Promessa

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So Young não se  sentia bem, seu braço estava doendo muito, e ela estava se sentindo tonta, tudo ao seu redor parecia girar, ela começou a se sentir assim quando entrou em sua sala. Ela se sentiu assim durante as aulas inteiras e não estava mais aguentando quando o intervalo chegou.

- Eu acho que preciso ir ao banheiro.- ela disse para Kyungsoo, o mesmo olhou para ela e se espantou.

- Você está pálida!- ele disse.- Você está bem?- ele perguntou, So Young se levantou e assentiu com a cabeça.

- Sim, eu estou.- ela disse.- Eu só preciso ir ao banheiro.- ela disse e andou lentamente até a porta, ela saiu e cambaleou pelos corredores até chegar ao banheiro feminino, ela entrou e se apoiou na pia. So Young se sentia incrivelmente tonta, seu estômago estava revirando e sua visão estava ficando embaçada, ela abriu a torneira e lavou o rosto, a água gelada fez So Young despertar um pouco.- Aguente firme.- ela disse em voz alta para si mesma, ela olhou para seu reflexo e viu que o espanto de Kyungsoo tinha um motivo aparente: ela estava incrivelmente pálida e seus olhos pareciam afundar nas próprias órbitas.- É tudo culpa sua!- ela disse.- Agora lide com o seu problema.- ela se afastou da pia e seguiu para a porta. Kyungsoo estava apoiado na parede na frente do banheiro, ele olhou para So Young e se aproximou rapidamente.

- So Young! Você está bem?- ele perguntou segurando os ombros da garota, a mesma afastou as mãos dele.

- Eu estou ótima.- ela disse e começou a andar em direção à sala.- Eu só precisava lavar o meu rosto...-  tudo ficou escuro, So Young havia, finalmente, desmaiado.

(...)

Kyungsoo desconfiou que So Young não estava bem e a seguiu até o banheiro, ele esperou por ela apoiado na parede da frente, ela parecia estar bem pior quando saiu do banheiro, seu rosto estava cada vez mais pálido e ela estava cambaleando.

- So Young! Você está bem?- ele perguntou e segurou os ombros da garota, ela estava trêmula, ela afastou as mãos de Kyungsoo.

- Eu estou ótima.- ela disse e andou pesadamente de volta para a sala.- Eu só precisava lavar o meu rosto...- em uma fração de segundos, as pernas de So Young simplesmente desistiram de sustentar o corpo da garota, os olhos desistiram de permanecer abertos, o cérebro desistiu da tarefa de manter a garota acordada, So Young desmaiou.

- So Young!- Kyungsoo disse e correu para segurar a garota, ele agarrou So Young e caiu de joelhos no chão.- So Young!- ele chamava pela garota mas a mesma não respondia, ele tirou os cabelos de So Young de seu rosto e olhou para a pessoa pálida e gelada que repousava em seus braços, ela estava quase irreconhecível.

‘Ela está parecendo...’ Kyungsoo pensou e engoliu em seco. ‘Um cadáver.’ Ele afastou o pensamento e decidiu levar So Young para a enfermaria, ele carregou a garota inconsciente e andou com dificuldade pelos corredores, os alunos já haviam se retirado dos corredores mas Kyungsoo ainda viu alguns alunos conversando antes de entrar em suas salas, ele viu Dongsun na porta de sua sala, o mesmo olhou para Kyungsoo e depois deu as costas para os dois. ‘Então este é o verdadeiro Dongsun?’ Kyungsoo se perguntou e entrou na enfermaria, a sra. Nam estava conversando com a enfermeira e se mostrou surpresa quando viu Kyungsoo carregando So Young, a qual ainda estava inconsciente.

- Oh meu...- ela disse e se aproximou dos dois.- O que aconteceu?- ela perguntou.- Ponha ela aqui.- ela disse e apontou para a cama, a única cama que existia na enfermaria, Kyungsoo pôs a garota cuidadosamente na cama e olhou para a sra. Nam.

- Me desculpe por lhe assustar assim.- ele disse.- Mas eu não sabia o que fazer.- a sra. Nam pegou na mão de Kyungsoo.

- Tudo bem.- ela disse.- Você fez o que era certo.- a enfermeira agora estava analisando os sinais vitais de So Young.- Agora, me diga o que aconteceu.- a sra. Nam pediu, Kyungsoo contou tudo para ela, mesmo que ele não soubesse o motivo do desmaio, ele disse que So Young não parecia bem e que ele fez a coisa certa quando a seguiu, a sra. Nam olhava para So Young e concordava com a cabeça.

(...)

So Young havia acordado em um lugar diferente, ela estava na enfermaria, ela nunca havia ido para a enfermaria, aquilo não era um bom sinal. A enfermeira estava conversando com a sra. Nam e Kyungsoo estava sentado em uma poltrona ao lado da cama, ele olhava para baixo e mantinha uma perna inquieta.

- Kyungsoo?- ela disse quase sussurrando, mas o garoto pareceu ouvir, ele levantou os grandes olhos para So Young e sorriu, aquela visão fora extremamente confortante para So Young.

- Você acordou!- ele disse.- Você me assustou.- ele se ajeitou na poltrona.

- Eu desmaiei?- So Young perguntou, Kyungsoo assentiu com a cabeça.- E você me trouxe até a enfermaria?- ela perguntou, Kyungsoo assentiu novamente com a cabeça e sorriu.- Meu Deus, me desculpe por isso.- So Young disse e cobriu o rosto com as mãos, ela se sentiu envergonhada, Kyungsoo apenas riu, ele não parecia se incomodar com aquilo.

- Ela acordou?- a sra. Nam perguntou.- Ela está bem?- ela se aproximou de So Young e a observou atentamente, o “desespero” da sra. Nam fez So Young rir.

- Ahjumma, eu estou bem.- ela disse e se levantou lentamente, a sra. Nam a ajudou.- Eu só me senti fraca por um momento, só isso.- a sra. Nam não pareceu muito convencida com a resposta de So Young.

- Você ainda está fraca So Young.- a sra. Nam disse.- Por um acaso, você se alimentou hoje de manhã?- ela perguntou, So Young apenas olhou para a sra. Nam e não disse nada.- So Young, nunca mais faça isso.- a sra. Nam repreendeu So Young.

- Sim senhora.- So Young disse.- Nunca mais eu farei isso.- ela prometeu.

- Eu acho que deveríamos ligar para o seu responsável e avisar sobre esse acontecimento.- a sra. Nam disse e So Young arregalou os olhos.

- Não ligue para o meu pai!- So Young disse alto.- Por favor!- a sra. Nam olhou assustada para So Young.- Me desculpe.- So Young disse.- Eu quis dizer que... Você não deve ligar para o meu pai pois ele está no trabalho e ele não gosta de ser interrompido.- ela explicou.

- Mas ele é seu pai.- a sra. Nam disse.- Ele deveria vir até aqui lhe buscar, você deve ir para casa e repousar.- ela olhou para Kyungsoo, o qual ainda estava sentado na poltrona.- E o que aconteceu com o seu rosto?- ela perguntou assustada, Kyungsoo olhou para So Young.

- Me desculpe sra. Nam, mas acho que esse não é o foco do assunto.- ele disse, a sra. Nam o olhou com os olhos semicerrados e depois olhou novamente para So Young.

- Não ligue para o meu pai, por favor.- So Young pediu, a sra. Nam a olhou por um tempo como se estivesse pensando.

- Mas quem vai ficar com você?- a sra. Nam perguntou, Kyungsoo se levantou da poltrona.

- Eu posso!- ele disse, So Young e sra. Nam olharam para ele surpresas.

- Creio que você já deveria ter voltado para a sua sala Kyungsoo.- a sra. Nam disse.- O intervalo já terminou.- Kyungsoo continuou parado.

- Por favor sra. Nam, deixe-me ir com ela.- Kyungsoo pediu, a sra. Nam parecia confusa, ora olhava para So Young, ora olhava para Kyungsoo.

- Por favor.- So Young disse e tocou no braço da sra. Nam.- Deixe ele ir comigo.- ela pediu.- Ele me faria companhia.- a sra. Nam olhou para a garota como se estivesse fazendo uma decisão muito difícil, ela pensou por alguns segundos.

- Está bem.- ela se deu por vencida.- Mas eu não farei isso outra vez.- ela disse.- Eu levarei vocês dois em meu carro, já que você não quer que eu ligue para o seu pai.- ela disse e So Young sorriu, ela se sentia grata.

- Muito obrigada sra. Nam.- Kyungsoo disse.- Eu não sei como eu poderei lhe retribuir.- ele disse.

- Apenas cuide de So Young.- a sra. Nam disse.- Ela parece gostar muito de sua companhia.- So Young olhou para Kyungsoo, as bochechas dele estavam coradas, ele estava muito fofo.- Bem, eu vou levar vocês. Você consegue andar So Young?- ela perguntou, So Young afirmou com a cabeça.- Ótimo, então vamos.- ela disse e saiu da enfermaria. So Young se levantou da cama e se apoiou nas duas pernas, seu corpo ainda parecia pesado demais para ser sustentado mas ela continuou em pé.

-  Eu ajudo você.- Kyungsoo disse e, educadamente, passou um braço ao redor da cintura de So Young, o coração de So Young acelerou e ela pôs um braço ao redor dos ombros de Kyungsoo, ela se sentia confortável e desconfortável ao mesmo tempo, confortável pelo fato de Kyungsoo estar cuidando dela e se importando com ela de um jeito que ela nunca pensou que ele fosse fazer, desconfortável pelo fato de que ela nunca havia tocado de tal maneira em Kyungsoo. So Young tentou não apoiar todo o peso de seu corpo em Kyungsoo enquanto os dois saíam da enfermaria, So Young ainda estava cambaleando, mas dessa vez ela não cairia, Kyungsoo a estava segurando firmemente.

- Por que você está fazendo isso?- So Young perguntou para Kyungsoo enquanto andavam em direção ao carro da sra. Nam.- Por que você está me ajudando tanto?- Kyungsoo sorriu.

- Por que eu não ajudaria?- Kyungsoo perguntou, ele olhou para o carro da sra. Nam.- Vamos esperar a sra. Nam chegar.- So Young assentiu, ela se separou de Kyungsoo e se encostou no carro, ela olhou para o próprio braço, olhou para o hematoma, quando voltou a levantar os olhos ela reparou que Kyungsoo olhava atentamente para o seu rosto. So Young abaixou a cabeça rapidamente quando se lembrou da mancha roxa em seu rosto, talvez ele tivesse visto, ou talvez não. A sra. Nam se aproximou carregando duas mochilas em suas mãos.

- Vocês não estavam pensando em ir embora sem as mochilas, estavam?- a sra. Nam perguntou e entregou as mochilas para os dois.- Entrem no carro.- ela disse enquanto abria a porta do motorista e entrava, Kyungsoo abriu a porta do assento de trás e So Young entrou, Kyungsoo se sentou ao lado de So Young. A sra. Nam perguntou diversas coisas para os dois durante o caminho.

- O que é essa marca no seu braço, So Young?- ela perguntou em um momento, So Young olhou para a sra. Nam que continuava olhando para a estrada, depois olhou para Kyungsoo, o mesmo olhava para So Young, como se esperasse pela resposta.

- Eu... Acho que me bati em algum lugar.- So Young respondeu, a mentira não deixava de ser evidente em seu tom de voz, ela mesma estava se entregando, So Young era uma péssima mentirosa e as duas pessoas que estavam no carro com ela começaram a descobrir isso aos poucos.

‘Que tipo de pessoa é essa que bate o braço em algum lugar e o hematoma tem o formato de uma mão?’ ela se perguntou enquanto esperava a sra. Nam dizer que não acreditava naquela resposta, mas ela não fez aquilo, ela simplesmente não perguntou mais nada sobre o braço de So Young. So Young se sentiu aliviada, ela não queria contar para as pessoas aquilo, ela só queria esquecer.

- Você andou se metendo em confusão, não é mesmo Kyungsoo?- a sra. Nam perguntou, agora para Kyungsoo, o mesmo a olhou surpreso e travou, So Young olhou para Kyungsoo e viu que seus punhos estavam cerrados, ele abriu a boca mas nenhuma palavra saiu.

- Ele não vai se meter mais em confusões!- So Young disse com medo de que Kyungsoo pudesse dizer alguma coisa desagradável para a sra. Nam.- Ele me prometeu, disse que não fará mais isso.- So Young pôs uma mão em cima do punho cerrado de Kyungsoo, as mãos do garoto relaxaram ao sentir o toque da garota. Pelo retrovisor, So Young viu a sra. Nam torcer o nariz, ela não parecia convencida de nenhuma das duas histórias, mas não disse nada depois disso. A sra. Nam sabia que os dois moravam em casas vizinhas, então ao chegar, ela os deixou em frente à casa de So Young.

- Não se acostumem com esse tipo de coisa!- ela disse e olhou para os dois no assento de trás.- E So Young, eu terei que ligar para o seu pai se caso houver uma outra vez, tudo bem?- ela perguntou, So Young assentiu.

- Sim, tudo bem.- ela disse.- Mas não haverá uma outra vez, eu lhe garanto.- ela disse sorrindo.- Eu não farei mais isso.- o rosto da sra. Nam se tornou menos tenso e ela sorriu. Kyungsoo abriu a porta do carro.

- Obrigado novamente sra. Nam!- ele disse e saiu do carro, So Young fez o mesmo.

- Até segunda-feira ahjumma!- ela disse e acenou para a sra. Nam, os dois observaram enquanto o carro dobrava a esquina e sumia de vista, So Young se virou para Kyungsoo.- Agora eu estou com fome.- ela disse, Kyungsoo riu.

- Você vai comer alguma coisa.- ele disse e virou a garota, ele empurrou So Young pelos ombros lentamente fazendo ela entrar em sua casa.- E quem vai preparar sua comida sou eu!- ele disse enquanto So Young abria a porta, ela parou e se virou.

- Você vai cozinhar para mim?!- ela perguntou surpresa, Kyungsoo pôs as mãos na própria cintura e fez uma pose engraçada.- Aigoo, isso é divertido!- So Young disse e deu pulinhos enquanto batia palmas, ela estava rindo novamente, Kyungsoo a estava fazendo rir novamente.

(...)

Kyungsoo havia feito So Young rir, aquilo era uma vitória para ele, ele já estava começando a sentir saudades do sorrido de So Young, mas ele já havia voltado, e continuava lindo e radiante.

- Agora entre e me espere, você deve repousar.- Kyungsoo disse e empurrou, de leve, a garota novamente.- Eu volto logo.- ele disse e correu em direção à sua casa do outro lado da rua, ele ouviu a risada de So Young antes de entrar em casa. Kyungsoo entrou apressado e subiu as escadas correndo, ele tropeçou em quase todos os degraus mas não se importava nem um pouco, ele entrou em seu quarto e trocou de roupa rapidamente enquanto pensava em uma comida.

‘Posso fazer uma coisa que minha mãe me ensinou quando eu era criança.’ ele se lembrou de quando sua mãe o ensinou a fazer ensopado. Seu primeiro ensopado ficou com um gosto estranho, parecia uma água com sal, mas ele praticou até chegar na “perfeição”. ‘Ensopado é um bom prato para quem está doente...’ ele parou e pensou. ‘Mas So Young não está doente, está?’ ele se perguntou. ‘Creio que não.’ ele saiu do quarto e desceu as escadas, ele saiu de casa e olhou para a casa de So Young, a porta da frente estava aberta, ele atravessou a rua em passos largos e rápidos e entrou na casa. Kyungsoo estava relutante quanto a entrar na casa de So Young daquele jeito.

- Eu voltei!- Kyungsoo gritou na sala, ele ficou completamente imóvel após gritar essas palavras, como se estivesse esperando pela resposta de So Young, ele não ouviu absolutamente nada.- So Young?- ele chamou, ele continuava sem uma resposta. Kyungsoo quis subir as escadas e ver se So Young estava bem, ele andou pela sala e entrou na cozinha, a casa dela se parecia muito com a dele, mas a dela parecia mais infeliz e sem graça.

- Eu!- So Young gritou de algum lugar no andar de cima, provavelmente, ela estava em seu quarto.- Eu estou aqui!- ela continuou.- Não precisa subir, eu estou bem! Eu não desmaiei de novo!- Kyungsoo sentiu um certo alívio, ela não parecia doente, e Kyungsoo não queria que ela estivesse.

- Tudo bem, então fique em seu quarto e descanse!- Kyungsoo disse e apontou para as escadas mesmo que não houvesse ninguém lá.- Não saia do quarto!- ele “mandou”, So Young ficou em silêncio e Kyungsoo começou a procurar coisas na cozinha, ele vasculhou pelas gavetas e encontrou uma coisa interessante.

(...)

So Young estava em seu quarto sentada em sua cama, ela ouvia Kyungsoo mexendo nas gavetas no andar de baixo, ela queria descer e ver o que ele estava fazendo, mas ela precisava descansar, seu corpo estava cansado embora sua mente não estivesse no mesmo estado. So Young se levantou e andou pelo quarto por alguns minutos, ela ouviu os armários se abrindo e logo depois fechando, ela esperou mais um pouco.

- Aish!- ela ouviu Kyungsoo praguejando, ela saiu do quarto e desceu metade dos degraus das escadas.

- O que aconteceu?!- ela perguntou, ela estava assustada. Kyungsoo estava com um dedo na boca, ao observar ele com atenção So Young viu que ele estava usando um avental, o avental de cor escura que pertencia a So Young, aquilo fez ela rir.- Por que você está usando o meu avental?- ela perguntou cobrindo a boca com uma mão.

- Eu disse para você ficar no seu quarto!- Kyungsoo fingiu estar com raiva, mas ele estava rindo, ele tirou o dedo da boca e apontou para as escadas.- Volte!- So Young continuou rindo e voltou para o seu quarto e se deitou na cama, ela nem mesmo se lembrava daquele avental. Um pensamento ocorreu So Young: e se a sra. Nam tivesse ligado para o seu pai? O que aconteceria? Seu pai iria, provavelmente, buscar So Young na escola, mas ele poderia bater nela depois, ele poderia bater nela dentro do carro, ou então em casa, ou até mesmo depois que ele chegasse do trabalho, por mais que So Young amasse o seu pai, ela o temia demais. So Young tentava se esconder de seu próprio pai, ela tentava evitá-lo, mas mesmo assim, ela o amava, apesar de ele não demonstrar o mesmo. Ela nunca chegou a pensar que seu pai lhe mataria, não até agora, ele não parecia realmente capaz de matar alguém, de novo, até agora. O pensamento de So Young foram interrompido por Kyungsoo entrando no quarto com uma pequena tigela em mãos, So Young se sentou e observou o garoto se sentar ao seu lado.

- Surpresa!- Kyungsoo disse e levantou a tigela, So Young olhou para o conteúdo da tigela e fez uma careta.- Você não gosta de ensopado?- Kyungsoo perguntou, ele pareceu desapontado.

- Não é isso.- So Young disse.- É que ensopado não é a minha comida preferida.- Kyungsoo olhou para a tigela e a analisou por alguns segundos.

- Você vai tomar de qualquer jeito!- ele disse e pegou a colher que estava na tigela e levou até a boca de So Young.- Se estiver ruim... Você toma de qualquer jeito!- So Young começou a rir e provou o ensopado, Kyungsoo ficou olhando enquanto ela pensava se estava bom ou ruim.- E então?- ele abaixou o braço.- O que você acha?- ele perguntou.

- Eu acho...- So Young disse enquanto fazia careta, Kyungsoo parecia realmente tenso quanto a resposta.- Eu acho que é o melhor ensopado que eu já provei em toda a minha vida!- So Young gritou com os braços levantados, Kyungsoo quase soltou a tigela que tinha em mãos e encolheu os ombros.- Ai Deus, me desculpe!- So Young disse.- Eu avisarei da próxima vez.- ela disse e Kyungsoo olhou para a tigela novamente, ele riu.

- Tudo bem, foi engraçado.- ele entregou a tigela nas mãos de So Young.- Se você quiser eu posso sair do quarto para você ter privacidade.- ele disse e apontou para a porta, So Young tirou a colher da boca.

- Aigoo, não há necessidade disso!- ela disse.- Você pode ficar. Eu tenho algumas perguntas para lhe fazer.- Kyungsoo se sentou de frente para So Young. Ele esperou pacientemente So Young terminar de tomar o ensopado e colocar a tigela na cômoda ao lado da cama.- Você tem mãe?- ela perguntou, Kyungsoo olhou para ela e pensou.

- Sim, eu tenho.- ele disse.

- Por que você nunca fala dela?- So Young perguntou.- Por que eu nunca a vi? Ela mora com você?- So Young o encheu de perguntas, ele levantou uma mão, como se estivesse pedindo para So Young esperar um pouco, ela se calou.

- Sim, ela mora comigo, mas ela é muito ocupada. Ela está viajando por causa do trabalho nesse momento, ela geralmente diz que vai voltar em alguns dias, mas já se passaram semanas e ela ainda não voltou.- Kyungsoo respondeu enquanto tirava o avental.- E eu não a culpo por ser tão ocupada, pelo contrário, eu apoio minha mãe em todas as situações. Eu só não gosto de ficar sozinho com meu padrasto.- ele disse.- E você? Quer dizer, eu sei que você tem mãe, mas...- ele perguntou.

- Minha mãe também trabalha bastante, mas não mora comigo.- So Young disse e afastou os cabelos que lhe cobriam os olhos.- E eu também não gosto de ficar com meu pai, nós não somos tão próximos.- Kyungsoo olhava atentamente para o rosto de So Young mais uma vez, e dessa vez ela não abaixou a cabeça.

- O que é isso no seu...- ele disse e apontou para o próprio olho, So Young levou a mão até o rosto e cobriu o hematoma, Kyungsoo se aproximou de So Young e tentou tirar a mão que cobria o olho.

- Ahn? O que você está fazendo?- ela perguntou e forçou a mão.- Não é nada, não é nada!- So Young disse, Kyungsoo fez ela tirar a mão do próprio olho.

- Por um acaso você bateu o rosto também?- ele perguntou, So Young podia sentir a ironia no tom de voz de Kyungsoo.

- E por um acaso você apanhou do nada?!- So Young rebateu, ela sentiu um nó enorme em sua garganta, ela sentiu a culpa cair sobre seus ombros, aquelas palavras mexeram de algum jeito com Kyungsoo. Kyungsoo apenas ficou em silêncio e olhou para o chão, So Young se encolheu em seu lugar na cama, o silêncio se instalou no quarto, nem mesmo os pássaros cantavam do lado de fora.

- Você acha mesmo que eu posso me defender?- Kyungsoo perguntou quebrando o silêncio.- Você acha que eu vou fazer a mesma coisa com quem me fez isso?- So Young sentiu seus olhos se encherem de lágrimas por algum motivo.

- E você acha que eu posso?!- ela perguntou.- Eu não posso nem falar com o meu pai! Ele me odeia e eu não sei por quê!- So Young estava começando a falar muito alto.- Talvez o motivo seja muito aparente para ele, mas eu não descobri qual é esse motivo até hoje, ele simplesmente me odeia!- a voz de So Young estava falhando e suas lágrimas ameaçavam cair.

(...)

Kyungsoo olhava para So Young enquanto ela tentava não chorar, mas parecia tarde demais para isso, ele não pensou direito e então abraçou So Young, a qual chorava de um jeito incontrolável agora, ela apertava a camisa de Kyungsoo enquanto chorava em seu ombro.

- Por que ele me odeia?- ela perguntou sem tirar a cabeça do ombro de Kyungsoo.- Por que ele me odeia tanto?- ela perguntou soluçando.- O que eu fiz de errado?- Kyungsoo apenas deixou que ela chorasse e ficou em silêncio, seus soluços foram aos poucos passando e ela já havia voltado a respirar normalmente, as mãos de So Young pararam de apertar a camisa de Kyungsoo aos poucos. Kyungsoo ainda pensava nas palavras certas para dizer a So Young quando ela afastou o rosto de seu ombro, seus olhos estavam inchados e vermelhos assim como o seu nariz, ela esfregou os olhos com as mãos e olhou para baixo.- Me desculpe...- ela disse, Kyungsoo pegou a mão de So Young.

- Por favor, não chore.- Kyungsoo disse.- Você fica muito mais bonita quando está sorrindo.- ele disse e pôs um dedo na bochecha de So Young, fazendo ela sorrir.- Eu quero lhe mostrar uma coisa.- ele disse puxou So Young pela mão. Kyungsoo sabia o que So Young estava sentindo, ele se sentia mal do mesmo jeito que So Young estava se sentindo.- Eu tenho um lugar especial para o qual eu vou quando me sinto triste.- ele disse enquanto os dois desciam as escadas.- Mas... Eu posso mostrá-lo para você?- ele perguntou e parou de andar, So Young o olhou em silêncio.

- Você ainda quer sair comigo depois daquilo?- ela perguntou com a voz baixa, ela havia soltado a mão de Kyungsoo, ele a olhou confuso.

- Por que você acha que eu não deveria mais sair com você?- ele perguntou.- Você acha que eu deveria lhe evitar?- So Young assentiu relutante com a cabeça.- Você acha que eu deveria lhe evitar só pelo fato de você ter chorado na minha frente?- ela assentiu novamente.- So Young...- ele disse e pegou a mão da garota novamente.- Eu nunca faria isso, afinal, eu sei o quão ruim é ser abandonado por aqueles que você gosta. Eu também não faria isso com uma pessoa que eu considero importante.- So Young olhou para ele e sorriu.- Sabe de uma coisa? Você realmente fica muito mais bonita quando está sorrindo!- Kyungsoo disse e tocou nas bochechas de So Young, a qual começou a rir.

- Então vamos sair daqui!- So Young disse entusiasmada, Kyungsoo a puxou pela mão novamente e eles correram pelas ruas. Kyungsoo sabia exatamente para onde ele estava levando So Young, ele sabia exatamente o motivo pelo qual ele estava levando ela para esse lugar específico.- Como está o seu dedo?- So Young perguntou quando eles pararam de correr, Kyungsoo nem se lembrava mais de seu dedo.

- Ah... Eu encostei ele na panela quente, só isso.- ele respondeu.- Nem está doendo tanto.- ele levantou o dedo para que So Young pudesse ver, ela encarou o dedo indicador de Kyungsoo por alguns segundos e, inesperadamente, beijou o dedo de Kyungsoo, o qual olhou para a garota sem saber o que dizer.

- Vai parar de doer.- So Young disse. Kyungsoo continuou com o dedo levantado completamente imóvel, apenas olhando para So Young, ele sentia que o próprio rosto estava quente demais.- O que foi?- So Young perguntou rindo.- Você está parecendo um tomate.- ela disse e tocou no nariz de Kyungsoo.- Vamos, eu estou curiosa para saber onde você está me levando!- ela sacudiu Kyungsoo levemente pelos ombros, ele acordou de seu “transe” e se recordou que deveria levar So Young para o seu lugar seguro. Eles continuaram andando até que Kyungsoo parou e entrou em uma área repleta de árvores e arbustos.

- Não se assuste!- ele disse enquanto afastava alguns galhos do caminho.- Eu não vou lhe arrastar para um lugar sem volta ou... Qualquer outra coisa.- ele continuou andando e So Young o seguiu, ela não parecia assustada em seguir ele para um lugar desconhecido dentro de uma mata.- Espere, espere!- Kyungsoo disse e se pôs na frente da garota.- Eu quero que seja uma surpresa!- ele disse e cobriu os olhos da garota com as duas mãos.- Cuidado onde pisa.- ele guiou a garota por entre os galhos quebrados e os arbustos espalhados pelo chão coberto de grama.- E... Surpresa!- Kyungsoo exclamou e tirou as mãos dos olhos de So Young.

(...)

So Young deparou-se com uma pequena cabana feita de madeira, parecia antiga e prestes a cair a qualquer momento, mesmo assim, os olhos de So Young se iluminaram, um de seus sonhos quando ela era criança era ter uma casa na árvore ou vice-versa.

- Oh meu Deus!- So Young exclamou, o sorriso se formava lentamente em seus lábios.- É tão bonitinha!- ela se aproximou da cabana e a inspecionou, ela olhou todas as “paredes” do lado de fora e olhou para Kyungsoo.- Você construiu?- ela perguntou, ele negou com a cabeça. A cabana era feita de galhos grandes e pequenos, pareciam extremamente sensíveis ao toque, toda a cabana estava coberta de musgo mas continuava de pé e continuava, de certo modo, bonita.

- Eu achei por acaso.- ele disse.- Eu estava andando por aqui ano passado, eu não tinha um lugar específico para ir, eu estava andando sem rumo até entrar nesse lugar e achar essa cabana. Então, quando eu não estou andando no parque, eu estou aqui dentro.- ele disse.- É como se fosse um “porto seguro”.- So Young se sentiu intrigada, o “porto seguro” de Kyungsoo, aquilo soava de um jeito triste.

- Por que você está me mostrando esse lugar?- So Young perguntou.- Digo, ele parece ser muito pessoal para você, tipo aquelas coisa que você só conta ou mostra para pessoal as quais você realmente gosta e confia.- So Young estava sendo sincera, ela não se achava tão importante para Kyungsoo, ela não se achava tão importante para ninguém. Kyungsoo apenas olhou para ela com um sorriso no canto de seus lábios ainda machucados, aquele sorriso fez So Young ficar com as bochechas coradas.

‘O que está acontecendo com você So Young?’ So Young se perguntou enquanto desviava o olhar de Kyungsoo. ‘Pare de agir feito uma boba!’ ela andou novamente e olhou dentro da pequena cabana, a cabana era mais baixa que So Young e o interior era um tanto curioso: havia uma pequena cadeira de praia no canto e duas pequenas janelas de ambos os lados da cabana, o chão era forrado com uma espécie de carpete marrom, tudo parecia incrivelmente antigo, uma pequena caixa de papelão se localizava em baixo da cadeira de praia. So Young se ajoelhou no carpete e pegou a caixa.

- Aigoo... Que legal!- So Young disse enquanto olhava para o conteúdo da caixa, eram várias revistas em quadrinhos e um caderno com a capa cheia de mofo.- Você já leu alguma?- ela perguntou enquanto levantava a caixa para Kyungsoo.

- Na verdade não.- Kyungsoo respondeu.- Eu não sei ao certo o motivo, acho que eu não tinha interesse algum, ou talvez eu quisesse mexer em coisa que não me pertencem... Não sei.- ele disse.- Você quer ler?- ele perguntou, So Young olhou para a caixa novamente.

- Eu acho que sim.- ela pegou o caderno com a capa mofada e o analisou, ela virou o caderno e viu letras cravadas na capa de trás.- “C.H”- ela disse em voz alta.- Talvez sejam as inicias do dono deste caderno.- ela mostrou para Kyungsoo, o qual estava se sentando no carpete, ele pegou o caderno e começou a folhear pelas páginas amareladas.

- É um caderno de desenhos.- ele disse e mostrou para So Young, vários desenhos com palavras escritas e rabiscos em todas as páginas do caderno.- Eu acho que pertencia a uma criança.- ele disse enquanto analisava alguns desenhos.- E era um garoto.- ele apontou para vários desenhos de carros e de bonecos palito com capa.- Cada desenho tem uma data.- ele continuou folheando até chegar em uma determinada página, onde os desenho acabavam.- Meu Deus...- ele disse em voz baixa.- So Young, a última vez em que esse garoto desenhou neste caderno foi em abril de 1983.- So Young o olhou assustada.

- Então, isso significa que esta cabana está aqui desde... 1980?- So Young chutou, ela pegou algumas revistas da caixa e viu a data de algumas, todas eram de anos diferentes, uma era de 1979, outra de 1976, e depois os anos aumentavam.

- Creio que sim, não sei como está cabana ainda a está de pé.- ele disse e olhou para o teto da cabana, era coberto por uma pequena lona preta, a qual tinha alguns furos devido ao tempo.

- Você se sente curioso agora?- So Young perguntou.- Você sente vontade de descobrir quem era esse garoto?- ela estava começando a soar animada demais.- Você sente vontade de descobrir o que aconteceu com esse garoto, como ele era, qual era o seu nome e por qual motivo ele construiu essa cabana?- Kyungsoo apenas olhava para So Young.

- Talvez.- ele respondeu.- Mas eu acho que nós deveríamos deixar isso de lado, afinal, nós não sabemos se esse garoto ainda mora por aqui e também não sabemos se ele está... Vivo.- So Young se sentiu um pouco decepcionada, ela queria descobrir quem era o garoto, mas ela também sabia que era uma coisa um tanto impossível.

- O último desenho dele é um garoto?- So Young perguntou olhando para o caderno nas mãos de Kyungsoo.- Um garoto chorando?- ela se sentou ao lado de Kyungsoo e analisou o desenho, o desenho era estranho, os traços eram rudes e grotescos, parecia haver uma mistura de raiva e tristeza naquele desenho e isso o deixava um tanto perturbador. O garoto do desenho chorava com a boca aberta, ele parecia gritar, mas ninguém o estava ouvindo, olhar para o desenho estava deixando So Young desconfortável então ela desviou o olhar para as revistas, ela continuou revirando as revistas quando achou um papel dobrado cuidadosamente no fundo da caixa. Ao desdobrar o papel, ela teve de se esforçar para entender a letra, quando ela finalmente entendeu as letras, seu corpo inteiro se arrepiou.

“Papai matou mamãe e vai me matar”

Essa era a única frase que estava escrita no papel, escrita com lápis, uma escrita trêmula, uma escrita horrorosa que fez So Young sentir vontade de se esconder, mas ela já não estava escondida? Sim, ela estava em um lugar que, provavelmente, ninguém conhecia, explorando as coisa de alguém que pode não estar mais vivo.

- O que é isso?- Kyungsoo perguntou olhando para o papel nas mãos de So Young.- É uma nota?- So Young estendeu o papel para Kyungsoo, ele leu o papel e pensou durante um longo tempo.- Esse é um dos motivos pelos quais nós não deveríamos mexer com essa história.- ele disse.- Isso é um tanto assustador.- ele entregou o papel para So Young, a qual dobrou e guardou o papel novamente dentro da caixa. Eles passaram um bom tempo em silêncio, apenas refletindo sobre o que estava escrito no papel.

(...)

- Me desculpe por dizer aquelas coisas para você, Kyungsoo oppa.- So Young disse depois, quando o silêncio havia se tornado insuportável para Kyungsoo.

- Você deveria parar de se desculpar por tudo.- Kyungsoo disse sem olhar para So Young.- Até parece que você tem culpa de alguma coisa, você não fez nada. Fui eu quem começou aquela “briga”- ele disse e fez as aspas com os dedos no ar.

- Mas eu...- So Young começou a dizer.

- Eu estou falando sério.- Kyungsoo a interrompeu.- Você não pode se culpar por tudo quando você não fez nada de errado. Então, eu não vou aceitar suas desculpas, você vai aceitar as minhas, tudo bem?- ele perguntou, So Young o olhava confusa, mas assentiu com a cabeça de qualquer maneira.- Bem, eu acho que nós deveríamos voltar agora, eu não gosto de ficar aqui durante muito tempo.- ele disse e começou a se levantar.

- Espere, espere, espere!- So Young disse e puxou Kyungsoo pela camisa.- Antes de voltarmos, eu queria fazer uma coisa.- Kyungsoo voltou a se sentar no carpete.- Quero que você me prometa uma coisa, na verdade, é uma promessa que envolve nós dois.- ela respirou fundo.- Vamos prometer que a partir de hoje, nós não vamos mais dar motivos para nos baterem.- ela disse e levantou o mindinho para Kyungsoo. Ele apenas encarou o mindinho de So Young, aquilo parecia a coisa certa a se fazer? Aquilo tinha alguma finalidade? Para So Young parecia ter, Kyungsoo não sabia se tinha alguma finalidade para ele, talvez não.- Você vai mesmo me deixar esperando aqui?- So Young perguntou e balançou o mindinho no ar. Kyungsoo entrelaçou seu mindinho no de So Young.

- Tudo bem.- ele disse.- É uma promessa.- O rosto de So Young se iluminou, ela se levantou e limpou a poeira das calças, ela tinha de ficar abaixada para poder ficar em pé dentro da pequena cabana.

- Agora nós podemos ir!- ela disse e saiu da cabana, Kyungsoo guardou o caderno dentro da caixa e a pós de baixo da velha cadeira de praia novamente, ele se levantou e saiu da cabana, So Young estava do lado fora tocando em um grande pedaço de musgo que havia em uma parte da cabana, ela olhou para Kyungsoo e apontou para o musgo.- Olhe, musgo!- ela parecia incrivelmente feliz em ver um monte de musgo verde e nojento.

- Por que você está tocando nesse negócio?- Kyungsoo perguntou parecendo enojado.- Isso é nojento.- So Young olhou para ele e depois para o musgo, ela tocou mais uma vez e se virou para Kyungsoo.- Não!- Kyungsoo disse arregalando os olhos.- Não faça isso!- So Young começou a sorrir com um sorriso maligno.

- Musgo!- So Young gritou e correu atrás de Kyungsoo com o dedo levantado, Kyungsoo correu rápido por entre as árvores, se esquivando dos galhos que estavam no caminho e pulando sobre os arbustos, ele ouvia a risada “maléfica” de So Young não tão distante. Kyungsoo estava sentindo uma adrenalina muito boa se espalhando pelo seu corpo, ele começou a rir, ele começou a rir alto. Quando foi a última vez em que Kyungsoo riu tão alto assim? Nem mesmo ele sabia a resposta. Kyungsoo olhou para trás e não viu So Young correndo, ele também não ouvia mais sua risada, ele se apoiou em uma árvore e recuperou o fôlego.

- So Young?- ele chamou pela garota, nenhuma resposta, ele olhou ao redor, estava tudo completamente quieto agora, ele ouvia somente o som das árvores estalando.- So Young?- ele chamou novamente, seu sorriso desapareceu, seus olhos vasculharam a área várias e várias vezes e ele não enxergava So Young em lugar algum, ele começou a ficar preocupado.- So Young, onde você...- ele fora interrompido por uma pessoa baixa que usava uma camisa larga voando em sua direção.

- SO YOUNG ATACA!- So Young berrou e pulou em cima de Kyungsoo, o qual gritou assustado, ela passou o dedo com o qual ela tocou no musgo no braço de Kyungsoo.- Agora você tem musgo no braço!- ela disse ainda esfregando o dedo no braço de Kyungsoo, o mesmo riu alto e se afastou.

- Ah que nojo!- ele exclamou limpando o braço, ambos estavam rindo muito alto.- Você é nojenta So Young!- So Young fez uma careta e ameaçou passar o dedo no rosto de Kyungsoo, o mesmo se esquivou rapidamente.- Não, não, não, não!- ele disse e levantou as mãos no ar, So Young continuou rindo e limpou o dedo na própria calça.- Por que você fez isso?- Kyungsoo perguntou rindo.

- Eu não sei, mas você tem que admitir que foi muito engraçado.- So Young disse, Kyungsoo tentou olhar sério para So Young, mas ele acabava rindo de qualquer jeito.

- Talvez tenha sido um pouco engraçado... Mas só um pouquinho!- os dois riram.- Agora vamos para casa.- Kyungsoo disse e estendeu o braço para So Young, a mesma segurou seu braço sem hesitar

- Talvez tenha sido um pouco engraçado... Mas só um pouquinho!- os dois riram.- Agora vamos para casa.- Kyungsoo disse e estendeu o braço para So Young, a mesma segurou seu braço sem hesitar. Os dois andaram lado-a-lado, So Young segurava o braço de Kyungsoo enquanto eles andavam sem pressa alguma até suas casas. Kyungsoo olhou discretamente para So Young, olhou para a mancha roxa em seu rosto, ambos estavam combinando, ambos tinham hematomas em seus olhos, ambos se sentiam incrivelmente tristes por dentro, ambos sorriam por fora.

‘A promessa de So Young... Talvez nem ela saiba se essa promessa é válida.’ Kyungsoo pensou. ‘Talvez nem ela ache que seja possível cumprir essa promessa. Mas ela não parece ligar para isso agora. Ela não parecia se importar com mais nada.’ ele pensou, ela sorria enquanto andava, sua mão apertava firmemente o braço de Kyungsoo, ela olhava para os lados distraída. ‘Você é real?’ ele perguntou para So Young internamente. ‘Você não é apenas uma visão que eu estou tendo enquanto sonho acordado? Você está realmente aqui? Você parece boa demais para ser real.’ ele continuou olhando para a garota, a qual percebeu e sorriu para ele, ele sorriu de volta. ‘Sim, você é real. Uma pessoa real, uma amiga real.’ Kyungsoo não poderia negar que So Young, de alguma maneira, trazia felicidade para ele. Ele gostava de ter So Young ao seu lado, ela poderia não dizer palavras nem mesmo fazer coisas, ela poderia apenas sorrir, seu sorriso fazia Kyungsoo ter vontade de sorrir também, sua voz soava como melodia para os ouvidos de Kyungsoo. Tudo em So Young era especial para Kyungsoo, mas agora, tudo em So Young fazia o coração de Kyungsoo acelerar, ele nunca havia sentido isso por alguém, a única mulher pela qual ele já sentiu o sentimento de amor fora sua mãe. Poderia ele estar amando So Young? So Young que, há tão pouco tempo, chegara em sua vida e a mudara completamente, fez com que Kyungsoo voltasse a sorrir, fez com que ele voltasse a se sentir bem, fez com que ele voltasse a viver. Kyungsoo era eternamente grato por aquilo, ele era eternamente grato por So Young, talvez pelo simples fato de ela existir, mas ele sentia uma gratidão gigante, ele pensou que todos aqueles sentimentos fossem se resumir apenas em gratidão. ‘Talvez tudo o que eu sinta por você seja apenas gratidão, tela vez seja isso.’ Kyungsoo pensou, ele não sabia qual era o sentimento de amar uma pessoa que não fosse seu parente, ele estava ficando confuso com aquela sensação.

Com So Young ainda segurando o seu braço, eles chegaram na casa de So Young e Kyungsoo nem mesmo percebeu, ele ainda estava totalmente desnorteado, perdido em seus pensamentos e sentimentos. Ele viu So Young olhar para frente, para sua própria casa, e a felicidade que ela estava sentindo pareceu se esvair por completo de seus olhos, ela soltou o braço de Kyungsoo e encarou a casa, não, ela estava encarando o carro na frente da casa.

- Meu pai está em casa.- ela disse tão baixo que Kyungsoo mal ouviu.- Meu pai está em casa.- ela repetiu.- Por que ele está em casa?- ela parecia realmente apavorada, Kyungsoo pôs as mãos nos ombros da garota e a puxou para perto, ele olhou diretamente para os olhos de So Young, os lindos olhos escuros de So Young.

- A promessa.- ele disse.- Você se lembra da promessa?- ele perguntou, So Young continuou olhando para o carro de seu pai, ela ainda estava sussurrando a mesma pergunta e agora estava prestes a chorar, Kyungsoo segurou seu rosto com as mãos.- So Young, volte por favor, eu estou aqui. Eu não vou deixar que nada de ruim aconteça com você.- So Young, finalmente, olhou para Kyungsoo, o qual retirou as mãos do rosto de So Young.

- Me desc...- ela disse e cobriu a boca com uma mão.- Aigoo, eu fiz de novo!- Kyungsoo sorriu ao ver ela fazendo aquilo.- E eu não vou me esquecer da nossa promessa, eu só me assustei por um momento, só isso.- ela disse e olhou para o carro mais uma vez.- Bem, eu tenho que entrar agora. Muito obrigada por cuidar de mim, Kyungsoo oppa. Eu achei muito bom passar o dia com você.- ela disse.

‘E eu simplesmente amei ter você ao meu lado durante um dia inteiro, apenas nós dois, rindo de coisas bobas e fazendo coisas que me deixaram muito feliz.’ Kyungsoo pensou em responder aquilo, mas logo depois pensou direito naquela resposta. ‘O que eu estou fazendo?’ ele se perguntou.

- Você não precisa agradecer por isso.- ele acabou respondendo, parecia mais adequado responder aquilo, e, de fato, era mesmo.- Vejo você amanhã?- ele perguntou, ele realmente queria ver So Young de novo, ele realmente queria fazer as coisas que ele fazia sozinho com So Young.

- Claro!- ela respondeu.- Vejo você amanhã!- ela disse e entrou em sua casa, Kyungsoo atravessou a rua e olhou por cima do ombro para a casa de So Young, ele entrou em sua casa depois. A casa estava sem ninguém, o que era ótimo, Kyungsoo foi para o seu quarto e se deitou na cama. Ele se lembrou da sensação de tocar no rosto de So Young, fora uma sensação muito boa, sua pele era macia. Ele também se lembrou de quando olhou para ela no momento em que ela parecia um cadáver, ele ficou com medo naquele momento, So Young não demonstrou nenhum sinal de vida, ela não parecia nem mesmo respirar. A primeira vez em que So Young chorou na sua frente, ele não tinha ideia do que fazer, ela parecia extremamente frágil naquele momento. O dia inteiro estava passando pela cabeça de Kyungsoo, a última coisa na qual ele pensou fora a risada de So Young.

‘O que você está fazendo comigo?’ ele se perguntou.

(...)

So Young estava com medo, mas ela não podia ficar com medo, então ela respirou fundo quando entrou em casa e viu seu pai sentado no sofá, ele não estava esboçando expressão alguma. So Young se posicionou atrás de seu pai e criou coragem para falar.

- Papai?- So Young disse.- Eu sei que você não gosta de ouvir minha voz quando chega do trabalho, mas eu queria lhe perguntar uma coisa.- seu pai não se moveu.

- O que foi?- ele perguntou, ele não tinha raiva em seu tom de voz, o que era muito bom pois o medo de So Young diminuiu drasticamente.

- Acho que você deve saber que meu aniversário está chegando.- So Young disse, seu aniversário era daqui a exatamente uma semana, e ela só tinha uma coisa em mente: ela queria ver sua mãe.- E eu gostaria de saber se você poderia me levar para ver a mamãe, esse seria o meu presente de aniversário.- seu pai não disse nada por um bom tempo.

- Quem é aquele garoto?- seu pai perguntou mudando de assunto, So Young não sabia o motivo pelo qual ele mudou de assunto, ela não sabia nem que seu pai havia visto Kyungsoo.

- Ele é meu amigo.- So Young disse.- Ele estuda na mesma escola que eu, somos da mesma classe.- So Young respondia a pergunta mas seu pai parecia não ouvir nada do que ela estava dizendo.

- Eu tenho que voltar para o trabalho mais tarde, eu vou pensar sobre levar você para a casa de sua mãe no seu aniversário.- ele disse, So Young se sentiu aliviada quando ele disse aquilo, era  primeira vez em que seu pai falava com ela e não gritava, não batia, e nem era rude, ele estava falando sem emoção alguma, mas era muito melhor ouvir ele falando daquele jeito.

- Muito obrigada papai.- So Young agradeceu.- Tenha um bom retorno ao trabalho.- ela saiu da sala e foi para seu quarto. Ela pensou em como queria ver sua mãe, ela sentia muita falta de quando tinha sua mãe por perto. Ela pensou também em algum modo de agradecer a Kyungsoo por tudo o que ele havia feito por ela, ela se sentia feliz por passar o dia inteiro com Kyungsoo. Ela pensou em como era bom ver o sorriso de Kyungsoo, como era bom ouvir sua risada, ele fazia as bochechas de So Young ficarem coradas com facilidade, ele fazia So Young sorrir com facilidade, ele provavelmente não sabia mas So Young gostava muito dele, mesmo que ele fosse solitário demais. So Young estava sorrindo quando entrou no quarto. Kyungsoo estava sorrindo enquanto pensava na risada de So Young.

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