Segunda-feira. Provavelmente uma das coisas mais abominadas do planeta terra. O dia em que tudo se inicia novamente. Pessoas acordam frustradas depois de dois longos dias de folga com seus despertadores, ecoando sons agonizantes na qual as obrigam sair da área de conforto, já de mal humor.
Isso não seria diferente comigo, afinal, eu sou apenas um adolescente como todos os outros que não possui nada de especial.
Sai da cama e segui em direção ao banheiro, no meu trajeto não pude deixar de ouvir a discussão que parecia ser interminável vinda da cozinha. Droga. Eles não podiam me deixar em paz? Todo dia a mesma coisa, já estava farto das brigas do meu padrasto com a minha mãe.
Eu sinto pena dela,queria poder dá-la uma vida melhor e longe desse cara,quem sabe algum dia.
Como todas as manhãs monótonas, tracei meu caminho para a escola, um lugar onde eu podia deixar minha cabeça no lugar. Ou nem sempre.
- O que carrega aí nessa sua bolsa cheia de tralhas hoje hein, Shawn? - Bryan jogou meus livros no chão, era notável o desconforto que as pessoas ao meu redor sentiam, mas nenhuma dava-se na iniciativa de fazer com que ele parasse de me infernizar todos os dias.
Eu já havia aprendido a lidar com ele, tanto que, de algum modo, não ligava mais,pelo menos fingia não ligar.
- Hoje não, Bryan. - Rebati, recolhendo os meus pertences que se encontravam esparramados pelo chão.
Ajeitei minha mochila nas costas e segui em frente, não por muito tempo.
Bryan havia me puxado pelo braço e acertado um soco na minha boca, me deixou tonto e não pude hesitar em me jogar no chão. Fiquei ali caído por uns minutos, tentando entender o que havia acontecido.
Ele não me batia desde a oitava série, já era perceptível sua sede insaciável de querer me socar todas as vezes que ele me insultava e eu não dava bola. Pode-se dizer que eu sabia que isso estava prestes a acontecer,só não sabia que seria hoje.
As aulas passaram voando, recebi convite para uma festa que aconteceria à noite, estava sem disposição mas dei-me no trabalho de prometer a alguns colegas que apareceria no local. Assim foi feito.
Cheguei da escola e dormi até o dia terminar, acordei e me vesti para a 'reunião' que havia sido combinada.
Não demorou muito para que eu achasse a casa da garota, que por sinal eu nem sabia quem era, adentrei-me à mesma e avistei meus amigos, como se não bastasse já estavam bêbados.
Eu tentava achar esse prazer da bebida que todos me falavam, mas eu nunca conseguia encontrá-lo. Era uma coisa simples demais pra mim, não faria diferença se eu bebesse até cair no chão ou não, isso provavelmente me causaria mais um turbilhão de problemas, e preferia me distanciar deles agora.
Enquanto andava pela casa, não deixei de notar o que toda festa de adolescentes da minha faixa etária possui. Garotas se esfregando em garotos por todos os cantos, garrafas de bebidas que eu nunca tinha visto antes derramadas no chão, músicas que eu preferia nem saber o nome e todo esse tipo de coisa que alguém com 17 anos já deve ter presenciado ou ouvido falar.
Eu estava sozinho entre tanta gente, provavelmente apenas mais um ali no meio. Senti-me na obrigação de ir embora,e assim o fiz. Percebi que ninguém se incomodou com o fato de eu estar deixando a festa, dei ombros e caminhei em passos longos até o carro. Entrei e logo dei partida, queria sumir dali o mais rápido que eu podia.
Fiz o percurso prestando atenção na música que tocava, era uma melodia simples mas que me manteve preso por vários minutos.Quando me dei conta, estava quase passando no sinal vermelho, pisei no freio e fechei os olhos durante o barulho estrondoso que o pneu acabara de fazer durante o ocorrido inesperado. Abri-o lentamente e abaixei os vidros. A rua estava completamente deserta. Um vento gelado passou pela janela, senti arrepios e um grande calafrio. Cena digna de filme de terror. Antes mesmo de fechar a janela e expressar o breve momento de alívio ao ver o sinal na cor verde, vi que havia um grupo de indivíduos se aproximando do meu carro.
No momento que um deles apontou uma arma em minha cabeça do lado de fora do veículo, entrei em estado de choque.
- Sai do carro e me dê as chaves. Não grite se não quiser ver essa bala estourar os seus miolos. - Um homem grande e com capuz deu ordens, não fiz nada além de obedecer.
Os outros amarraram minhas mãos e notei um garoto que estava atrás, recebeu as chaves e pôs-se no banco do motorista. Fui jogado no banco traseiro com alguns nocautes que me fizeram ficar inconsciente por um tempo.
Quando acordei, tive a sensação de estar sozinho no carro. Mas eu não estava. Senti alguém virando para trás e tirando um grande capuz que tinha sido colocado sobre minha cabeça.Era ele, senti sua angústia ao me ver naquele estado. Ele parecia não estar fazendo aquilo por sua vontade. Puxou a fita da minha boca e passou os dedos sobre os meus lábios.
- O que aconteceu aqui? Foram eles que fizeram isso? - Ele dedilhou o pequeno machucado que havia se formado hoje mais cedo durante a breve discussão com Bryan. - Merda! Eu disse para eles não pegarem pesado com você!
O garoto pareceu um pouco irritado, mas logo se acalmou quando viu que eu havia balançado a cabeça, negando tal fato.
Olhei em minha volta e estava em uma espécie de posto abandonado. Bateu-me medo ao ver os grandes homens que haviam me abordado na noite anterior.
Respirei fundo, o menino provavelmente percebeu o medo que me consumia.
- Não se preocupe, nós não vamos te machucar. - Ele olhou pelo retrovisor e sorriu, não estava em condições de retribuir, muito pelo contrário, apenas deitei minha cabeça para trás.
Céus, Mendes. No que você tinha acabado de se meter?
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Criminal
FanfictionLá estava ele. Rindo enquanto me assistia lutar contra as cordas que haviam sido amarradas em minhas mãos. Eu tentava desfazê-las, mas era em vão. O vi se aproximar, temi o momento em que iria se irritar e acabar puxando a arma que estava perfeitame...