Capítulo 10

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Ao chegar a casa, Beatrice se mostrou interessada em como havia sido meu dia. Perguntou sobre todos os acontecimentos sem esquecer-se de pedir minha opinião sobre eles. Ao mencionar o convite à festa seus olhos brilharam.

- É uma oportunidade para se enturmar. Criar laços, conhecer novas pessoas, fazer amigos.

Contive-me para não dizer-lhe que a ordem estava trocada.

Expliquei que a festa seria a fantasia, e eu não havia trago nenhuma. Ela disse que esse era o menor dos problemas e que conhecia um lugar onde eram feitos alugueis.

Fomos até lá. Uma senhora com um micro vestido estampado, semelhante à pele de onça, inadequado a idade que aparentava ter, nos atendeu. Sua maquiagem pesada, já um pouco derretida pelo calor, a deixava com um ar de dona de Bordel. Evitei fazer esse comentário, mas acredito que ela não se ofenderia. Talvez se sentisse até lisonjeada.

Ela nós deu um catalogo de fantasias, e sempre gritava algo como "esse ficaria perfeito", quando olhávamos alguma extremamente apelativa. Apesar de toda extravagância, era impossível não se contagiar com sua animação e euforia. A alma dela com certeza era mais jovial que de muitas moças.

Provei a primeira fantasia, influenciada pela Beatrice, com o argumento de que ficaria meiga em mim.

O vestido azul rodado e com um laço na parte superior não me agradou. E como complemento da roupa, eu teria que usar uma peruca de cachos loiros. Não consegui nem cogitar a ideia de ir vestida assim. Com certeza não nasci para ser Alice.

A segunda escolha foi feita pela vendedora. O traje tinha o objetivo oposto ao primeiro. O curto vestido preto feito de um pano semelhante a couro, com um coldre falso preso a cintura, equipado com algemas e distintivo, com certeza não seria minha escolha. Apesar da satisfação estampada em seu rosto.

Após mais duas fantasias mal sucedidas, descobri que ser bruxa e fada não fazia meu gosto. Mesmo que os olhos de Beatrice brilhassem com as asas azuis.

Vesti então, desanimadamente, a quinta roupa. Um corpete preto ligado a uma mini saia verde estampada com interrogações, foi o que fez os meus olhos brilharem. A máscara preta, contrastando com meus fios acobreados, completou minha fantasia de charada.

Não consegui prender o riso com o comentário entusiasmado da senhora.

- Não há Batman que a segure nessa festa.

A fantasia estava escolhida.

Voltamos a casa e eu estava mais cansada do que imaginara. Deitei-me e como num piscar de olhos, já era o dia seguinte.

Mas uma manhã sendo acordada gentilmente por Beatrice. Com certeza eu poderia me acostumar com isso. A conhecia há tão pouco tempo, mas meu carinho por ela crescia rapidamente. Ela me acolheu de braços abertos quanto fui despachada por meus pais. Mudou toda sua rotina para aceitar uma adolescente em sua vida. Devo muito a ela.

Acordo lhe oferecendo o melhor sorriso que alguém pode dar as seis da manha.

- Olha! Alguém acordou com o pé direito hoje. - Ela brinca.

Minha animação é indisfarçável. Mas os motivos são, para mim, difíceis de ser aceitos. Ir a uma festa em um lugar novo. Tentar uma vida nova. Conhecer pessoas novas. E sentir que alguém na família me ama, não como Meg, mas como filha.

Arrumo-me e logo estou a caminho da escola.

O dia passa arrastando-se. Porém, mesmo que eu ainda me sinta sozinha nesse lugar, tudo parece mais bonito, mais cheio de vida. Noto um lindo jardim na parte de trás da escola, vejo as pessoas mais sorridentes e até os legumes pareciam melhor temperados. O sol também parece mais acolhedor e o ar mais puro.

Amarga MegOnde histórias criam vida. Descubra agora