo

        A minha vida nunca foi a melhor do mundo, quando eu tinha seis anos meus pais morreram em um acidente de carro indo para Brasília. Minha mãe tinha apenas vinte e dois anos e meu pai, meu pai era um babaca. Minha avó Ana, mãe da minha mãe me contava que ele sempre obrigava ela a fazer coisas que ela não queria, como se mudar para Brasília e me deixar no Rio com minha avó. Nunca tive uma referência de família verdadeira, sei que sou a cara do meu pai e isso me deixa irado. 

        Aos quinze fui despejado da antiga casa da minha avó, pois ela havia falecido um ano antes e eu não tinha mais como pagar as contas, até que o irmão do meu pai me encontrou no mundo e ele nem sabia que eu existia. Marcos é um cara bacana, rico, tem família. Ele me acolheu na sua casa cinza e bonita, me deu roupas, amor e esperança. Eu faço tudo para honrar a escola particular que ele pagou para mim mesmo sem obrigação nenhuma. Ele diz que sou o filho homem que ele nunca teve e a mulher dele, Maria, fala que depois de Marcos sou o homem mais lindo que ela já viu. Amo muito eles.

          Depois dessa confusão com a Lua fiquei andando por horas na faculdade e parei na sala da piscina. As coisas aconteceram tão rápido, foi tudo muito intenso. Em um dia eu sabia quem eu era e quais eram os meus objetivos, no outro, eu só sabia meu nome e que eu queria ela. Me canso de pensar e mando uma mensagem para o meu tio.
Vou passar essa semana em casa. Assim que chegar conto.

Lua 

       Eu cheguei em casa e já estava tudo arrumado, nem sinais de que uma festa tinha acontecido naquela casa. Fiquei por horas no quarto de Enzo com esperança de que talvez ele voltaria alguma hora, mas não voltou. Não consigo empurrar meu corpo escada acima, então me deito no sofá escuro e desconfortável com as lágrimas que ainda não cessaram se espalhando pelo couro quente do assento. Adormeci sem perceber e no outro dia tudo doía, meu quarto não parecia um bom lugar para estar, então passei todo fim de semana dormindo e acordando no quarto de hóspedes.

     Na segunda-feira de manhã minha mãe veio me acordar para ir para faculdade, me obrigando a tomar um banho e vestir roupas limpas. Ela me sentou em frente ao espelho e escovou meus cabelos, tentando me lembrar de como eu era bonita e que já tinha passado por isso antes e superado. Não sei por que dessa vez tinha a impressão de que doeria para sempre.
      Coloquei minha camiseta preta, uma calça jeans qualquer e tênis, nem me dei ao trabalho de pegar uma blusa de frio, queria que  vento me despertasse. A cada corredor que eu virava da faculdade meu coração disparava mais. Eu tinha medo de vê-lo, mas tinha mais medo ainda de não ver:
        - Lua, por favor, espera. - escuto Lucca atrás de mim.
      Escutar essa voz me faz acelerar o passo, não posso olhar para nenhuma daquelas pessoas.

      Entrar na sala e ver o primeiro rosto amigável foi maravilhoso, Arthur estava la sentando com seus olhos e cabelos grandes:
      - Oi. - ele me olha cautelosamente - liguei para você o dia todo, como você está?
      Demoro algum tempo para formular a resposta e ele espera pacientemente:
      - Podemos dizer que eu vou sobreviver. - tento abrir o sorriso mais sincero que consigo.
     Ele sorri, do jeito que só ele sabe e encara meu corpo, me deixando com vergonha:
     - Acho que faz parte da sobrevivência andar com a blusa ao contrário. - ele diz - faz todo sentido.
      Pela primeira vez naquela manhã meu sorriso é sincero.

       E por uma semana não vi Enzo, não recebi ligações e nem mensagens. Sofia também não foi a aula, mas ela tentou falar comigo uma vez na porta da minha casa. Passei a maioria dos meus dias com Arthur, eu consigo respirar quando ele está por perto. Ele contou que o Lucca está arrependido, que era tudo plano da Sofia e que na hora achou que era certo. Aos poucos eu fui me esquecendo desses detalhes e só uma pessoa importa de verdade, Enzo.