Com os olhos fechados me deixo levar pela melodia da música e pela voz dos dois garotos, que se completavam a cada nota. A música é calma e, hipnotizada, balanço o corpo se um lado para o outro. Estou extasiada, suas vozes se misturam e me delicio ainda com os olhos fechados, até que algo me faz despertar do transe. Abro os olhos abruptamente, estou na floresta, à alguns metros do enorme lago que há ali. Os outros que estavam na roda ouvindo os dois adolescentes continuam indo em direção ao lago, todos com os olhos fechados. Me desespero e procuro por Laurie com os olhos. O que está havendo? Passo por entre as pessoas, tentando fazê-las abrir os olhos, mas elas não reajam. Corro por entre os sonâmbulos à procura de Laurie, até encontrá-la, também com os olhos fechados, hipnotizada. Falta pouco para ela entrar na água. A melodiosa voz dos dois garotos continuava a ser ouvida, mas já não me afetava. Corro até Laurie e a empurro para longe do lago, caímos no chão comigo por cima de seu corpo desacordado.__ Laurie, acorda __ digo, a chamando, quando vejo-na ainda com os olhos fechados. Ela não se move, é como se ela estivesse morta. Me desespero ainda mais, lagrimas já tomam meu rosto, escorrendo por minhas bochechas, sacudo seu corpo, a chamando cada vez mais alto.
__ Acorda, sua vadia, não me deixa __ grito, e no limite do desespero lhe dou um tapa no rosto, me assusto com o ato, mas no mesmo momento ela abre os olhos e, aliviada demais para me conter, a abraço como nunca antes. Ela parece atordoada demais para retribuir meu ato de afeto, mas não ligo, só quero ter certeza de que ela está aqui. Isso foi muito louco, não sei o que está havendo, mas peço que seja um pesadelo. A solto quando já estou mais calma e saio de cima dela. Ela se levanta, ficando sentada ao meu lado.
__ O que houve? __ pergunta, confusa. Aponto para as pessoas que continuam a caminhar em direção ao lago, e algumas que já entraram nele. Ela arregala os olhos, se levantando rapidamente, e eu faço o mesmo. Ela olha para mim, para eles, e depois para a lua cheia que despertava por detrás das nuvens, brilhante. Devia ser quase meia-noite. Ela hesitou antes de se virar para mim:
__ Vamos, você não pode ficar aqui __ disse, me puxando pelo pulso. Corremos para longe deles, e eu tentava pará-la, tínhamos que ajudar os outros, seja lá o que estivesse acontecendo com eles.
__ Para, Laurie, temos que voltar __ disse, puxando meu pulso, tentando me soltar de seu aperto.
__ Não, Anne, temos que ir. __ seu aperto em torno de meu pulso fica mais forte, com certeza ficará roxo depois, me assusto com sua atitude, Laurie nunca foi violenta.
__ Me solta, Laurie __ grito, já irritada com ela. Laurie para e me olha.
__ Desculpe, Anne, mas você precisa me ouvir__ disse, calma, com os olhinhos do gato de botas. Suspiro, novamente derrotada pelos olhinhos brilhantes. Ela sorri, aliviada, e voltamos a correr para algum lugar que desconheço.
Haviam poucas árvores ali, um grande espaço era iluminado pela luz da lua que ultrapassava os espaços entre as folhas das árvores. Laurie soltou minha mão e eu olhei para ela enquanto alisava meu pulso vermelho. Ela aponta para o meio do espaço iluminado, e eu entendo como um pedido para mim ir até lá, e assim faço, apesar de confusa. Olhei novamente para onde Laurie estava, mas só vi um espaço vazio. Olhei para todos os lados, a chamando e quando ia sair do meio daquele circulo uma grande onda de dor tomou meu corpo, parecia que cada membro do meu corpo estava sendo separados, nunca havia sentido tanta dor na minha vida, minhas pernas já não sustentavam o peso do meu corpo, parecia que estavam quebradas em pedaços e eu caio de joelhos, apoiando as mãos no chão.
Lagrimas rolam, grossas. Fecho os olhos com força, gritando com desespero, desgosto demasiadamente desse sentimento. A tortura dura pouco mais de dois minutos, e então eu estou anestesiada, não sinto nada. Abro os olhos ao pouco, e me assusta com a visão que tenho, um enorme lobo negro está parado na minha frente, arregalo os olhos e me levanto me afastando, ele só me olha, e eu não perco tempo, apenas corro com o extinto de me salvar. Não sabia que havia lobos aqui, será que foi por isso que mamãe me mandou ficar longe? Porque não me disse o motivo? Onde está Laurie?
Corro por entre as árvores, e olho para trás as vezes, tentando ver se o lobo está atrás de mim. Tropeço em uma das raízes de uma árvore e caio, instintivamente coloco as mãos no chão, tentando proteger meu rosto, me levanto para continuar, mas o lobo está na minha frente, caio novamente com o susto. Seus olhos são opacos, sem vida, é como se seus lindos olhos verde água misturado com um tom amarelado fossem de vidro. Ele tem mais de 4,0 metros de comprimento, disso tenho certeza, e poderia facilmente engolir minha cabeça. Mordo meu lábio inferior, nervosa. Ele se aproxima a passos lentos, e eu me afasto, até bater contra uma árvore. Porque sempre tem que ter um obstáculo?
__ P-por f-favor, não me m-machuca __ peço, com os olhos fechados. Sinto sua respiração quente em meu rosto, ele está muito perto, e eu me encolho cada vez mais contra a árvore. Ouço um tipo de rosnado vindo do lobo, quase uma risada, e sinto um arrepio correr por minha espinha.
__ Você parece ser deliciosa __ me assusto com a voz rouca, e abro os olhos, completamente confusa e assustada. Ele fala?! Não consigo me mexer, estou paralisada, e todo o sangue evaporou de meu corpo. __, mas posso apenas me divertir. __ seu tom era baixo, de desdém, e não sei se eu havia superado o fato de um lobo estar falando e eu o entendo ou se estava irritada o suficiente para não ligar para isso, mas eu me levantei, o fazendo se afastar um pouco, e o encarei com ódio.
__ Eu não sou um brinquedo para você se divertir __ digo, e me assusto com o rosnado que sai de minha garganta. Ele pernasse impassível, não se move, apenas me olha, superior. Minha raiva cresce ainda mais, mas algo chama minha atenção e me impede de o enfrentar novamente, ele parece perceber o mesmo que eu. Olhamos para a mesma direção, minha cabeça não estava doendo como da outra vez, o que me surpreendeu. Passos, alguém estava se aproximando, um cheiro forte invadiu minhas narinas, um cheiro estranho, mas que ao mesmo tempo eu conhecia, um alerta pareceu soar em minha mente. Olhei para o lobo, que parecia sentir o mesmo, seus olhos pareciam que fritariam quem passasse por seu caminho, então ele olhou para mim, que o olhava querendo respostas. Os passos ficavam cada vez mais próximos. Ele bufa, se aproximando de mim, mas dessa vez eu não me afasto.
__ Suba__ disse, em meio à um grunhido, como se não estivesse gostando daquilo, admito que após entender o que ele quis dizer eu também não gostei nada.
__ Eu não vou subir em você __ digo, mostrando no meu tom de voz o quanto acho aquilo um absurdo.
__ Suba__ diz, sem paciência, com uma voz ainda mais grossa. Me assusto, mas só subo em suas costas por causa do alerta de perigo que não para de apitar em minha cabeça. Seguro em seus pêlos que são incrivelmente macios, e mordo meu lábio inferior novamente. Me amaldiçoei por subir em cima dele no momento em que o mesmo começou a correr, me abaixo, apoiando minha cabeça em sua nuca e segurando mais firme em seus pêlos, tentando não cair enquanto ele corre tão rápido quanto o vento.
*Gente, o que acharam? Eu adorei escrever o capítulo, estava inspirada. Sereias apareceram, lobos falaram, a fantasia começou nesse capítulo, e a ação também. Votem e comentem! A aventura de Anne está apenas começando, e ah, bem-vindo(a) à alcateia!
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Meu Lobo Mau
WerewolfAnne sempre foi uma garota obediente e certinha, sua mãe sempre a mandou ficar longe da floresta e ela a obedecia. Até aquele dia. No seu aniversário de dezesseis anos a amiga consegue convencê-la à ir em uma festa, perto da floresta.