Capítulo 7

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Bella

Memphis (Tennessee), dois anos atrás.

 Abro a porta do apartamento. Está escuro, apenas a fraca luz do pequeno televisor, na sala, dá-me a certeza de que o Derek ainda está acordado. O meu relógio de pulso marca as quatro da manhã exatas.

-Amor?- chamo-o baixinho, entrando devagar em casa e fechando a porta atrás de mim com todo o cuidado. Coloco a minha gabardina no bengaleiro e pouso as chaves na pequena mesa da entrada. Sinto um arrepio ao entrar na sala, uma corrente de ar sacode as cortinas e eu resmungo ao ver que a janela está aberta.- Derek, a casa está gelada! Não sabias fechar a janela?

Não recebo nenhuma resposta e, depois de fechar a janela, aproximo-me do sofá. Na televisão, passa um programa de comentadores de futebol, a mesa de centro está coberta por plásticos de fritos e duas garrafas de álcool vazias. Suspiro, encarando o corpo magro de Derek estendido no sofá.

-Vá, levanta-te. Anda para a cama- digo, abanando-o gentilmente. Ouço-o gemer e abrir os olhos com dificuldade. -Estás bem, amor?- pergunto. Ele abana a cabeça e responde que sim, mas o seu aspeto mostra-me exatamente o contrário. Vejo que se tenta levantar, então ofereço-lhe a minha ajuda, porem ele recusa bruscamente. Senta-se na ponta do sofá, enquanto passa a mão pelo cabelo despenteado e depois suspira, cansado.

-Andas-te a beber.- digo desiludida.

-Sim, mas não sinto um único pingo de arrependimento, ouvis-te?- ele responde, quase que aos berros.

-Porquê, Derek?- questiono afetada. Ele solta uma risada forçada.- Pensava que estávamos bem.

-E estávamos, estávamos maravilhosos. Mas tu tinhas de estragar tudo, não é? Pois claro, como tu sempre fazes.- diz ele, cerrando a mão em punho.

Desligo a televisão e acendo as luzes da sala. Agora, posso ter uma excelente precessão do seu rosto contorcido pela fúria causada pelo álcool. Outra vez.

-Derek, olha para mim. Tens de te acalmar, amor. Olha, olha para mim.- eu insisto, sorrindo amavelmente para o rapaz que me encara com desdém.

-O que é que eu não sou capaz de fazer por ti, hum? Eu faço tudo, tudo! E tu? O que é que tu me dás em troca? Nada, absolutamente nada! Onde está a tua gratidão, o teu amor? Onde, Bella?- Derek inquire com os olhos verdes a lacrimejar.

-Se isto for por causa do meu trabalho... Derek, eu já te disse que não vou deixar o Jacob e as raparigas! Eles são praticamente a minha família, tu sabes disso, tu sabes que eu adoro este trabalho. E tu também sabes que eu sou tua e unicamente tua!

-Tretas! Tudo uma carrada de tretas! Tu... tu és uma cabra! A tua família?! A tua família sou eu!- ele responde alterado. O medo consome-me, as minhas pernas e mãos tremem descontroladamente. Numa porção de segundos, o meu rosto é consumido por lágrimas.

-Porque é que estás a dizer isto? Eu amo-te, eu amo-te tanto... eu faço o que posso, desculpa se não sou a rapariga perfeita que esperavas!- profiro entre soluços, que subitamente, se tornam em gemidos de dor. O meu crânio bate contra algo duro e eu solto um grito agudo, ergo a cabeça lentamente e vejo o Derek agarrar-me no braço com força. As suas unhas cravam na minha pele e eu imploro-lhe que pare.

-Por favor...- suplico. As lágrimas quentes correm-me pelo rosto abaixo. Estremeço quando ele me solta bruscamente e ouço os seus passos a afastarem-se. Fecho os olhos com força, o som de algo feito de vidro a ser partido, depois um grito de fúria. Os passos voltam a aproximar-se de mim e eu abraço o meu próprio corpo, tentando proteger-me, embora seja em vão. Sinto o seu hálito quente a tresandar a álcool bater contra a minha face e engulo em seco.

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⏰ Última atualização: Oct 21, 2017 ⏰

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